24 mar

Da Ancestralidade tia Úia inaugura espaço para histórias quilombolas no site Inumeráveis

 

Por Jéssica Albuquerque

 

Visando perpetuar histórias para além das mortes, o site Inumeráveis tendo como organizadora Gabriela Veiga, tem registrado diversas narrativas, estas relatadas por familiares, amigos, nas quais relembram acontecimentos relacionados às vítimas da Covid-19 no Brasil. O espaço inaugura nesta quarta-feira, 24, a visibilidade de quilombolas vítimas de COVID-19, com a história de Tia Úia.

 O site Inumeráveis surgiu com a ideia de não permitir que as vítimas da Covid-19 se tornassem apenas números, mas sim humanas. Cada história contada, reflete o impacto na realidade de cada família, ao passo que demonstra a agressividade de um vírus.

“Talvez hoje o Brasil chegue em 300 mil mortos e hoje escrevi a primeira história quilombola do Memorial Inumeráveis. Onde estão as minorias dentro desse número indecente? Quem olha pra esses corpos, esses povos, essa gente?” relatou a jornalista Gabriela Veiga.

A história de Tia Úia inaugura o espaço da narrativa das histórias de quilombolas vítimas de COVID-19 no site Inumeráveis que, ao mesmo tempo em que prioriza a diversidade de culturas, o lugar de fala, as vivências do povo quilombola, tem a proposta de desconstruir paradigmas como a invisibilidade dos povos tradicionais:

 “Apenas somos vistos pelo governo com a Certificação da Fundação Palmares, apesar de pagarmos impostos, votamos, mas mesmo assim só esse documento nos torna visível”, reitera Selma Dealdina secretária executiva da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

 Esse cenário se ratifica com a ausência de políticas públicas que beneficiem os quilombolas, principalmente neste período de pandemia, onde podemos citar: a falta de monitoramento de casos e óbitos de quilombolas por parte das autoridades sanitárias, a subnotificação quanto aos dados relacionados ao coronavírus, visto que, mesmo com a vacinação de alguns quilombolas, não há identificação dos mesmos nos cartões de vacinação, por exemplo, inviabilizando um possível acompanhamento referente à quantidade de pessoas nos territórios, vacinados de fato.

 O vácuo deixado pelo distanciamento pós-morte devido ao isolamento pelo alto contágio da doença, invade culturas, crenças nas quais quebram ciclos nunca antes desvinculados. O site Inumeráveis busca permitir que essas pessoas sejam vozes, através dessas histórias compartilhadas, que essas vidas perdidas não se resumem a luto, mas sim em lutas, pois cada uma narrativa escrita, descreve o ciclo percorrido por cada pessoa.

“Tia Uia passou a vida demarcando territórios quilombolas, contando sua história como quem faz uma oração. Para mim é uma honra escrever sobre ela e amplificar a voz dos quilombolas e das minorias”, ressalta Veiga.

 Ver histórias contadas por quilombolas nesses portais, traz um importante significado para todo contexto atual em que vivemos, onde a opressão, a intolerância, a violência são visíveis em todos os espaços ocupados por quilombolas. Entretanto, por meio dessas iniciativas, há uma identificação da sociedade quanto à representatividade, à diversidade, além do fortalecimento da importância dos povos quilombolas.

 

 

Leia a história de Tia Úia no site: Inumeráveis 

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