14 set

Os Arranjos Produtivos da CONAQ chegou em cinco territórios quilombolas em três biomas brasileiros

Por: Nathalia Purificação 
O projeto dos Arranjos Produtivos, foi uma iniciativa da CONAQ com a parceria do Fundo Casa, com objetivo de mapear as práticas de Agricultura Familiar Quilombolas (AFQ) pelas comunidades e diagnosticar os principais desafios das famílias quilombolas que desenvolvem práticas agroecológicos dentro dos seus territórios. 

Das milhares de ações que possuem o poder transformador, essa é uma das que tocam o coração e acalenta nossos sentidos. Nesse projeto, a CONAQ teve o prazer de realizar a entrega dos arranjos produtivos, fruto dos diagnósticos sobre agricultura familiar quilombola em territórios quilombolas nos biomas cerrado e caatinga, especificamente nos estados, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Ceará, Piauí e Sergipe.

Para falarmos de resultados das ações afirmativas promovidas pela CONAQ, é necessário chegar mais perto, ouvir os relatos e depoimentos que demonstram fielmente o desfecho de tanto trabalho e se aprofundar nessas histórias que tanto brilham nos nossos olhos.  

O projeto dos Arranjos Produtivos, foi uma iniciativa da CONAQ com a parceria do Fundo Casa e pelo Instituto Clima e Sociedade(ICS),  com objetivo de mapear as práticas de Agricultura Familiar Quilombolas (AFQ) pelas comunidades e diagnosticar os principais desafios das famílias quilombolas que desenvolvem práticas agroecológicos dentro dos seus territórios. O resultado da pesquisa foi feito ainda no ano passado e logo após os dirigentes e coordenadores da CONAQ realizaram a concessão de materiais de facilitação de mão de obra que atualmente contribuem para o desenvolvimento econômico das Comunidades Quilombolas atingidas. 

Quilombo Santa Luzia do Norte, Bioma Caatinga(AL)

Foi através das pesquisas de Agricultura Familiar Quilombola(AFQ), que rodamos o Brasil e que tivemos o prazer de conhecer a comunidade quilombola de Santa Luzia do Norte, município do interior de Alagoas. É nessa comunidade que vive Dona Tota, uma mulher com uma força e vontade de viver incrível e que foi contemplada pelo projeto dos Arranjos Produtivos. Dona Tota, foi beneficiada com uma  carroça e um burrinho, ela narra que o “Policarpo” seu mais novo ajudante e amigo, vem sendo muito bem criado sob seus cuidados.

”O policarpo continua aqui com a gente né, todo dia eu cuido, todo dia eu dou banho, todo dia eu amarro ele para descansar bastante” – disse Dona Tota, orgulhosa do seu zelo com o seu burrinho. 

A mulher nos relatou seus principais desafios e dificuldades que enfrentava antes de ser contemplada com o Policarpo. Dona Tota carrega uma tradição ancestral em sua trajetória, ela dá continuidade no trabalho e cultura de produção do seu quilombo, que é uma das únicas formas de subsistência das famílias do seu território, a produção das vassouras de palha piaçava é uma prática agroecológica de algumas das famílias daquele lugar e Dona Tota faz parte de um grupo de mulheres que se encontram diariamente para fazer a colheitas das palhas mata adentro. 

“Eu faço vassoura de palha desde criança, eu fazia com meus pais né, e agora depois que eu cresci vim pra dentro da minha casa, aí continuei fazendo vassoura de palha, porque é a minha renda” – relembra, Dona Tota. 

Quilombo Vila Santo Antônio, Bioma Caatinga(AL)

Andando um pouco mais pelo estado de Alagoas,  a CONAQ conheceu a história de Dona Maria Célia Santos, presidenta da Associação de moradores do Quilombo Vila Santo Antônio, município de Palestina – AL. Dona Célia, lidera um grupo de mulheres produtoras de massas e pães dentro do quilombo. O projeto construiu uma padaria dentro do quilombo para facilitação da fabricação de pães pelas mulheres quilombolas dali. Ela relata que o grupo enfrentou muitos desafios antes da chegada da padaria, elas não tinham local adequado para a produção artesanal desses produtos, ainda sim, conseguiram superar as dificuldades e se reinventar dentro das possibilidades, até chegar o dia 06 de Dezembro, data da entrega da padaria, resultado dos diagnósticos sobre agricultura familiar realizados naquela região. 

