06 nov

Iniciativas literárias promovem autoras negras

RIO — A iniciativa começou como uma livraria itinerante focada em literatura com protagonismo negro. A socióloga Luciana Bento, de 33 anos, ao lado do marido, o historiador Leonardo Bento, 38, levava uma banca com livros escritos por autores negros a eventos literários. Logo perceberam que muitas pessoas pediam indicações de obras ou escritores novos. Hoje, eles têm um canal no YouTube e um perfil no Instagram com o mesmo nome: “Quilombo literário”. Assim como o investimento do casal, estão se popularizando rodas de debates com leitores e escritores, clubes de leitura e feiras onde as autoras negras são as grandes protagonistas.

— Aumentou bastante a busca pelos clubes de leitura, porque as pessoas querem conhecer novas autoras. Elas têm a Djamila Ribeiro (autora de “Quem tem medo do feminismo negro?”) e a Conceição Evaristo (autora de “Ponciá vicêncio”) como porta de entrada, mas querem conhecer gente nova, escritoras de fora e brasileiras que publicam de forma independente — conta Lu, como prefere ser chamada, lembrando que a ideia surgiu em 2014 e, desde então, tem muito mais gente falando sobre isso.

Ela aponta que há um aumento, inclusive, no número de autoras negras, que antes se autopublicavam, migrando para grandes editoras. A curiosidade das leitoras cresce junto:

— Começa com nomes internacionais, como Chimamanda Ngozi Adichie (de “Sejamos todos feministas”) ou Alice Walker (de “A cor púrpura”). Depois passa por Djamila e Conceição, daí se desperta curiosidade pelo que mais pode ter.

‘LEIA MULHERES’

No mesmo formato dos eventos do “Quilombo literário”, a livraria virtual “Africanidades” circula pela cidade de São Paulo organizando encontros de lançamentos de livros escritos por mulheres negras. E, na Bahia, o “Lendo mulheres negras”, iniciativa das estudantes do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, de Salvador, reúne leitores uma vez ao mês para conversar sobre uma autora específica.

Glory Edim, ao microfone, no clube literário “Well-read black girl”, no Brooklyn: iniciativa começou como uma conta no Instagram e já gerou até festival Foto: AN RONG XU/NYT/28-4-2018

Glory Edim, ao microfone, no clube literário “Well-read black girl”, no Brooklyn: iniciativa começou como uma conta no Instagram e já gerou até festival Foto: AN RONG XU/NYT/28-4-2018

Há também clubes de leitura que não são especializados em autoras negras, mas que estão dando maior divulgação a seu trabalho. É o caso do “Leia mulheres Nova Iguaçu”, que neste mês está dando ênfase ao trabalho da autora Lu Ain Zaila. A escritora, que antes publicava textos técnicos sobre direitos humanos e discriminação, conta que percebeu em 2015, durante uma visita à Bienal do Rio, que não havia escritoras negras especializadas em literatura de ficção e fantasia.

— Quando notei que não havia ninguém fazendo isso, resolvi eu mesma fazer. Peguei um texto que eu já tinha começado e reestruturei. Houve um aumento de saraus e clubes de leitura na Baixada nos últimos três anos. É onde eu encontro muito mais autoras negras de trânsito independente — conta Lu Ain Zaila, completando que as autoras estão hoje mais organizadas, promovendo iniciativas que ajudam a alcançar novos leitores.

*Matéria original publicada no site do Jornal O Globo em 03 de novembro de 2018.

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