27 mar

Dois Institutos Federais anunciados por Lula atenderão comunidades quilombolas

Por: Letícia Queiroz

O Governo Federal anunciou a criação de 100 novos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) que abrirão novas vagas em cursos espalhados pelo Brasil. Pela primeira vez na história, duas unidades foram pensadas para atender a população quilombola em diferentes regiões. É o caso do IFGO de Cavalcante (GO), cidade que tem a maioria da população quilombola, e o IF de Minas Novas (MG) no Vale do Jequitinhonha, que nasce com uma proposta que considera e respeita os saberes tradicionais, as práticas produtivas, culturais e educacionais dos povos e comunidades tradicionais.

Em MG, o IF receberá o nome de Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) – câmpus Quilombo. A novidade foi recebida com alegria pelas comunidades da região e pelo Coletivo de Educação da CONAQ – que atua na busca por uma educação de qualidade e para o cumprimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola – . O grupo espera que a iniciativa reduza os desafios que quilombolas enfrentam no acesso à educação.

Rosária Ribeiro da Rocha Costa, que é da comunidade Quilombola do Córrego do Rocha, município de Chapada do Norte (MG), faz parte da Comissão das Comunidades Quilombolas do Vale Jequitinhonha, afirmou que a unidade vai beneficiar não só os estudantes quilombolas, mas todo o estado.

“Temos outros institutos, mas que não fazem um trabalho voltado às comunidades. Por isso há casos de alunos que saem de escolas quilombolas e quando chegam nos institutos federais se deparam com uma realidade totalmente diferente do convívio deles. Por isso muitos acabam desistindo”, disse.

A ausência de políticas públicas efetivas no Vale do Jequitinhonha se agrava quando se trata da garantia dos direitos de povos e comunidades tradicionais. A região de Minas Novas abriga uma das maiores concentrações de comunidades quilombolas de Minas Gerais, mas não existem instituições que valorizem a singularidade do modo de vida quilombola.

Integrante do Coletivo de Educação da CONAQ, Rosária afirma que as comunidades da região estão com grande expectativa para o início das atividades. “Vai ser um campus diferenciado sim, que não vai deixar de trabalhar as disciplinas comuns para as outras unidades. Queremos um Instituto Federal quilombola que atenda nosso povo para que os estudantes não saiam da rotina das comunidades”, afirmou Rosária.

Ela explicou que o projeto foi criado pelo povo quilombola para o povo quilombola e que as primeiras discussões começaram há cerca de seis anos. Durante o governo Bolsonaro o projeto ficou parado. “A iniciativa do Campus quilombo começou com o mapeamento das comunidades quilombolas. Isso foi feito pela COQUIVALE, juntamente com o Instituto Federal. Depois que fizemos esse mapeamento realizamos reuniões. O mapeamento foi no ano de 2018 e agora, no final de 2023 e início de 2024 é que estamos conseguindo tirar do papel”, disse Rosária.

Para Givânia Silva, co-fundadora da CONAQ, coordenadora do Coletivo de Educação da CONAQ, doutora em sociologia e ativista por educação de qualidade para quilombolas, os Institutos Federais fazem parte de políticas importantes implementadas nos governos do PT e que merecem inovações.

 “É importante ter IFs vocacionados para determinadas regiões. O do Vale do Jequitinhonha tem objetivo de atender uma das maiores concentrações de quilombos de Minas Gerais. É uma oportunidade de superarmos os desafios que quilombolas enfrentam, que é o acesso à educação. Por outro lado, também é um espaço importante para pensarmos a Educação Escolar Quilombola, que vai completar 12 anos sem a sua materialização”, afirmou Givânia.

A liderança entende que entre as prioridades para os dois Institutos está fazer das Diretrizes da Educação Escolar Quilombola as suas matrizes curriculares.

“Os dois IFs foram feitos com foco na educação quilombola. Em Minas Novas e também como o IF de Cavalcante (GO), que é um dos três municípios abarcados pelo povo Kalunga. Tenho certeza que esse Instituto, foi pensando na população Kalunga, que é a maioria da população. Isso é fruto da luta do movimento e da compreensão do Governo Federal de que esse público é importante e precisa ser valorizado e fortalecido com o acesso às políticas públicas”, finalizou Givânia.

Novos campus de Institutos Federais

O governo federal anunciou a criação de 100 novos campus dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) no último dia 12 de março. O anúncio ocorreu no Palácio do Planalto, em cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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