Maria Célia relata que após a entrega das máquinas de fabricação de pães, a associação tomou a iniciativa de buscar cursos profissionalizantes para as mulheres que ali vivem. Inicialmente o curso contemplou cerca de 40 mulheres, após o curso, muitas puderam colocar em prática as técnicas adquiridas no curso do Senac. A presidente também contou que a comunidade está participando do processo do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Criado pelo governo federal através do art. 19 da Lei nº 10.696,  em de 02 de julho de 2003 que  possui duas finalidades básicas: promover o acesso à alimentação e incentivar a agricultura familiar.

Esse projeto que veio para nossa comunidade foi mandado por Deus, foi uma benção para as mulheres né?! As mulheres daqui sabiam fazer suas coisas, mas não tinham como praticar por falta de material mesmo dos maquinários que não tinha. Às vezes as condições que não tinha, de ter um botijão a gás em casa, era na lenha essas coisas, aí eu tô bem animada com esse projeto…” – Relata Célia

O estado do Alagoas foi o único que foi contemplado duas vezes com os arranjos produtivos, é a partir dos diagnósticos realizados dentro de cada bioma do país que a CONAQ se aproximou ainda mais dos territórios e caminhando com os quilombolas que vivem ali tivemos a oportunidade de sentir a realidade de cada quilombo com maior sensibilidade e proximidade.

Quilombo São Miguel, Bioma Pantanal(MS)

Viajando mais alguns quilômetros, agora pelo cerrado brasileiro e região oeste do Brasil,  Conaq encara a realidade dos territórios do estado de Mato Grosso do Sul e chega agora no Quilombo de São Miguel, município de Maracajú(MS). Jorge Henrique é a liderança que nos recebe do território e que representa a Associação. O quilombo já mantinha uma forte produção de farinha de mandioca, rapadura, melaço de cana, mas tem a produção de hortaliças e frutas como principal entrada de recursos para o mercado institucional, via Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e prefeitura do município, também contribuindo para a merenda das escolas públicas do município. A associação do quilombo contabiliza cerca de 100 a 200 kg de polpas de frutas por semana através do PNAE. 

“90% das escolas nós atendemos aqui, polpa de acerola, maracujá, de melão e abacaxi, são as coisas que eles pegam né e as famílias todos eles têm a liberdade de usar”

Além de contribuir com o PNAE, a Agroindústria da comunidade também está a serviço das famílias que utilizam o maquinário para consumo próprio, sem vínculo de produção para a venda.

A CONAQ trabalha para fortalecer a articulação entre as diferentes comunidades quilombolas, promovendo a troca de experiências, o apoio mútuo e a construção de uma voz coletiva que possa influenciar políticas públicas e ações governamentais voltadas para esse grupo. A coordenação também tem sido uma defensora ativa dos direitos humanos e das causas antirracistas, buscando combater a discriminação e a marginalização enfrentadas pelos quilombolas em diversos níveis da sociedade.

É nesse sentido que buscamos, através da força e luta da Conaq, honrar os territórios que resguardam a história e cultura desse país. A busca pelo fortalecimento da luta quilombola perpassa principalmente pelos modos de vida que se mantêm dentro dos quilombos, que são práticas que não somente agregam sustentação aos territórios quilombolas, mas também de todo Brasil. 

