05 mar

Motivando gerações: Mais de 40 Comunidades Quilombolas de SP realizaram Encontro Estadual

Por: Ana Luiza e Letícia Queiroz

 

A Coordenação Estadual do estado de São Paulo realizou, entre os dias 1° e 3 de março, o Encontro Estadual de Quilombos. A atividade ocorreu no território do Quilombo Ivaporunduva, no município de Eldorado, região do Vale do Ribeira e contou com quase 200 representantes de 49 quilombos. O evento, além de proporcionar um intercâmbio entre as comunidades, motivou diferentes gerações a continuar lutando por direitos. Todas as pessoas, desde a juventude aos mais velhos, contribuíram com as discussões de diferentes eixos: saúde, educação, território, mulheres, juventude e meio ambiente.

Reunindo líderes e representantes de diversas comunidades quilombolas, a iniciativa visou promover a união e a troca de experiências, além de discutir estratégias para enfrentar os desafios enfrentados por essas comunidades. O evento marcante dedicado ao fortalecimento da organização no estado contou com a presença de Biko Rodrigues e Nilce Pontes, coordenador e coordenadora nacional da CONAQ, além de Benedito Alves da Silva, o Ditão, fundador do movimento. Eles apresentaram histórico e estrutura da CONAQ.

Ao longo desses três dias, participantes tiveram a oportunidade de compartilhar suas vivências, desafios e conquistas, promovendo um diálogo enriquecedor que contribui para o desenvolvimento coletivo das comunidades quilombolas. As discussões abordaram temas diversos, desde a preservação do patrimônio cultural até a luta por políticas públicas mais inclusivas. Neste contexto, destaca-se a importância desse encontro como um fórum essencial para a preservação e valorização da cultura quilombola, e para defesa de direitos fundamentais dessas populações.

Biko Rodrigues afirmou que o encontro estadual não apenas consolidou a importância do movimento quilombola em São Paulo, mas também promoveu uma visão mais ampla sobre as questões enfrentadas por essas comunidades, destacando a necessidade contínua de engajamento.

“O encontro das comunidades quilombolas foi muito importante para o fortalecimento e troca de conhecimento entre as comunidades. Espera-se que a nova coordenação consiga atuar em todos os estados e fortalecer a pauta do estado a nível nacional, cobrando políticas públicas para fortalecer os territórios quilombolas”, disse Biko.

Nilce Pontes informou que o fortalecimento e reorganização dos quilombos do estado estavam entre os principais objetivos do encontro. “Tivemos como objetivo fazer fluir a informação e reorganizar os nossos planos de trabalho enquanto território, a nível de estado, para que a gente consiga somar, junto aos outros estados, a nível nacional, para a gente ter construído e bater as nossas ações enquanto territórios. A gente discutiu os principais eixos e todas as ações voltadas para diferentes questões, a gente colocou como ponto para refletirmos enquanto território”, explicou a coordenadora nacional.

Ao longo do encontro os e as coordenadoras fizeram um resgate da estruturação da CONAQ , a nível nacional. As lideranças explicaram como a organização foi criada, como ela funciona e quais são as ações e objetivos para os estados.

“Eu, Nilce, fiz uma apresentação falando da importância das comunidades conhecerem a CONAQ , saber o que ela faz nos espaços, onde ela pode apoiar e ser apoiada junto às comunidades. Então, o nosso encontro foi isso, fortalecer a CONAQ regional, fortalecer a CONAQ estadual e fortalecer a CONAQ nacional. E reorganizar a distribuição de informação para que a gente consiga, de fato, fazer um movimento orgânico e participativo”.

Juventude quilombola de SP e a relação com a educação

O Coletivo de Educação da CONAQ e jovens estudantes da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas estiveram presente no encontro de São Paulo. Acompanhados de Vanessa Rocha, integrante do Coletivo de Educação da CONAQ e coordenadora de mobilização e articulação da Escola Nacional, as jovens Ana Laura Donato dos Santos, Isadora Francisca Moraes e Paulo Silvio Pupo Júnior, de São Paulo, e Stefani Matos da Rosa, do Paraná, apresentaram o projeto e explicaram como ele tem contribuído com as questões relacionadas à educação em seus territórios.

O grupo mediou o GT sobre Juventude e ao longo da programação ouviram lideranças mais velhas, jovens e também colocaram suas impressões sobre como veem a atuação das associações e poder público em relação à juventude quilombola nas comunidades. A conclusão foi de que não há ação do poder público voltada para os jovens quilombolas nos territórios, principalmente os que estão em regiões rurais. Muitos jovens não recebem informações sobre seus direitos e acabam perdendo oportunidades.

Vanessa Rocha afirmou que poder acompanhar a participação das/o estudantes da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas em um espaço potente de debate foi muito importante para avaliar as ações como mediadoras desse processo formativo que objetiva a inserção da juventude nas pautas de seus territórios. “Nosso grupo coordenou a discussão a respeito do tema “juventude”, um momento que permitiu que os jovens ouvissem as lideranças mais velhas das comunidades e também colocassem seus pontos de vista sobre o que falta ser feito para este público, tanto pelas comunidades quanto pelas gestões municipais, estaduais e nacional”, afirmou.

“A partir de um diagnóstico coletivo e intergeracional, conseguimos indicar as deficiências e apontar caminhos estratégicos para fortalecer o espaço da juventude na pauta quilombola. O ponto central parte do território, isso ficou evidente e muito compreendido pelos estudantes, pois só é possível planejar e executar medidas que melhorem a situação dos jovens em suas comunidades por meio da titularização. Em nossas aulas mensais no projeto buscamos trabalhar a valorização da identidade, o respeito às diferenças e o acesso à informação, além de priorizar o “como fazer” na reivindicação por garantia de direitos, pude perceber que tudo isso tem sido absorvido e utilizado por elas/es em suas ações e reflexões”, finalizou Vanessa.

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