26 jan

Compartilhando Mundos: quilombos do Amapá realizam mais uma etapa do projeto

Por Maryellen Crisóstomo

No último dia 22 foi a vez dos quilombolas do Amapá realizaram mais uma etapa dos programas Povos Tradicionais e Novas Tecnologias e Compartilhando Mundos. Em formato digital, por causa do cenário da pandemia de COVID-19, o evento reuniu lideranças locais, nacionais e representantes do poder público. No Estado, 22 quilombos foram contemplados pelos programas que proporcionaram o levantamento de dados socioeconômicos das famílias quilombolas. Uma iniciativa da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) em parceria com a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam) com o apoio da USAID Brasil e Google Earth Outreach.

A coordenadora da Conaq e apresentadora do webinar, Núbia Cristina, explicou que, para a coordenação estadual (Conaq-AP) juntamente com a Conaq e a Ecam o evento é uma oportunidade de apresentação da população quilombola da Amazônia. “A gente viu que nenhum quilombo é igual e hoje a gente pode trazer o que conseguimos levantar. O projeto Compartilhando Mundos nos capacitou para que a gente pudesse monitorar como estão as políticas públicas em cada comunidade”, ressaltou Cristina.

A Coordenadora Executiva da Conaq, Sandra Maria Andrade destacou a importância da parceria entre a Conaq e a Ecam. “Para nós é de suma importância poder mostrar para todos, principalmente para os nossos governantes, as potencialidades das comunidades e as necessidades existentes dentro delas e que através desse documento, os municípios vão poder implementar as políticas públicas necessárias para cada comunidade participante desse projeto”, enfatiza Andrade.

A jovem Mariele Moraes que também realizou o levantamento dos dados, pontuou que a dificuldade de acesso às comunidades vai além da qualidade das estradas. “Não tem internet, já tem que levar o celular carregado, a estrada é feia, o carro quebra, a gente fica atolada no ramal”, relata.

 

Os dados como ferramentas de enfrentamento à pandemia de COVID-19

 

Com o webinar do Amapá, encerra-se a rodada de apresentações dos dados com incidências políticas realizadas desde julho de 2020. A adaptação no formato da devolutiva se deu a partir da demanda das comunidades em fazer uso dos dados no enfrentamento à proliferação do Coronavírus nos territórios quilombolas.

Núbia destacou ainda que as tecnologias e as ferramentas usadas para o levantamento da socioeconomia serviram também para auxiliar as ações de enfrentamento à COVID-19 nos territórios quilombolas do Amapá. “A ideia de usar o ODK (Open Data Kit) para comprovar que a gente distribuiu tantas cestas em x lugares que não aparecem no mapa do sistema público, essa é uma prova eficaz de que existem comunidades”, destacou.

Previsto para acontecer em outubro, o webinar do Amapá foi adiado em decorrência do apagão que aconteceu no Estado por falhas na estação de distribuição de energia elétrica.

 

Sobre os dados

 

A coordenadora de projetos da Ecam, Meline Cabral, destacou que o Programa Novas Tecnologias e Povos Tradicionais capacitou diretamente mais de 230 jovens e liderança quilombola, o que possibilitou mais de 800 quilombolas no período de realização do levantamento dos dados. “As pessoas que participaram do curso voltaram para suas comunidades e capacitaram novas pessoas”, explica Cabral.

Enquanto o Compartilhando Mundos fomenta a interpretação dos dados coletados. “Ele surge de uma demanda das próprias comunidades de uma necessidade de ir além das capacitações e da coleta dos dados. Mas, também de analisar esses dados e entender o que eles estão trazendo. Isso está dentro da percepção de gestão, onde você entende o passado e conhece o presente para planejar o futuro”, enfatiza Meline.

Os Programas Novas Tecnologias e Povos Tradicionais e Compartilhando é um poucos projetos junto a comunidades quilombolas que permitiu o protagonismo dos próprios quilombolas no processo de pesquisa. Além do Amapá, quilombos dos Estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins também foram contemplados.

 

Sobre os Programas

 

Os programas Novas Tecnologias e Povos Tradicionais e Compartilhando Mundos são apoiados pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID/Brasil) e pelo Google Earth Outreach que é parceiro de organizações que visam criar novos conhecimentos, aumentar a conscientização e possibilitar ações em direção à impactos sociais e ambientais positivos, usando dados geográficos e ferramentas tecnológicas

A partir do apoio dos programas, foi possível realizar o mapeamento dos dados socioeconômicos de 107 comunidades quilombolas, localizadas nos Estados do Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins. As entrevistas foram realizadas em 3.203 casas abrangendo 12.483 quilombolas.  

Confira o relatório da pesquisa Quilombos e Quilombolas da Amazônia: os desafios para o (re)conhecimento – aqui: https://bit.ly/31SZGKm

 

Assista ao vídeo do webinar

Foto de capa: Ana Carolina Fernandes

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