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Comitê Quilombola de Santa Rita, CONAQ e Parceiros repudiam duplicação da BR 135

O Comitê Quilombola de Santa Rita e a Coordenação Nacional de Articulações das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), vem a público denunciar e repudiar as ameaças da autarquia federal Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), de iniciar obras de duplicação da BR 135 no trecho entre os municípios de Bacabeira e Santa Rita, no Maranhão, com impactos negativos em dezenas de quilombos, em meio à pandemia do coronavírus e desrespeitando os procedimentos da Consulta Prévia, Livre e Informada nos termos da Convenção n. 169 da OIT.

No dia 14/04/2020 o Comitê Quilombola de Santa Rita foi surpreendido com manifestação do Ministério Público Federal dando conta de que o DNIT propõe apresentar um plano para iniciar a obra da BR 135 em maio de 2020, o que é uma proposta absurda, não só porque se trata de levar trabalhadores aos territórios quilombolas em meio à pandemia do coronavírus, como desrespeita todas as tratativas firmadas de respeitar os protocolos de consulta das comunidades.

O conflito tem início em julho de 2017 quando o DNIT tentou iniciar a obra de duplicação da BR 135, oportunidade em que vários quilombos assistiram a chegada de trabalhadores em seus territórios sem que tivessem permissão e que logo foram impedidos de dar continuidade a obra, em 08/08/2017 as lideranças quilombolas oficiaram a autarquia solicitando para tratar da questão. A reunião ocorreu em 07/11/2017, oportunidade em que os quilombolas afirmaram a autarquia que esta não poderia dar continuidade ao projeto sem que houvesse a consulta.

Em 23/01/2018 o Comitê Quilombola formalizou Requerimento de Consulta Prévia ao DINIT, MPF e DPU, e em 08/02/2018 reuniu com a Fundação Cultural Palmares, oportunidade em que o órgão se comprometeu ao cumprimento da legislação vigente e que seria respeitado o direito de Consulta, ficando acordado, nesta oportunidade seria apresentado o formato em que as comunidades se considerariam legitimamente consultadas.

Em 29/03/2018 o Comitê oficiou à Fundação Cultural Palmares e a Defensoria Pública da União informando os requisitos para a Consulta, dando conta de como as comunidades se consideram legitimamente consultadas, e em 02/03/2019 o Comitê informou ao Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União que iniciara a construção do Protocolo Comunitário de Consulta nos quilombos de Santa Rita e Itapecuru-mirim, com assessoria técnica do Programa de Mestrado Nova Cartografia Social da Amazônia da UEMA.

Em 29/03/2019 a DPU mediou reunião com lideranças quilombolas e a Fundação Cultural Palmares ooportunidade em que se reafirmou compromisso de realização da Consulta nos quilombos impactados.

Essas tratativas não podem ser desrespeitadas.

A possibilidade de duplicação da rodovia BR-135 já deixa os moradores dos quilombos em situação de aflição psicológica, temerosos pela incerteza do futuro, receosos da possibilidade de concretização de deslocamentos de famílias, o que atingiria as relações de vizinhança, de compadrio ou de parentesco construídas segundo as regras da cultura local e consolidadas por séculos.

A duplicação da rodovia dificultaria ainda mais a locomoção dos mais velhos para visitar parentes em comunidades cuja organização político-social é pautada por valores de respeito à ancialidade (e à ancestralidade). Há ainda o receio de destruição de igarapés, de poços, de cursos de água (fontes de vida e morada de mães-d’água), de terreiros, de árvores frutíferas e de assentamentos de encantarias.

Além de que os territórios já são invadidos por vvários empreendimentos que impactam diretamente seus modos de vida, aalém da BR-135, diversas fazendas, linhões de energia elétrica, duas estradas de ferro e um aqueduto produzem os maiores impactos negativos, reduzindo o acesso à totalidade do território por parte dos quilombolas.

O município de Santa Rita tem cerca de 30 quilombos e no dia 19/04/2020 já contava com cinco casos confirmados de pessoas acometidas de Covid-19, bem como o município de Bacabeira conta com 01 caso confirmado, nos dois municípios o sistema público de saúde é precário, não contando com nenhuma UTI, os quilombos já estão em situação de vulnerabilidade que, com a pandemia, se agrava, sendo impossível ter nesse período qualquer reunião para discussão de consulta ou a presença de trabalhadores que estarão em risco e trazendo risco ao povo quilombola.

Deste modo, tentar iniciar obra na pandemia e sem consulta é consolidar um projeto ecocida e genocida!

