21 jun

Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas lança campanha por educação de qualidade; veja vídeo

Por: Letícia Queiroz

A Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas, projeto da Coordenação Nacional de Quilombos (CONAQ) apoiado pelo Fundo Malala, lança, nesta quarta-feira (21), uma campanha nacional por educação de qualidade para meninas quilombolas. A data escolhida para o lançamento é significativa, já que no dia 21 de junho é comemorado o Dia da Educação Sem Discriminação.

O principal eixo da campanha são os problemas na educação vividos por meninas quilombolas em todo o Brasil. É que no período escolar básico, a vida de meninas quilombolas é marcada por barreiras que dificultam seriamente a conclusão dos seus estudos. Se quiserem estudar até o final do Ensino Médio, são forçadas a deixar os seus quilombos.

O primeiro produto da campanha é um vídeo contendo reivindicações de estudantes que fazem parte do projeto. A primeira e única exibição presencial aconteceu em Brasília, em um momento conduzido por alunas da Escola Nacional no II Encontro Nacional de Mulheres Quilombolas da CONAQ, que aconteceu entre 14 a 18 de junho de 2023.

Assista ao vídeo clicando aqui –  Vídeo carta das Meninas Quilombolas por Educação  

Outras ações fazem parte da campanha nacional e serão divulgadas em breve. São elas:

  • Lançamento de livro com experiências das meninas no acesso à educação
  • Dados da realidade da educação quilombola
  • Reivindicações e ações específicas nos estados, começando com transporte nas regiões mais afetadas

O vídeo, primeiro produto da campanha, foi criado a partir de uma carta escrita por 39 alunas e 11 alunos que foram selecionados/as para a Escola Nacional. Em maio deste ano a carta foi entregue à ativista paquistanesa Malala Yousafzai durante uma roda de conversa com as meninas em Olinda (PE) e foi lido na presença do ministro da educação durante agenda no MEC 

No vídeo, estudantes denunciaram as dificuldades que enfrentam para estudar, descreveram situações vividas diariamente e expuseram as falhas do Estado brasileiro. As meninas afirmam que os problemas precisam ser resolvidos com urgência pelas secretarias estaduais, municipais, com apoio e atenção do Governo Federal.

Além de escreverem juntas o conteúdo do vídeo, meninas da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas participaram das gravações. As vozes presentes são de cinco jovens que representam estudantes quilombolas das cinco regiões do país. O vídeo também apresenta, com fotos, as 50 meninas e meninos matriculadas e matriculados na Escola.

Três jovens ainda trouxeram depoimentos sobre as dificuldades para estudar dentro das comunidades quilombolas e a necessidade de combater a precariedade e a negligência à educação escolar quilombola. 

Entre os pedidos apresentados pelas meninas quilombolas estão:

  • Educação escolar baseada nas Diretrizes Nacionais da Educação Quilombola;
  • Regularização dos nossos territórios e valorização do que nossas famílias produzem;
  • Transporte escolar para chegarmos à escola com dignidade e segurança;
  • Manutenção frequente nas estradas que utilizamos para chegar às escolas; Merenda escolar garantida e com qualidade;
  • Formação de nossas professoras e professores sobre a nossa realidade e os nossos saberes;
  •  Fim da precariedade das nossas escolas;
  •  Condições para estudarmos com dignidade.

Givânia Maria da Silva, coordenadora da Escola Nacional e integrante da Rede de Ativistas pelo Fundo Malala no Brasil falou sobre a importância da campanha. 

“A campanha Nacional é uma iniciativa da CONAQ, por meio do Coletivo Nacional de Educação da CONAQ, que visa, sobretudo, não só dar visibilidade às ações que estão sendo desenvolvidas, mas também denunciar as ausências que a educação continua imprimindo sobre nossas vidas e que têm prejudicado, de forma radical, a vida de meninas e meninos quilombolas. A gente vem denunciar que não há mais como a educação continue sendo efetivada sem o respeito e reconhecimento da existência de mais de 6 mil comunidades quilombolas em todo o Brasil. A campanha é um sinal de que nós estamos atentas e não vamos mais tolerar esse tipo de educação que invisibiliza e apague a memória do nosso povo”, disse Givânia.

A Escola Nacional

A Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas é uma iniciativa do Coletivo de Educação da CONAQ e é apoiada pelo Fundo Malala, que incentiva ações de educação com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas.

A Escola Nacional conta com 39 meninas e 11 meninos quilombolas de 21 estados de todas as regiões do país.

A formação é um espaço de estímulo e de luta para meninas e meninos que enfrentam defasagens e desigualdades na educação e sentem-se ainda longe de realizarem o sonho de entrar nas universidades. Nos encontros virtuais do projeto são discutidos temas sobre a história das comunidades quilombolas, necessidade de lutar por direito à educação, questões de gênero, raça e território, combate ao racismo, engajamento na luta política do movimento quilombola, entre outros.

A Escola tem contribuído para erguer a voz das meninas quilombolas em seus territórios e já tem alcançado exemplos de protagonismo de meninas quilombolas na defesa da educação quilombola, da cultura, dos valores e do território. 

Veja nesta reportagem algumas ações do ativismo das meninas – Conheça a luta das alunas da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas por ensino de qualidade.

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