24 fev

Em reunião com secretário, estudante exige melhorias na educação quilombola do Piauí: “Queremos ser identificados no censo escolar e segurança nos transportes”

Por: Letícia Queiroz

Mariana de Jesus tem 15 anos, estuda o 1º ano do Ensino Médio e é aluna da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas, projeto da CONAQ com apoio do Fundo Malala. Ela representou estudantes quilombolas da rede estadual e expôs dificuldades para permanecer na escola.

Mariana de Jesus tem 15 anos e participou de reunião com secretário de educação do Piauí – Foto: Letícia Santos

A educação para quilombolas foi tema de reunião com o secretário de educação do Governo do Piauí, Washington Bandeira, na Quinta-feira(16). A jovem Mariana de Jesus, da comunidade quilombola Caraíbas, representou estudantes quilombolas da rede estadual do Piauí, e pontuou dificuldades no aprendizado. Ela exigiu das autoridades melhorias, principalmente no transporte escolar.

A jovem tem 15 anos  é aluna da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas, projeto da Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), com apoio do Fundo Malala. O objetivo do projeto é criar um espaço de estímulo e de luta para meninas e meninos que enfrentam defasagens e desigualdades na educação e contribuir para o protagonismo na defesa de direitos.

Mariana cursa o 1º ano do Ensino Médio na Escola Professor Luiz Ubiraci de Carvalho, onde há vários estudantes quilombolas matriculados. Como na maioria dos casos, ela explica que a unidade escolar fica longe do quilombo. Por causa das dificuldades enfrentadas diariamente ela resolveu estar presente no encontro.

Ao secretário e às lideranças ela repassou o pedido dos outros alunos e alunas que se arriscam para ter acesso à educação.

“Nós, estudantes quilombolas, queremos ser identificados no censo escolar e queremos também segurança nos transportes que nos levam para estudar na cidade”, disse.

No Piauí há mais de 200 comunidades quilombolas e nos dados do censo não há identificação de estudantes quilombolas da na rede estadual.

Estudante quilombola cobra melhorias na educação no Piauí – Foto: Leticia Santos

Além do secretário da SEDUC, o Núcleo de Educação Escolar Indígena e Quilombola da Secretaria de Estado da Educação (NEEIQ) ouviu estudantes e representantes de comunidades quilombolas e indígenas, além de gestores estaduais e municipais de educação dos municípios de Paulistana, Paquetá do Piauí, Campinas do Piauí, São João do Piauí, Piripiri e São Miguel do Tapuio.

A jovem Mariana explica que o ônibus escolar que transporta estudantes está em situação precária. “O que precisa melhorar nos transportes escolares é a segurança, a falta de conforto, a limpeza. Precisamos de ônibus novos”.

Educadores e educadoras da região também reivindicam demandas relacionadas à formação profissional. As comunidades buscam melhorias na oferta e cumprimento das diretrizes educacionais para as relações étnico raciais da história e cultura afro-brasileira, conforme a Lei 10.639 de 2003.

CONAQ participou de reunião sobre educação quilombola no Piauí – Foto: Leticia Santos

A falta de conteúdo no currículo escolar sobre a história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e os negros e negras na formação da sociedade nacional, entre outros assuntos, também é alvo de reclamação de estudantes.

“Todos os anos que estudei nunca nenhum professor falou sobre a história dos quilombolas. Só no final do ano, no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, é que falam alguma coisa e isso eu acho injusto. Porquê só falam das histórias dos europeus e nunca dos quilombolas?”reclamou a aluna Mariana de Jesus.

Cleane Silva, da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí(CECOQ), acompanhou Mariana a agenda. Ela explica que as reivindicações são legítimas e que estudantes quilombolas precisam de uma educação de qualidade.

“Somente em maio de 2022 o Piauí iniciou o debate sobre implementação da educação escolar quilombola. Nessa agenda a CECOQ  reivindicou que fosse criada a diretoria de educação indígena e quilombola para acelerar a execução dessa pauta”, explicou.

Cleane Silva representou a CECOQ no encontro sobre educação quilombola – Foto: Leticia Santos

Cleane, que também representa a Escola Nacional de Formação de Comunidades Quilombolas, explica que no projeto a jovem Mariana participa de encontros semanais com a presença de fortes lideranças que já é possível perceber a formação de novas ativistas por todo o Brasil. O objetivo da formação é fortalecer a identidade das adolescentes sobre questões que são ignoradas pelo currículo formal das escolas.

“Mariana representou estudantes quilombolas da rede estadual de ensino que enfrentam vários desafios para permanecer na escola, entre eles a invisibilidade nos dados oficiais (censo escolar). É fundamental que estudantes participem desses momentos, afinal são elas que vivenciam e devem sempre ser ouvidas”, disse Cleane.

Ao fim da reunião, o secretário de educação Washington Bandeira assumiu o compromisso de cobrar técnicos e diretores sobre o enfrentamento do racismo com o correto preenchimento do censo em 2023.

No que compete à Educação, fortaleceremos essas pautas por meio da implantação de escolas indígenas, quilombolas, adequação das diretrizes curriculares, formação de professores e gestores, acesso ao ensino técnico e profissional, alfabetização e Educação de Jovens e Adultos, além de inclusão digital”, disse o secretário em matéria publicada no site do Governo do Piauí.

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