25 maio

Malala conversa com meninas quilombolas da Escola Nacional da CONAQ durante visita ao Brasil

Na roda de conversa com a ativista mundialmente conhecida por lutar pela educação de meninas, as jovens quilombolas puderam explicar a realidade de precariedade e negligência da educação nos quilombos e mostraram a força e a motivação que têm para lutar por uma educação de qualidade para todas as meninas quilombolas.

Por: Letícia Queiroz 


Alunas da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas, projeto da Coordenação Nacional de Quilombos (CONAQ), tiveram um encontro com Malala
, nesta semana em Olinda, Pernambuco. A ativista conhecida mundialmente reuniu-se com meninas que integram projetos que compõem a Rede Malala no Brasil. As jovens da Escola Nacional participaram do encontro e puderam conversar com Malala sobre as dificuldades para estudar dentro das comunidades quilombolas e da necessidade de combater a precariedade e a negligência à educação escolar quilombola.

Durante o encontro, Malala ouviu relatos das estudantes. Na roda de conversa, as cinco meninas que representaram as 39 alunas da Escola Nacional, falaram sobre as dificuldades para estudar, denunciaram situações vividas e expuseram as falhas do Estado brasileiro. Elas disseram que os problemas precisam ser resolvidos com urgência pelas secretarias estaduais, municipais e federais e entregaram à Malala uma carta expondo a educação que é oferecida e a educação que elas gostariam de ter.

Leia abaixo a carta na íntegra

Malala veio ao Brasil e têm cumprido agendas relacionadas à educação em diferentes estados. A presença de Malala no país é um forte apoio para a luta das meninas quilombolas que batalham pelo direito à educação de qualidade sem precisar deixar os territórios. A ativista paquistanesa fortalece as jovens quilombolas a acreditarem que podem ter suas vozes ouvidas, verdadeiramente, pelas autoridades brasileiras. 

No primeiro momento, as meninas se apresentaram à Malala. A jovem Juliany da Silva, quilombola do quilombo Trigueiros, em Vicência (PE), apresentou as principais barreiras, como falta de merenda e de transporte escolar, falta de manutenção nas estradas que levam à escola, falta de infraestrurura e de acesso à internet, deficiências no currículo e na formação de professoras e professores. “Temos uma lei há 11  anos que obriga o Estado a garantir que a educação nas comunidades quilombolas seja uma educação quilombola, mas ela não é cumprida. Esperamos que seja”, disse ao se referir à Lei 10.639, que obriga a presença da temática “história e cultura    afro-brasileira e africana” no currículo da rede de ensino.

A estudante Gabriellem Lohanny da Conceição, da comunidade quilombola de Boa Vista, em Salvaterra (PA), falou à Malala que após começar a fazer parte da Escola Nacional, apoiada pelo Fundo Malala, teve coragem de denunciar os graves problemas de precariedade da sua escola. Ela explicou como a realidade começou a mudar depois que utilizou as redes sociais para protestar.

“Eu postei no facebook sobre a situação […] O secretário de educação local foi à minha escola e conseguimos resolver vários problemas, como falta de água e falta de merenda. Agora estamos com um projeto na minha escola de ter um abastecimento de água própria. Espero que esse projeto se realize e será mais uma conquista para nós”, disse a estudante.

Malala a ouviu atentamente e depois conversou mais com Gabriellem. Ela fez perguntas sobre os sonhos que tem para meninas quilombolas. Gabriellem, como todas as meninas quilombolas da Escola Nacional, sonham com um futuro em que as jovens tenham pleno acesso à uma educação escolar diferenciada dentro do quilombo e que não sejam obrigadas a sair do território para concluir os estudos.

Também participaram do encontro outras organizações e projetos com ativistas que integram a Rede de Ativistas pelo Fundo Malala no Brasil.

Givânia Maria da Silva, coordenadora da Escola Nacional e integrante da Rede de Ativistas pelo Fundo Malala no Brasil acompanhou a agenda ao lado das meninas e fez o encerramento do encontro. 

“É muito importante para nós receber uma renomada ativista internacional que se dedica a fortalecer a educação, incluindo a educação quilombola. Eu agradeço profundamente por Malala se dedicar tão verdadeiramente a fortalecer as vozes mais silenciadas. As meninas quilombolas precisam ser escutadas pelos governos. São as meninas quilombolas que estão nas escolas que conhecem o verdadeiro estado da educação no país. Se suas demandas forem escutadas, elas podem transformar nosso país num lugar melhor para todas, todos e todes. Vamos continuar lutando por uma educação de qualidade para todas elas”, disse Givânia.

Malala Yousafzai é paquistanesa e é conhecida mundialmente por ser o símbolo da luta pelo direito à educação das meninas, sobrevivendo da violência extremista do Talibã. Ela foi a pessoa mais jovem a vencer o Prêmio Nobel da Paz.

 

A Escola Nacional

 

A Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas é uma iniciativa do Coletivo de Educação da CONAQ e é apoiado pelo Fundo Malala, que incentiva ações de educação com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas.

A Escola Nacional conta com 39 meninas e 11 meninos quilombolas de todas as regiões do país em 21 estados.

A formação é um espaço de estímulo e de luta para meninas e meninos que enfrentam defasagens e desigualdades na educação e sentem-se ainda longe de realizarem o sonho de entrar nas universidades. Nos encontros virtuais do projeto são discutidos temas sobre a história das comunidades quilombolas, necessidade de lutar por direito à educação, questões de gênero, raça e território, combate ao racismo, engajamento na luta política do movimento quilombola, entre outros.

A Escola tem contribuído para erguer a voz das meninas quilombolas em seus territórios e já tem alcançado exemplos de protagonismo de meninas quilombolas na defesa da educação quilombola, da cultura, dos valores e do território. 

 

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