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Por: Letícia Queiroz e Ailton Borges

“Como LGBTQIA+ dentro de um território quilombola, sabemos que é um desafio buscar ferramentas e fazer ações para que outros e outras companheiras possam contribuir para o fortalecimento de políticas afirmativas para a nossa gente. Mas temos feito isso por nós, por nossos corpos”. 

O depoimento é de Adda Victória, mulher trans, quilombola da comunidade Conceição dos Caetanos, em Tururu, no Ceará. Ela é uma das lideranças do Coletivo LGBTQIA+ da Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) e atua junto à organização em ações e projetos de empoderamento, reconhecimento, luta e resistência da população LGBTQIA+. 

A luta é necessária em um país em que pessoas que não sejam heterossexuais são violentadas. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), só em 2023 o Brasil registrou 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+. Isso significa que a cada 34 horas uma pessoa LGBTQIA+ perdeu a vida de forma violenta no país.

No dia do Orgulho LGBTQIA+ a comemoração dá lugar a luta e resistência a toda forma de opressão, preconceito e tentativa de silenciamento. Além da luta pelo território quilombola, é preciso enfrentar ataques racistas, a violência e a desigualdade em diversos espaços. 

A ativista trans destaca a importância dos corpos LGBTQIA+ nos territórios quilombolas e a necessidade de somarmos forças na luta pela diversidade e políticas públicas. “Através da CONAQ e de toda essa articulação temos fortalecido ainda mais esse vínculo cultural, social e de empoderamento da população LGBTQIA+ quilombola do nosso Brasil”, disse Adda que é orgulho para seu quilombo, cidade e para a comunidade quilombola e LGBTQIA+”, disse Adda.

Um dos maiores desafios para a população LGBTQIA+ está no acesso à educação e ao mercado de trabalho. A grande maioria das pessoas trans trabalham informalmente. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), apenas 4% das pessoas trans possuem emprego formal.

Esta comunidade recebe menos oportunidades e por causa do preconceito na escola são desestimulados a concluir os estudos em todas as etapas de ensino.

A estudante de enfermagem Isadora Alexandre, mulher cis bissexual, é do quilombo de Alto Alegre, em Horizonte, no Ceará. A comunidade rural negra com mais de um século de existência também tenta avançar no acesso a políticas públicas básicas.

“Eu não vejo políticas públicas desenvolvidas para pessoas LGBTs quilombolas. Acho que é muito importante que nós tenhamos esses nossos direitos assegurados, para que tenhamos acesso à educação, à saúde, aos direitos humanos, às nossas necessidades básicas. Se não tem segurança, não tem como ter um acesso à educação. Ocorre uma evasão escolar porque a gente não tem segurança de estar na escola e conseguir permanecer nesses lugares por conta da violência”, afirmou Isadora. 

A jovem diz que a discussão sobre pautas da população LBGT+ ainda é sensível dentro de alguns quilombos.

“Às vezes a gente enfrenta dificuldades em debater essa temática tendo em vista que a maior parte da população é de religião evangélica e isso se torna um assunto delicado. Além disso, a maior parte é da terceira idade. Ainda é um ponto um tanto quanto delicado, mas as pessoas já se sentem mais confortáveis de serem elas mesmas e temos visto a juventude crescendo, se reafirmando e se entendendo. Considero um avanço”, afirmou a estudante. 

Mas ainda há muito o que conquistar dentro e fora dos quilombos.

Apesar dos avanços, como a alteração do nome e gênero no registro civil, o casamento homoafetivo e a criminalização da homofobia, para que haja mais mudanças significativas é necessário saber escolher os nossos representantes. Nas eleições é preciso votar em pessoas que defendam pautas que têm sido negligenciadas. A população quilombola e LGBTQIA+ precisa estar nos espaços de tomada de decisão. 

“Para os políticos, essa pauta não é tratada como prioridade. Muitas coisas estão à frente. É necessário que tenhamos representantes a nível municipal, estadual e federal. Saber escolher quem são os nossos governantes, imaginar políticas voltadas para a nossa população é essencial. Investir na base é um princípio básico para que a gente consiga realmente ter um futuro digno, confortável e sem violência”, disse Isadora.

O estudante de museologia Lucas Ribeiro é um jovem gay da Comunidade Quilombola Limoeiro, no Litoral Norte da Bahia, integra o Coletivo LGBTQIA+ da CONAQ e é membro do Movimento Negro Unificado (MNU) e do Movimento Nacional dos Estudantes Quilombolas (MONEQ).

Para ele, é diferente a forma de vivenciar a luta por território na perspectiva LGBTQIAPN+ e entre os desafios estão a visibilidade e a saúde mental e social dos indivíduos. “Para tanto a comunidade tem a responsabilidade e o dever de assegurar a vida e a integridade dos mesmos”. 

Ele afirma que quilombolas LGBTs precisam de políticas públicas. “Para garantia da nossa sobrevivência material, simbólicas e existencial no territorial e por consequência ser incluído no processo do fazer diário da comunidade, pois a mesma está em constante manutenção de sua existência. E por fim estabelecer metas e princípios capazes de gerar acolhimento e não evasão da comunidade”, afirmou.

O desejo de Lucas e das demais pessoas da comunidade LGBT+ é o mesmo: “Melhores condições de vida e existência e que não falte o desejo de luta e defesa da causa, por terra, território e existência como pessoas LGBT+ onde vivem”.

Isadora afirma que apesar das tentativas, quilombolas LGBTs não deixarão de lutar. “Nós somos resistência. Apesar da pouca visibilidade, a gente continua lutando pelos nossos direitos, para sermos ouvidos e ouvidas. Continuamos lutando pelos nossos futuros, para que os nossos ancestrais também sejam vistos e lembrados, para que a nossa história continue sendo escrita por nós e não pelos outros. Continuamos espalhando o amor’, disse.

Coletivo LGBTQIA+ da CONAQ

O Coletivo LGBTQIA+ da CONAQ surgiu há três anos com a finalidade de evidenciar a temática das comunidades quilombolas no Brasil e combater a homofobia, transfobia e todo tipo de violência contra a comunidade LBGTQIA+ dentro e fora dos territórios. O grupo  luta pela criação de novos direitos na busca de garantir o pleno acesso dessa população à cidadania. O Coletivo representa corpos LGBTQIA+ nos quilombos, enfrenta discussões sobre representatividade e fala sobre a importância de somar forças na luta pela diversidade e políticas públicas.