Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPI oferta cotas para indígenas, quilombolas e quebradeiras de coco babaçu.

 

Créditos: Universidade Federal do Piauí (www.ufpi.br)

O Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Piauí (PPGANT/UFPI) destina, desde 2018, cotas para indígenas, quilombolas e quebradeiras de coco babaçu no processo de seleção do mestrado. A ideia surgiu após verificarem que a dificuldade de acesso destas coletividades ao ensino superior se acentua ainda mais no nível da pós-graduação. Considerando esta realidade, as cotas foram instituídas como uma ação afirmativa que visa promover a diversidade étnica por meio da inclusão de pessoas que são vítimas de discriminação étnica, preconceito e exclusão social.

Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPI, Carmen Lúcia Silva Lima. Foto: Arquivo SCS/UFPI

A coordenadora do Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPI, Carmen Lúcia Silva Lima, conta sobre a importância social da inclusão das vagas: “A Antropologia se constituiu predominantemente através de estudos com povos e comunidades tradicionais. A diversidade comunicada na nossa produção acadêmica é invisibilizada na composição identitária da comunidade ufpiana. Como forma de combater esse problema e promover uma educação socialmente comprometida, o nosso colegiado resolveu priorizar o compromisso com a diversidade étnica. Pensando nisso, a gente resolveu criar novas cotas além das cotas que já são determinadas por lei pelo governo’’, completa.

A aluna no Mestrado em Antropologia, Aline Alencar, é uma das três cotistas aprovadas no último processo seletivo. Membro de uma comunidade tradicional reconhecida pelo Estado Brasileiro: “As quebradeiras de Coco Babaçu”, ela nos conta sobre o impacto que a oferta de cotas oferece no âmbito profissional. “É um momento muito especial, é a primeira vez que nós entramos em um curso de mestrado, graças às cotas nós podemos dizer que estamos no curso de mestrado da Universidade Federal do Piauí. É, com certeza, uma oportunidade de buscar mais conhecimento acadêmico alinhado ao conhecimento tradicional’’, afirma.

Ainda de acordo com a professora Carmen Lúcia, o processo seletivo se difere do tradicional e conta com apresentação de um memorial. “O processo seletivo de indígenas, quilombolas e quebradeiras de coco é diferenciado. A prova teórica é substituída por um memorial, nele a pessoa fala de pertencimento étnico, narra sua trajetória e expõe as motivações para fazer o mestrado em Antropologia. Como as contas étnicas são de natureza coletiva, é exigida uma declaração assinada por lideranças comunitárias que atestam o pertencimento’’, explica.

Aula Inaugural com participação de quebradeiras de coco babaçu

Quebradeiras de coco participam de Aula Inaugural do semestre 2024.1

O PPG em Antropologia realizou na segunda feira, dia 18, aula inaugural do semestre 2024.1 com o tema “Conhecimento Tradicional em defesa da Floresta de Babaçu”, sendo ministrada por Francisca Rodrigues dos Santos – Chica Lera, uma das principais lideranças do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), reconhecida nacionalmente. Na ocasião, estavam presentes três quebradeiras aprovadas no processo seletivo do mestrado com previsão de início neste semestre.

Na oportunidade, a professora Carmen Lúcia comenta sobre o momento da participação das quebradeiras na palestra. “Foi emocionante! As quebradeiras de coco vieram de municípios como São João do Arraial e Esperantina em uma van. Durante a aula inaugural disseram que estavam entregando à UFPI as três que passaram na seleção. Falaram da importância de ocupar esse espaço acadêmico e pediram que Aline, Sandra e Regina lembrem sempre de sua identidade, do lugar de onde vieram e o motivo de estarem na universidade. Alertaram sobre a necessidade de adquirir o conhecimento científico pensando sempre em levar estes saberes para a comunidade de origem. Elas tiveram a delicadeza de trazer produtos e alimentos do babaçu para que as pessoas presentes pudessem degustar a culinária tradicional’’, pontua.

Até o momento, quatro estudantes ingressaram no mestrado através das cotas étnicas: um indígena Tabajara de Piripiri e as três quebradeiras de coco mencionadas.

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