17 jul

Alunas apresentam Escola Nacional da CONAQ no 3° encontro de Conceição das Crioulas

Por: Letícia Queiroz

As meninas explicaram como funciona o projeto e mostraram parte de suas ações na reivindicação por educação de qualidade.

Alunas da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas participaram, na última semana, do 3° encontro com as Artes, as Lutas, os Saberes e Sabores da comunidade quilombola Conceição das Crioulas, em Salgueiro (PE). As jovens, que buscam melhorias na educação quilombola em suas comunidades, puderam trocar experiências e mostrar como elas estão lutando para, aos poucos, mudar a realidade da educação oferecida onde vivem.

O evento começou no domingo (9) e terminou na última sexta-feira (14). Na quinta-feira (13) duas alunas da Escola Nacional explicaram às famílias do quilombo e aos convidados e convidadas do Encontro como funciona o projeto.  Juliany da Silva, quilombola do quilombo Trigueiros, em Vicência (PE), apresentou a metodologia da Escola.

“Foi um momento inesquecível, onde pude conhecer outro quilombo e reencontrei uma colega também. Foi um evento lindo e memorável. Fui recebida com muito carinho e me senti muito acolhida. Amei cada momento desse encontro”, disse.

Juliany também falou sobre a carta escrita pelas alunas e alunos do projeto.  O material denuncia situações vividas e expõe as falhas do Estado brasileiro e mostra pontos sobre a educação que é oferecida e a educação que as meninas quilombolas gostariam de ter. A carta foi entregue à ativista paquistanesa Malala durante visita ao Brasil, ao Ministro da Educação, Camilo Santana, e a outras autoridades.

 

Maria Leontina, quilombola de Conceição das Crioulas, conta que ficou feliz em receber parte da equipe da Escola Nacional em sua comunidade. “Eu me senti muito orgulhosa de estar falando e apresentando a Escola para o pessoal da minha comunidade. Foi uma honra falar das nossas vivências da Escola com pessoas tão importantes nos escutando. Além da felicidade de reencontrar a colega”, disse Maria Leontina.

O evento, realizado pela Associação Quilombola de Conceição das Crioulas – AQCC e o Grupo Identidade da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, que contou com o apoio do Projeto SETA – Sistema Educacional Transformador e Antirracista, estiveram presentes lideranças, professores, professoras e estudantes quilombolas e com a presença de convidados, incluindo representantes do governo federal e estadual e participação de representantes de Cabo Verde, Portugal e Moçambique.

Givania Silva, quilombola de Conceição das Crioulas, integrante da Rede de Ativistas pelo Fundo Malala no Brasil e coordenadora da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas disse que este ano, além dos debates, oficinas e trocas, o encontro teve algumas novidades que fizeram a diferença.

“Tivemos falas de quilombolas que estão no governo federal e estadual. Eles puderam apresentar quais são as questões quilombolas que estão sendo tocadas no âmbito dos governos. Outro impacto muito forte foi a presença da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas como parte da programação desse encontro. Foi muito importante ver as meninas apresentando a metodologia da Escola e seu funcionamento em Conceição das Crioulas. A gente percebia como as pessoas vibravam e celebravam por verem as meninas com tanta propriedade falarem sobre a própria escola. Fiquei muito feliz”.

O encontro terminou nesta sexta-feira (14) com com visita guiada nos pontos históricos da comunidade, uma homenagem ao líder quilombola, sindicalista e co-fundador da CONAQ, Andrelino Antônio Mendes (in memoria). Na programação cultural foi a vez de um grande Forró de Latada com os “Primos do Forró e o sanfoneiro da comunidade Francisquinho” no Sítio Cruzeiro do Sul.

“Foi mais do que um encontro. Foi um reencontro com as lutas, as artes e a cultura quilombola”, disse Givânia Silva

A Escola Nacional

A Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas é uma iniciativa do Coletivo de Educação da CONAQ e é apoiado pelo Fundo Malala, que incentiva ações de educação com foco em meninas negras, indígenas e quilombolas.

A Escola Nacional conta com 39 meninas e 11 meninos quilombolas de todas as regiões do país em 21 estados.

A formação é um espaço de estímulo e de luta para meninas e meninos que enfrentam defasagens e desigualdades na educação e sentem-se ainda longe de realizarem o sonho de entrar nas universidades. Nos encontros virtuais do projeto são discutidos temas sobre a história das comunidades quilombolas, necessidade de lutar por direito à educação, questões de gênero, raça e território, combate ao racismo, engajamento na luta política do movimento quilombola, entre outros.

A Escola tem contribuído para erguer a voz das meninas quilombolas em seus territórios e já tem alcançado exemplos de protagonismo de meninas quilombolas na defesa da educação quilombola, da cultura, dos valores e do território.

 

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