15 mar

Coletivo de Mulheres da Conaq se manifesta à respeito dos casos de feminícidio contra quilombolas

Mês de março e a dor do assassinato de Mulheres quilombolas.

Entramos no mês de março, passamos pelo Dia Internacional das Mulheres mas infelizmente, enquanto mulheres quilombolas, não temos muito o que comemorar.

No dia 12 de Março deste ano mais uma mulher quilombola foi brutalmente assassinada. Gleyce Santos, de 19 anos, filha da comunidade quilombola de Coqueiros, situada no interior do município de Mirangaba, no estado da Bahia, segundo o noticiário, foi encontrada morta com sinais de violência e estrangulamento, indícios de um crime de feminicídio.

Mas o que é o feminicídio?

Segundo o Código Penal Brasileiro, feminicídio é “o assassinato de uma mulher cometido por razões da condição de sexo feminino”. O feminicídio envolve ainda a: “violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher”. Ou seja, a morte de uma pessoa pelo simples fato de esta ser uma mulher.

A Lei que incluiu o feminicídio no Código Penal brasileiro foi criada entre 2012 e 2013, com muita luta das mulheres para evidenciar as violências que vêm sofrendo historicamente. E infelizmente com as mulheres quilombolas não é diferente. A violência que nos atinge vem carregada de muitas camadas. E hoje entendemos que é alimentada pelo racismo e pelo machismo em achar e reproduzir a ideia que “mulheres são inferiores aos homens”.

Esse é um pensamento arcaico e também fruto da colonização, que desde a chegada neste território vem violentando corpos e culturas, e reproduzindo a ideia equivocada de que mulheres são objetos. Nos perguntamos diariamente, como redigir uma carta e o que dizer para que essa matança possa acabar? O que ainda não foi dito? O que mais precisamos fazer??

As estatísticas e os dados nos mostram gritando que as violências contra as mulheres negras é histórica e presente, e tristemente vista como aceitável. A pesquisa Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, desenvolvida pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e a Terra de Direitos já nos mostrou isso: https://conaq.org.br/noticias/pagina-especial-pesquisa-quilombola/

Hoje enfrentamos muitas formas de violência, dentre elas as violências: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial. Enfrentamos ainda a violência racial, geracional, territorial, em decorrência de nossas orientações sexuais, e até mesmo por causa da região de origem, pelo nosso jeito de falar, de vestir, de viver. As mulheres quilombolas estão morrendo. Estão adoecendo. Estão sofrendo.

Pois nós dizemos, perante a lei dos homens e a lei de Deus: nós mulheres quilombolas, não aceitaremos mais essa visão antiquada. Não aceitaremos mais morrer pelas mãos dos que deveriam se responsabilizar coletivamente pelas nossas vidas, sejam eles os homens de nossos territórios, nossos “companheiros”, ou o Estado Brasileiro.

Por Gleyce, por Mãe Bernadete, por Elitânia, por todas que vieram antes de nós, e pelas que virão depois, nós dizemos: Não aceitaremos mais que violem nossos corpos, e nossos territórios. E dizemos mais: Aos agressores, se preparem, porque nós os enfrentaremos, com os modos e recursos que forem necessários. Não aceitaremos mais ver a dor de nossas companheiras, e não vamos mais aceitar caladas a perda da vida das mulheres quilombolas.

O tempo do silêncio acabou.

– Coletivo de Mulheres da CONAQ

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