28 jun

CONAQ: De acordo com pesquisa, facções criminosas têm se infiltrado em territórios quilombolas e indígenas do estado do Pará

Por: Mayara Abreu

Os primeiros dados do levantamento que está sendo construído por Pesquisadores do Instituto Mãe Crioula, acerca da presença de facções criminosas nos territórios quilombolas e indígenas do Pará e a influência desses grupos sobre as áreas, foram apresentados durante o 17º Fórum Brasileiro de Segurança Pública que aconteceu em Belém entre os dias 20 a 23 de junho.

No evento, pesquisadores, representantes da Agência Brasileira de Inteligência, Ministério dos Povos Indígenas, Ministério Público dos estados da região e Polícia Civil do Pará relataram que, a presença das facções nesses lugares tem o objetivo de cometer crimes ambientais, estar próximo de rotas internacionais de tráfico de drogas, se esconder, explorar mão-de-obra local e evitar fiscalização, definido por Paulo Teixeira, do Ministério dos Povos Indígenas como “neo-pistolagem”.

 Terra Indigena Vale do Javari – 28.11.2018 Foto: Bruno Kelly/Amazonia Real.

De acordo com Paulo, “o traficante usa a logística e o conhecimento dos locais para facilitar os crimes. Ainda mais em casos de crimes de extração e mineração, que tem uma capilaridade muito grande”.

Ainda de acordo com ele os interesses das facções são consolidados pelos seguintes pontos:

Interesses nos recursos naturais da região (madeira, minérios, pasto para produção irregular de gado, áreas para plantação de maconha, pescado e animais silvestres); utilizar as comunidades como rotas alternativas de fiscalização; utilizar a mão-de-obra local; Interesses no isolamento das comunidades para instalar estruturas ilícitas e interesses em explorar comunidades tradicionais como mercado consumidor de drogas.

A expansão do crime organizado nas regiões Norte e Nordeste segundo Abin é mais propício pelos seguintes fatores:

Dificuldade de monitorar o ambiente de fronteira; precariedade das estruturas de segurança e de fiscalização; expansão de produção da cocaína colombiana e entrada de maconha colombiana de alto padrão no mercado brasileiro, como o Skank;

O professor quilombola, pesquisador da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e do Instituto Mãe Crioula, Aiala Couto aponta que as comunidades estão passando por momentos difíceis. Depoimentos apresentados por ele durante o Fórum mostram o avanço das facções e as adversidades que os quilombolas enfrentam.

“Eles entram no território, vendem drogas nas festas, usam drogas na beira do igarapé, entram armados dizendo que vão caçar e se escondem da polícia no quilombo”, disse um quilombola ao pesquisador.

Aiala enfatiza que pela diversidade “das várias amazônias” é necessário pensar uma política específica.

Foto: Clara Velasco/g1

“A Amazônia é uma região que apresenta uma diversidade imensa com várias particularidades, que envolve indígenas, quilombolas, ribeirinhos, os povos da floresta… que vem enfrentando problemas de ordem social e política econômica, então a gente precisa entender que há uma necessidade de pensar uma política específica para atender essas demandas de acordo com a realidade dessas comunidades”, enfatizou.

De acordo com dados da Polícia Civil, no Pará, quem comanda a maior parte do tráfico de drogas é o CV, seguido com menor porcentagem o PCC e Comando Classe A (facção local).

Dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup), apontam que de janeiro a junho deste ano, por exemplo, foi apreendido pela polícia do estado 2,05 toneladas de cocaína em rios, mares, igarapés, portos, marinas e atracadouros. Um número preocupante, já que durante todo o ano de 2022 foram apreendidos 153,2 kg de droga.

Importante enfatizar que a secretaria atua em apoio a operações federais (a investigação de crimes contra comunidades indígenas e quilombolas é de competência da Polícia Federal).

Clara Velasco/g1

Para os especialistas, os jovens acabam sendo as principais vítimas, pois além das muitas violações sofridas por parte dos criminosos, ainda acabam tendo que lidar com o vício. Já as lideranças que negam o acesso das facções aos seus territórios acabam sendo alvos de perseguições e ameaças.

Fonte: G1

 

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