22 mar

Dia Mundial da Água: quilombos que promovem conscientização enfrentam escassez

Por: Mylena Pereira

No Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, é crucial refletirmos sobre os desafios enfrentados no acesso à água potável em diversas partes do mundo, incluindo escolas e comunidades quilombolas. Esta data serve como um lembrete da importância da água para a vida humana, a saúde, o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Ao abordar a escassez de água nas escolas e nos quilombos, reconhecemos a interseção entre acesso à educação de qualidade, saúde e direitos humanos básicos, reforçando a importância de soluções inclusivas e integradas para enfrentar esse desafio global.

A falta de água nas escolas é um problema que afeta muitas instituições de ensino em todo o mundo. Essa escassez pode ser causada por infraestrutura inadequada, falta de investimento em sistemas de abastecimento ou interrupções no fornecimento público. A ausência de água potável nas escolas compromete a saúde dos estudantes e a qualidade do ambiente escolar. Além disso, dificulta a implementação de práticas adequadas de higiene, como a lavagem das mãos, que são essenciais para prevenir doenças infecciosas. Para resolver esse problema, são necessários investimentos em infraestrutura hídrica, políticas públicas voltadas para a garantia de acesso à água nas escolas e conscientização sobre a sua importância para a saúde e o bem-estar dos alunos.

Márcia Adriana, professora em uma Comunidade Quilombola em Salinas PI explica que a água oferecida na comunidade não é de boa qualidade e que foi necessário um novo poço para atender melhor os estudantes nas escolas.

“A escola da Comunidade Quilombola Salinas possui acesso regular a água potável através de um poço nas proximidades, que oferece uma qualidade melhor do que os poços dentro da comunidade, os quais têm alta concentração de sal. A manutenção do sistema de água inclui limpeza semanal do bebedouro elétrico e higienização das caixas d’água, garantindo um mínimo de padrão de qualidade para o consumo tanto dos alunos como da comunidade em geral”.

A professora falou sobre que trabalha a educação sustentável na unidade escolar.

 

“A conscientização dos alunos sobre o consumo responsável de água é uma prioridade, destacando a importância de preservar esse recurso natural renovável. Embora a escola tenha sido contemplada com uma cisterna, ela foi desativada devido a problemas estruturais e atos de vandalismo. Atualmente, a água da pia da cozinha é reaproveitada para regar canteiros de temperos e árvores frutíferas no muro da escola, demonstrando um esforço em utilizar os recursos de forma sustentável e responsável”.

As comunidades remanescentes de quilombos também são diretamente afetadas pela falta de água. Essas comunidades muitas vezes enfrentam dificuldades de acesso a água potável e saneamento básico adequado, devido à falta de infraestrutura e investimento governamental.

Algumas enfrentam desafios significativos, mesmo em regiões com abundância desse recurso. É o caso dos quilombolas da Comunidade Quilombola Ilha de São Vicente, em Araguatins (TO), que precisam percorrer longas distâncias para ter água tratada.

O quilombo fica localizado no rio Araguaia. Com a água do rio poluída e imprópria para consumo, é necessário ir ao centro da cidade para buscar água para beber e cozinhar.

“Temos que sair de casa, andar meia hora de barco na ida, pegar mais um veículo para ir em um local onde tem água boa, encher galões de água, voltar para a beira do rio e pegar o barco de novo, mais meia hora. Isso praticamente todos os dias porque a gente consome muita água e acaba rápido. Aqui tem uma ribanceira grande, e temos que subir com os galões nas costas ou na cabeça. É muito dificultoso isso. Nós já falamos sobre isso com os responsáveis, mas até hoje o problema não foi resolvido e continuamos tendo que fazer esse trajeto pra não tomar essa água suja do rio. As crianças e os idosos não aguentam e podem adoecer”, disse um morador que preferiu não se identificar por causa do momento de conflito da comunidade.

A situação prejudica a saúde, a higiene e o desenvolvimento socioeconômico dessas populações, que enfrentam desafios adicionais devido à sua localização geográfica e histórico de racismo e outros tipos de discriminação. As soluções para esse problema incluem investimentos em infraestrutura hídrica, políticas públicas inclusivas e participação das comunidades na gestão sustentável dos recursos hídricos.

Eriene Kalunga, pertencente à Comunidade Quilombola Kalunga Engenho II, GO, conta a importância de conscientizar e preservar para ter água. Esses desafios incluem dificuldades de acesso à água potável e a vulnerabilidade à doenças transmitidas pela água contaminada, especialmente devido à presença de mineradoras na região.

“A falta de água potável aumenta o risco de doenças, dificulta a higiene pessoal e sanitária, afeta a agricultura e criação de animais, prejudicando o desenvolvimento socioeconômico das comunidades. Para enfrentar esses problemas, são necessárias a construção de sistemas de abastecimento de água potável, programas de tratamento e purificação de água, educação sobre práticas de higiene e saneamento, fortalecimento das lideranças locais e promoção de tecnologias sustentáveis de captação e armazenamento de água, como coleta de água da chuva e poços artesianos. O Território Kalunga tem demonstrado boas práticas nesse sentido e continua na luta pelo acesso à água”.

Dia Mundial da Água

O Dia Mundial da Água é uma oportunidade para refletir sobre o papel que todos nós desempenhamos na preservação deste recurso de grande valia para a sobrevivência do ser humano. Ao integrar a educação ambiental nas escolas e promover a sustentabilidade nas Comunidades Quilombolas, podemos trabalhar juntos e juntas para garantir um futuro onde a água seja abundante e acessível para todos.

A água não é um benefício ou uma regalia. É um bem que deveria ser garantido a todas as pessoas, independente da região, raça, classe social, etnia e cor.

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