 

São Luís, 20 de abril de 2020

Assinam esta nota:

Comitê Quilombola de Santa Rita

Coordenação Nacional de Articulações das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ)

Apoiam esta nota

  1. Frente Parlamentar Mista do Congresso Nacional em Defesa dos Quilombolas
  2. Deputado Bira do Pindaré (PSB-MA)
  3. Deputado Damião Feliciano (PDT/PB)
  4. Deputada Aurea Carolina PSOL/MG
  5. Deputada Erika Kokay PT/DF
  6. Deputada Federal Benedita da Silva PT/RJ
  7. Deputada Fernanda Melchionna PSOL-RS
  8. Deputada Luíza Erundina (PSOL – SP)
  9. Deputada Sâmia Bonfim PSOL/SP
  10. 10.Deputada Talíria Petrone – PSOL/RJ
  11. 11.Deputado Carlos Veras (PT/PE)
  12. 12.Deputado Assis Carvalho PT – PI
  13. 13.Deputado Camilo Capiberibe – PSB Amapá
  14. 14.Deputado David Miranda PSOL/ RJ
  15. 15.Deputado Helder Salomão – PT/ES
  16. 16.Deputado Ivan Valente (PSOL -SP)
  17. 17.Deputado Marcelo Freixo (PSOL -RJ)
  18. 18.Deputado Nilto Tatto (PT – SP)
  19. 19.Deputado Glauber Braga (PSOL -RJ)
  20. 20.Vereador Jancimauro Campos Albuquerque – (PC do B/Santa Rita/MA)
  21. 21.Centro de Cultura Negra do Maranhão – CCN
  22. 22.ACQUILERJ – Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio de Janeiro
  23. 23.Afirmação Rede de Cursinhos Populares assina
  24. 24.Afronte
  25. 25.Agentes de Pastoral Negros – APNs
  26. 26.Articulaçao dos Povos Índigenas do Brasil – APIB
  27. 27.Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as – ABPN
  28. 28.Associação Brasileira de Reforma Agrária – ABRA
  29. 29.Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais – AATR
  30. 30.Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade /MG.
  31. 31.Associação de Assessoria Técnica Popular em Direitos Humanos Coletivo Antônia Flor – PI
  32. 32.Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia Carmen Bascaran (CDVDH/CB)
  33. 33.Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT
  34. 34.Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA
  35. 35.Centro de Formação do (a) Negro (a) da Transamazonica e Xingu – CFNTX
  36. 36.Centro de Referência Negra Lélia Gonzales – CRENLEGO
  37. 37.Centro Ecumênico de Cultura Negra – CECUNE/Rio Grande do Sul
  38. 38.Coletivo Amazônico LesBiTrans
  39. 39.Coletivo de Mulheres Negras “Maria-Maria” –               COMUNEMA
  40. 40.Coletivo Enegrecer -TO
  41. 41.Coletivo Margarida Alves
  42. 42.Comissão Brasileira Justiça e Paz – CBJP
  43. 43.Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil – OAB/MA
  44. 44.Comissão Estadual dos Quilombos de Pernambuco
  45. 45.Conselho Estadual das Comunidades Quilombolas da Bahia
  46. 46.Conselho Pastoral dos Pescadores – BA
  47. 47.Coordenação das Articulações dos Povos Índigenas do Maranhão – COAPIMA
  48. 48.Coordenação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Amapá
  49. 49.Coordenação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Mato Grosso do Sul
  50. 50.Coordenação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Mato Grosso
  51. 51.Coordenação Estadual das Comunidades Negras de São Paulo
  52. 52.Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Espírito Santo ‘Zacimba Gaba’ – COEQ
  53. 53.Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas/PI
  54. 54.Coordenação Estadual das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Estado do Ceará
  55. 55.Federação das Comunidades Quilombolas do Estado do Paraná
  56. 56.Federação Estadual das Comunidades Quilombolas do Rio Grande do Sul
  57. 57.Fórum Estadual de Religiões de Matriz Africana do Maranhão – FERMA
  58. 58.Frente de Mulheres Negras do Distrito Federal e Entorno
  59. 59.Frente Nacional de Mulheres do Funk
  60. 60.Grupo de Extensão Direito e Negritude UNDB/MA
  61. 61.Instituto Afrolatinas
  62. 62.Juntas – Coletivo Feminista
  63. 63.Juntos! – Coletivo de Juventude
  64. 64.Malungu – Coordenação das Comunidades Quilombolas do Estado do Pará
  65. 65.Marcha das Mulheres Negras de São Paulo
  66. 66.Movimento Camponês Popular – MCP
  67. 67.Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
  68. 68.Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
  69. 69.Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo – MTC
  70. 70.Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
  71. 71.Movimento Mulheres Camponesas – MMC
  72. 72.Movimento Negro Unificado – MNU
  73. 73.Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM
  74. 74.N’GOLO – Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais
  75. 75.Núcleo de Estudos em Cultura Jurídica e Atlântico Negro – Maré (FD/UnB)
  76. 76.Núcleo Estadual de Mulheres Negras do ES
  77. 77.Observatório Protocolos
  78. 78.Processo de Comunidades Negras en Colombia
  79. 79.Programa de Pós Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia – PPGCSSPA/UEMA
  80. 80.Rede de Mulheres Negras da Bahia
  81. 81.Rede de Mulheres Negras de Pernambuco
  82. 82.Rede Emancipa de Cursos Pré Universitários Populares
  83. 83.Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas
  84. 84.Rede Nacional de Religiões Afro Brasileiras e Saúde – Renafro
  85. 85.Rede Sapata
  86. 86.Sapato Preto
  87. 87.TV Quilombo – MA
  88. 88.Uneafro Brasil
  89. 89.União das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Município de Itapecuru
  90. 90.União de Quilombos de Anajatuba – MA (UNIQUITUBA)
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