19 nov

Compartilhando Mundos: trocas de conhecimentos e visibilidade dos quilombos na Amazônia foram os principais destaques durante a devolutiva dos dados ao Estado do Pará

Por Maryellen Crisóstomo

Realizado na última terça-feira, 17, o webinar Quilombos e Quilombolas da Amazônia: os desafios para o (re)conhecimento junto às comunidades do Pará contou com a presença de representantes do Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (CEDENPA), Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) e Defensoria Pública do Pará. Na ocasião a Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam) juntamente com a Malugu-PA e a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) apresentaram os resultados dos dados junto às cinco regionais da Malugu. A gravação está disponível no YouTube da Conaq.

 

Na abertura do evento Jhonny Martins, coordenador nacional da Conaq, falou sobre a importância do projeto que evidenciou o protagonismo da população quilombola na realização da pesquisa. “Somos sabedores que todos os levantamentos que tínhamos até hoje na base de dados da Conaq e de outros, nós fomos os pesquisados, e pela primeira vez a gente tem um trabalho mais real da situação e de uma região muito importante para o Brasil e também uma região que tem muitos conflitos que é a Região Amazônica”, destaca Martins.

 

O coordenador pontuou ainda que o resultado do trabalho retrata a existência da população negra quilombola na Amazônia Legal. “Trazer esse trabalho a público é de grande valia porque demonstra os conflitos, as belezas e a realidade amazônica que as comunidades quilombolas protegem há um bom tempo. Demonstra ainda que a Amazônia também é negra e que as comunidades quilombolas têm na sua missão a proteção do patrimônio da nossa natureza”, enfatiza Jhonny.

 

Representando a Malungu, o coordenador estadual, Aurélio Borges, ressaltou a importância do trabalho para as comunidades quilombolas do Pará e dos Estados atendidos. “Aqui no Estado do Pará nós temos a necessidade de ter esse trabalho levantando, porque nós temos grandes áreas de conflitos territoriais e agrários. Esse levantamento possibilita a localização geográfica dos territórios quilombolas que estão sendo impactados por madeireiros, fazendeiros e grileiros”, justifica Borges.

 

Aurélio falou ainda sobre os ganhos proporcionados pela implementação dos programas Novas Tecnologias e Povos Tradicionais e Compartilhando Mundos. “Hoje trazer o resultado do trabalho feito, nos gratifica muito e mostra que estamos avançando. Estamos trazendo tanto no âmbito nacional por meio da Conaq parcerias importantes para que a gente possa realizar cada vez mais esse tipo de trabalho nos territórios”, conclui.

 

Os projetos Novas Tecnologias e Povos Tradicionais e Novas Tecnologias são apoiados pelo Google Earth Outreach e USAI Brasil.

Engajamento da juventude

Os projetos Novas Tecnologias e Povos Tradicionais e Compartilhando Mundos, que tem como entidade executora a Ecam em parceria com a Conaq, capacitou e priorizou que o levantamento dos dados fossem realizados por quilombolas.

 

Sobre essa metodologia, Aurélio Borges, salientou o protagonismo da juventude quilombola. “ Esse trabalho trouxe a possibilidade de que a juventude pudesse se apropriar das comunidades: dos limites, dos conflitos e das questões existentes nos territórios quilombolas”, apontou.

 

Importância também destacada na experiência de Josué Cardoso, jovem quilombola pesquisador e integrante da equipe Guajarina. “Este projeto nos trouxe a questão do conhecimento. Não somente o conhecimento individual, mas, coletivo com relação a conhecer a nossa comunidade e as comunidades dos nossos amigos” frisou.

 

Outra lembrança vívida de Josué são as rodas de conversas. “Ao final do levantamento nós fazíamos um relatório que seria devolvido as comunidades e nesse relatoria estaria constando algumas características daquele local e algo descrito das rodas de conversas que fazíamos entre os comunitários e os mais jovens podiam participar dessas rodas de conversas, sendo muito enriquecedor”, enfatizou.

 

“A gente vive em comunidade mas, muitas vezes os mais jovens assim como não tinham interesse em participar das rodas de conversas para conhecer mais sobre as comunidades e esse projeto possibilitou isso”, lembra Josué.

Desafios do levantamento

As condições de acesso às comunidades que muitas vezes acontecem por vias terrestre e fluvial contribuíram para com os desafios da realização da pesquisa.

 

“A gente percebeu com esse mapeamento a dificuldade de se chegar a alguns territórios e comunidades. A logística no Pará é muito difícil, no período em que foi feito o trabalho era o período chuvoso e os ramais estavam intrafegáveis, muitos deles a situação ainda não mudou e isso foi muito desafiador para as equipes de jovens e das regionais que trabalharam nesse processo”, narrou Aurélio Borges.

 

Para além das dificuldades, os resultados do trabalho já exaltam os ganhos sobre os desafios. “A gente recebeu aqui o material produzido e isso mostra a transparência do trabalho realizado, isso é fundamental para as comunidades que participaram do processo, esse retorno que a Ecam e a Conaq está trazendo para as comunidades é de grande e fundamental importância para nós”, pondera Borges.

 

Ainda em Agosto a Ecam devolveu para todos os 107 quilombos atendidos pelo projeto, os resultados da pesquisa em forma de livro que traz como título, Quilombos e Quilombolas da Amazônia: os desafios para o (re)conhecimento.

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