13 maio

Conaq 24 anos: Conheça a nossa história por Ivo Fonseca

Foto: Ana Carolina Fernandes

 

Edição: Maryellen Crisóstomo | Ascom CONAQ

Contextualização

Meu nome é Ivo Fonseca da Silva, conhecido por Ivo Fonseca. Sou do quilombo Frechal no município de Mirinzal – Maranhão.

A história da CONAQ ela se dá junto com a história da luta da comunidade Frechal e com a luta da criação da ACONERUQ (Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão) com o apoio do Centro de Cultura Negra, o MNU (Movimento Negro Unificado), o CEDENPA (Centro de Estudos e Defesa do Negro – Pará) e o Movimento Negro do Rio de Janeiro se deu essa estrutura que temos hoje.  

Então, a luta da CONAQ ela é feita com um monte de companheiros e companheiras que idealizaram essa estrutura que temos hoje. Mas ela se dá desde quando as organizações do movimento negro perceberam que as comunidades quilombolas estavam com muita dificuldade, e tem até hoje, na sua retomada, na sua estruturação de seu território, perca de território. A partir de 1986 a gente – o MNU – começa a fazer as assembleias estaduais em prol da constituinte.

Mas a gente começa a dar um corpo para a CONAQ a partir do primeiro encontro em 1995, em Brasília. A gente conseguiu fazer o primeiro encontro a partir dos trabalhos nos Estados com foco de conflito. Assim, conseguimos realizar o primeiro encontro, em 1996.

Em nossas reuniões nós definimos montar uma comissão Nacional, após o encontro de 1995. Isso foi no encontro de 1996 lá em Bom Jesus da Lapa que nós estruturamos uma comissão nacional e essa comissão começou a dar corpo e aí viemos estruturando, aproximando dos Estados com mais dificuldades.

A estruturação do começo

A reunião em si, foi em Bom Jesus da Lapa, na cidade, mas, foi em nossa conversa no Rio das Rãs, onde nós passamos o dia e almoçamos lá, conversamos com os companheiros, falamos da ideia. O Simplício estava na época, (assista aqui o vídeo com Simplício) era um dos que estavam também à frente. Simplício e Givânia (assista aqui o vídeo com Givânia) e demais companheiros também que foram chegando, não podemos esquecer o nome de nenhum. Mas, esse era o corpo que foi se integrando.

Chegou o pessoal de Kalunga-GO, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Com esses Estados nós tivemos mobilidade política de nos encontrar, conversar e fazer as atividades da CONAQ. Nós tivemos mobilidade política de visitar quase todos os Estados.

Hoje a CONAQ tem uma particularidade, ela vai aos Estados, ela tem reunião nos Estados e isso é importante. Conseguimos chegar até aos Encontros: realizamos o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto…

Institucionalização da CONAQ

Passamos a ter um enfrentamento político da estrutura. Nós discutíamos muito isso: nós temos que ter um mínimo de estrutura para que a CONAQ possa enfrentar o sistema, a política do país. Graças a Deus eu vi e acompanhei tudo isso. Em toda essa temporada que a CONAQ está hoje eu vim participando, ajudando e acompanhando.

A CONAQ tem uma particularidade: ela não foi criada de cima pra baixo, ela vem da base. Toda essa estrutura que nós temos hoje não saiu de terceiros. Fomos nós mesmos que trabalhamos e pensamos. Os rendimentos que nós temos fomos nós que estruturamos. Então, a CONAQ tem a particularidade das coisas não virem de cima pra baixo. Ela sempre vem da base. Isso é muito interessante. Os coordenadores fazem as suas mobilizações lá na base. Eu digo que a CONAQ é uma organização Natural, ela sai da sua natureza, dos seus próprios companheiros e a sua mobilidade política tem um foco para o que a organização é hoje.

Eu espero que a CONAQ tenha a sua mobilidade política cada vez maior. Que hoje os nossos netos, bisnetos – quem já tem – sobrinhos que estão crescendo, que tomem de conta dessa estrutura que nós criamos. Eu digo que foi um espelho dos nossos antepassados. Tudo o que a gente faz não é nada atoa. Nossos antepassados que dizem, que nos guia porque nós contribuímos com a letra, que é muito.

Avanços

Temos avanços muitos significantes. O que eu sempre coloco em minhas falas: nós conseguimos entender a estrutura do país. O país ele é estruturado e se organiza institucionalmente e nós conseguimos entender isso. C omo o país é institucionalizado, nós temos que enfrentar pelas vias institucionais. A mobilidade política, nós sempre tivemos. Como nós temos essa mobilidade nós conseguimos estar vivos até hoje e ter essa estrutura hoje. 

Eu digo que o Estado tem uma estrutura que é como uma teia de aranha. E nessa teia de aranha só anda quem sabe.

Nós temos mobilidade política, uma estrutura econômica,  temos conhecimento da matemática, da geografia, das ciências e da economia, isso nos estruturou. Nós estamos estruturados neste país. Essa estrutura é o avanço que nós alcançamos pela via institucional. Então nós temos nosso avanço, é significante pra nós porque nós entendemos essa via que o país é estruturado.

Foto: Ana Carolina Fernandes

Desafios

Tem muitos desafios. É claro que nós não vamos resolver tudo em poucos anos, apesar do nosso povo já vir lutando há muitos anos neste país. Mas, em cada momento nós vamos conseguindo avançar um novo degrau.

Tem um desafio no movimento quilombola e no momento negro em si, que  é o fato de que ainda não entendemos a importância das eleições. Essa é uma matéria que nós temos que trabalhar por um bom tempo aí. Nós ainda não entendemos a importância disso. É um processo. Nós sempre fomos relegados a participar desse momento. Embora já temos conseguido alguns avanços: temos partido, candidatos, nós estamos avançando, mas, nós precisamos avançar mais. Mobilizar os nossos jovens e compreender que esse caminho ainda é o caminho que nós precisamos avançar.

Militância

Hoje conversando com a minha esposa, eu falei pra ela que: estou feliz hoje se as pessoas não se lembrarem mais de mim. Porque eu sempre ajudei e participei para que essa estrutura se sustente por muitos anos. Então, estou me preparando psicologicamente porque em breve não vou poder mais estar participando. Estou me preparando psicologicamente para quando as pessoas não me reconhecerem, porque isso é da natureza.

Um dia vão saber quem é Ivo, mas, Ivo já foi.

O que meus antepassados passaram pra mim, espiritualmente, eu repassei e vou repassar até o dia que eu puder para os demais irmãos e irmãs para nós lutarmos nesse país. Eu quero finalizar dizendo uma frase que meu pai sempre falou, não se começa as coisas erradas, porque quando chega lá não dá certo. Não se constrói um concho (que é vasilhame que a gente tem aqui em nossa comunidade, explica), não se começa errado. Quando você começa errado você não vai fechar, então, a CONAQ começou certo e vai dando certo.

 

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