Quilombo Lagoa Grande, Bioma Amazônia Legal(MA)

A Conaq chegou até o quilombo Lagoa Grande, localizado no município de Presidente Vargas, estado do Maranhão. Nessa região, a agricultura é uma parte importante da história, onde a produção das roças, além de garantir a alimentação das famílias, gera renda para 90% das comunidades. Os sistemas produtivos incluem a criação de pequenos animais como galinhas, porcos, gado pé duro, roçados em plantios diversos e a produção de farinha de forma artesanal, entre outros. O trabalho era realizado de forma “rústica” , como avaliam os agricultores. A mecanização é utilizada por uma porção menor de famílias nas etapas de preparo do solo, mas a maioria das comunidades trabalha em roças em sistemas de cultivos tradicionais.

Com os resultados dos diagnósticos, foi possível alcançar algumas demandas mais urgentes para dentro desse quilombo especificamente. A Lagoa Grande foi contemplada com um maquinário para manipulação do grão de arroz. Dona Maria das Dores, contou um pouco sobre a chegada do maquinário e a importância de receber esse projeto no quilombo.

“Foi muito bom porque aqui na comunidade nós vivemos da produção do arroz e da mandioca. Então eu acho no meu ver, a máquina chegou no tempo certo, encontramos um pouco de dificuldade para mudar esta maquinaria porque nenhum da comunidade não tinha a experiência ainda entendeu? Então esta máquina que veio foi um presente, uma doação muito especial que a comunidade precisava, e nós necessitamos deste maquinário, dessa ferramenta, para ajudar na nossa produção de arroz.”

Os projetos da CONAQ são um testemunho do poder da mobilização comunitária e da importância de se preservar e celebrar a diversidade cultural do Brasil. Ao fortalecer as comunidades quilombolas, a CONAQ contribui para a construção de um país mais justo, inclusivo e igualitário, onde a rica herança cultural dessas comunidades possa florescer e ser reconhecida em toda a sua plenitude.

Quilombo Mocambo, Bioma Caatinga(SE)

Os Arranjos Produtivos chegou também em Sergipe, mais especificamente na  comunidade quilombola de Mocambo que está localizada no município de Porto da Folha, no sertão sergipano, a aproximadamente 185 km de Aracaju, às margens do Rio São Francisco. O quilombo do Mocambo carrega o título de primeiro quilombo de Sergipe a ser certificado pela Fundação Cultural Palmares, em 2000, Com cerca de 100 famílias distribuídas por dois núcleos residenciais, Mocambo e Ranchinho, o quilombo mantém a prática da Agricultura Familiar como principal fonte de renda e economia. 

Maria Gressi Santana, é liderança na comunidade e nos relatou como se deu todo processo de chegada do projeto dos Arranjos Produtivos, que contemplou a comunidade com uma cisterna e um galpão que ajudam na captação de água no quilombo. 

“Esse projeto é de muita importância e seguimos em busca de outras formas de captação de água das chuvas para que nós possamos manter a horta ativa de inverno a verão, porque no verão a gente dá uma reduzida na plantação por conta da água.”

A liderança aproveita para agradecer a atuação da Conaq e reafirma a parceria que vem sendo construída. 

“Agradecer muito ao olhar da Conaq, pelas comunidades rurais, as comunidades que vem desenvolvendo um trabalho com a questão da agricultura familiar quilombola, da agroecologia, então nós estamos muito felizes e realizados, gratidão.”

As comunidades quilombolas representam um importante pilar da história e cultura do Brasil, remontando a tempos de luta, resistência e resiliência. Essas comunidades desempenham um papel fundamental na preservação das tradições culturais, conhecimentos ancestrais e conexões com a terra.

A Conaq desempenha um papel crucial no apoio e fortalecimento dessas comunidades. Através de projetos inovadores e iniciativas colaborativas, como o Arranjos Produtivos,, a Conaq tem contribuído significativamente para o empoderamento das comunidades quilombolas, visando à promoção de seus direitos, ao desenvolvimento sustentável e à preservação de suas identidades únicas.

A realização desse projeto só foi possível através da iniciativa da cartilha “Nossos territórios e nossas práticas quilombolas”, faça download no clique abaixo e leia a cartilha na íntegra: 

 

Nossos territórios e nossas práticas Quilombolas – CONAQ E ICS

 

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