Marielle Franco? Presente! Presente!  Por Givânia Maria da Silva

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Desde ontem tento entender o que ocorreu no Rio de Janeiro com Marielle Franco e não consigo. Como ela, tive uma passagem pelo parlamento municipal, e claro, eu Salgueiro Pernambuco, pelo Partido dos trabalhadores, e ela no Rio de Janeiro pelo PSOL.
O que nos aproxima tanto? Marielle Franco mulher negra moradora e defensora de comunidades pobres do Rio de Janeiro, majoritariamente negras que por problemas fundiários nunca discutidos e muitos menos resolvidos, são levados à condição Favelas. Eu, mulher negra de um um quilombo, símbolo da resistência negras e que se forja como liderança na luta em defesa do território, Conceição das Crioulas e posteriormente dos territórios quilombolas do Brasil.
Mas, o que talvez nos seja mais comum é a defesa intransigente de nosso povo, estejamos onde estivermos. Esse lugar chamado parlamento, poucas de nós mulheres negras ocupamos até hoje e quando ocupamos ou somos obrigadas a abrir mão dele ou somos executadas como Marielle foi.
Não executaram Marielle, apenas. Executaram Marielle uma mulher negra, vereadora de esquerda e intelectual negra como forma de afirmar que o lugar da mulher negra não é na política. Com ela pensam ter enterrado muitas de nós mulheres negras, militantes e partidárias e não vão conseguir, vamos continuar lutando.
Só quem sabe o peso de enfrentar os poderosos casados com o machismo e o racismo nos parlamentos brasileiros são aquelas que, em alguma instância colocam suas vidas à prova. Umas saem machucadas e sobrevivem. Outras não. Estão tentando calar nossas vozes para não denunciarmos que existe uma ordem para matar jovens e mulheres negras no Brasil.
Têm dúvidas do que estou dizendo? Olhem os dados. E saibam que esses dados nem são produzidos por nós e sim pelo Estado Brasileiro, esse mesmo Estado que mata. Por isso, nós mulheres quilombolas nos solidarizamos com seus familiares e com todas as mulheres, negros, jovens, com o seu partido PSOL e com todos e todas que por Marielle eram ouvidos e exigimos que os culpados sejam punidos, fazendo com que o mundo conheça esses rostos assassinos, sem permitir que o racismo institucional apague de nossas memórias esse crime e deixe impune mais uma vez. Esse é o cotidiano dos negros e negras em nosso país.
Quem nos mata é o racismo numa aliança infalível com machismo. O que difere são as formas e contextos.
Marielle Franco? Presente! Presente! 
Por Givânia Maria da Silva, educadora quilombola, membro da CONAQ e doutoranda em sociologia da UnB.
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