17 dez

Em um ano e meio, Conaq e ISA mapeiam contágio e óbitos de quilombolas por Covid-19

Por Jéssica Albuquerque 

Com a pandemia apresentando sinais de regressão, após mais de um ano e meio, o monitoramento da Covid-19 nos quilombos está sendo finalizado. A fim de ratificar e denunciar a vulnerabilidade existente nos quilombos, a CONAQ em parceria com Instituto Socioombiental (ISA), passou a monitorar dados referentes à Covid-19 nos territórios, tendo o apoio das lideranças locais.

“Esse monitoramento foi importante para evidenciar a situação da saúde das comunidades quilombolas, uma vez que não há nenhum tipo de sistema específico de saúde para os mesmos. Portanto ficou evidenciado que a própria ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 742, foi apontando que o Estado brasileiro implementasse ações específicas de atendimento dessa população”, pontua Milene Maia.

Esse acompanhamento evidenciou lacunas já existentes no mundo no que tange às desigualdades, à exclusão, o descaso, o racismo (institucional, estrutural), às invisibilidades, onde os quilombos são vítimas de uma violência perpetuada pela sociedade.

Advindo de um sistema exclusivamente seletivo e desestruturado, os quilombos sofrem devido à falta de assistência à saúde, à escassez de água, falta de alimentação básica e a pandemia beneficiou-se de tais deficiências, fomentando uma calamidade há anos enfrentada pelos quilombolas.

“Sabíamos das dificuldades das comunidades de estar repassando as informações, foi um processo lento, algumas lideranças precisavam se deslocar até a cidade para dar um retorno. Mas foi importante fazer esse levantamento de dados, para acompanharmos como nosso povo enfrentou a Covid-19, quantos foram à óbito, quantos foram infectados”, salienta Andreia dos Santos, mobilizadora da região Nordeste.

Apesar dos impasses, instabilidade ou falta de acesso à internet ou rede móvel, o monitoramento registrou: 1.492 casos monitorados, 5.660 casos confirmados e 310 óbitos de quilombolas.

 

Esse recorte feito à população quilombola, também serviu de embasamento para apontar outras problemáticas, estas agravadas neste período de pandemia, ademais destacada por Milene: “Outra vulnerabilidade apontada nesse período, foi a fragilidade de boa parte das comunidades em relação à segurança alimentar, uma vez que em decorrência da Covid-19, as vendas e o acesso aos alimentos pararam, além da perda de emprego”, avalia.

Além disso, o processo de vacinação dos quilombolas contra a Covid-19, não se isentou dessa conjuntura racista e excludente, na qual a Conaq exerceu um papel crucial quanto à garantia a prioridade de imunização dos quilombos, através da ADPF 742.

Representante do Instituto Socioambiental nesse monitoramento, Selma Gomes relata sua experiência durante esse trabalho coletivo:

“Estar semanalmente com as quilombolas e os quilombolas que fizeram todo esse levantamento me fortaleceu, me trouxe muitos aprendizados, advindos com as trocas de experiências, muitas vezes dolorosas, mas também vitoriosas de um povo que há muito resiste e luta por seus direitos e principalmente pela titulação de seus territórios”.

Diante disso é notório que a luta dos povos quilombolas, apoiados pela Conaq é incessante e indiscutível em quaisquer âmbitos sejam eles sociais ou raciais, onde a seguridade aos nossos direitos dependem exclusivamente de cobranças, devido à um sistema falho alimentado pela “supremacia” que não conhece a vivência, as dificuldades, o ser quilombola.

 

 

 

 

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