30 maio

Em encontro com Malala e MEC, ativistas da Escola Nacional da CONAQ cobram educação de qualidade às autoridades brasileiras

Por: Letícia Queiroz

 

Débora Fernanda Mafra e Givânia Silva participaram de evento na última semana, em Brasília. Agenda com Malala contou com a participação de ativistas pela educação e de outros ministérios.

Uma aluna da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas, Débora Fernanda Mafra, cobrou, das autoridades brasileiras, compromisso com a Educação Quilombola. A agenda fez parte de visitas da ativista paquistanesa Malala Youzafzai ao Brasil. A estudante quilombola falou na presença de jovens, de ativistas pela educação e de outros ministérios.

Em seu discurso, Débora, que é do quilombo Bom Viver, em Mirinzal (MA), leu o trecho de uma carta escrita por 39 meninas e 11 meninos que fazem parte da Escola Nacional, projeto da CONAQ financiado pelo Fundo Malala.

Na carta as/os estudantes expõem as falhas dos Governos e cobram uma ensino de qualidade dentro dos territórios.

“Nosso principal anseio é que os nossos sonhos não sejam limitados pela educação que nos é concedida. Nós merecemos uma educação de qualidade. Nós temos direito. Hoje viemos tomar a palavra e aqui queremos um compromisso do Estado brasileiro para que tenhamos acesso à uma educação de qualidade. Não podemos nos contentar com o mínimo de tudo”.

A jovem pontuou algumas questões que prejudicam o acesso à educação nos quilombos e disse qual é a realidade que buscam.

“Nós, meninas quilombola, queremos uma educação escolar baseada nas Diretrizes Nacionais da Educação Quilombola; regularização dos nossos territórios e valorização do que nossas famílias produzem; transporte escolar para nos conduzir, com segurança, até nossas escolas; manutenção frequente das estradas que nos dão acesso à educação”, disse. 

A jovem continuou pontuando e citou a importância das escolas terem profissionais com currículo adequado. “Precisamos de merenda escolar garantida e com qualidade; formação de nossas professoras  e professores sobre a nossa realidade e nossos saberes enquanto quilombolas e o fim da precariedade das nossas escolas. Nós precisamos de condições para estudar com dignidade e respeito”, afirmou.

Após a fala, Débora Mafra entregou a carta ao ministro da Educação, Camilo Santana, à Malala, e às outras pessoas que compunham a mesa.

 

 

No evento, Givânia Silva, co-fundadora da CONAQ, coordenadora da Escola Nacional de Educação de Meninas Quilombolas e integrante da Rede de Ativistas pelo Fundo Malala no Brasil sentou ao lado de Malala e ouviu as falas das meninas.

Ela reforçou o pedido de atenção aos pontos apresentados por Débora e falou sobre a precariedade na educação quilombola.

“Não há educação para os povos originários e quilombolas sem o território. O nosso território também é um espaço de educação. São as escolas quilombolas, segundo o senso, as que menos têm conectividade, as que menos tem sala de leitura, as que menos tem biblioteca, quadras de esporte. Dos quase 6 mil quilombos do Brasil, apenas 2% têm Ensino Médio”, disse Givânia.

A ativista também falou sobre a necessidade de ter disciplinas voltadas às comunidades quilombolas nas universidades.

“Eu quero falar do silêncio que é imposto à história dos quilombos e dos povos indígenas nos espaços de formação. Das 63 licenciaturas do campo, apenas uma tem uma disciplina optativa sobre os quilombos. As demais não falam sobre os quilombos e isso é apagamento da história. Das universidades federais, dos cinco estados com maior número de comunidades quilombolas:, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco e Pará, em três cursos, geografia, história e pedagogia, nenhum fala das comunidades quilombolas. Não podemos mais esperar, temos que ter uma reforma desses currículos e estimular para que os estados não continuem silenciando e matando a história do nosso povo”, disse Givânia.

 

A ESCOLA NACIONAL

A Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas é uma iniciativa do Coletivo de Educação da CONAQ e é apoiada pelo Fundo Malala, que incentiva ações de educação com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas.

A Escola Nacional conta com 39 meninas e 11 meninos quilombolas de todas as regiões do país em 21 estados.

A formação é um espaço de estímulo e de luta para meninas e meninos que enfrentam defasagens e desigualdades na educação e sentem-se ainda longe de realizarem o sonho de entrar nas universidades. Nos encontros virtuais do projeto são discutidos temas sobre a história das comunidades quilombolas, necessidade de lutar por direito à educação, questões de gênero, raça e território, combate ao racismo, engajamento na luta política do movimento quilombola, entre outros.

Antes do fim da formação é possível notar o protagonismo de meninas quilombolas na defesa da educação quilombola, da cultura, dos valores e do território.

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