25 ago

CARTA DE AGRADECIMENTO POR TODA SOLIDARIEDADE RECEBIDA NA GREVE DE FOME POR JUSTIÇA NO STF

Creio no direito à solidariedade e no dever de ser
solidário. Creio que não há nenhuma incompatibilidade
entre a firmeza dos valores próprios e o respeito pelos
valores alheios. Somos todos feitos da mesma carne
sofrente. Mas também creio que ainda nos falta muito
para chegarmos a ser verdadeiramente humanos.
José Saramago

 

 

Companheiros e companheiras
Estamos terminando uma greve de fome de 26 dias, saciados pelo legado de luta
e resistência do nosso povo. Nestes dias nos colocamos em combate numa ação dura, mas
com muita convicção da importância de enfrentar o golpe em curso e as graves
consequências da profunda crise existente na sociedade brasileira que atinge
principalmente a vida e a casa dos mais pobres. E neste contexto, compreendemos que a
luta pela liberdade de Lula representa a luta pela liberdade do próprio povo e por justiça
no judiciário, especialmente no STF.
Fizemos a greve como uma tarefa militante, a partir da definição política de nossos
movimentos e organizações, inspirados no exemplo revolucionário de resistência ativa,
pacífica e nem um pouco passiva. Mas no decorrer do processo, para além da tarefa
militante, fomos compreendendo de diversas formas o sentido da solidariedade
comprometida que nos irmana nesta grande luta. Vocês não imaginam o que foi
experimentar e conviver nesses dias todos, com tantas manifestações solidárias de um
profundo humanismo.
Nos acompanharam quatro médicos fantásticos e uma cuidadosa equipe de saúde,
que soube ouvir atentamente os nossos corações e os dilemas de nossas mentes. Tivemos
o acompanhamento permanente de diversos dirigentes de nossos movimentos, que nos
deram literalmente o braço e o ombro amigo.
Recebemos cartas e mensagens de diversas cidades do Brasil e do mundo, com
manifestações de apoio por parte de organizações políticas, mas também de muitas
pessoas que individualmente se solidarizavam com a causa e o gesto da greve de fome.
Dentre as cartas, recebemos uma mensagem nominal, expressando orgulho e admiração,
escrita com o próprio punho do presidente Lula, em solidariedade à nossa ação política.
Durante todos os dias recebemos visitas, que nos demonstravam de forma
companheira que ninguém ali estava só. Foram horas e horas de diálogo sobre a realidade
brasileira e as potencialidades da construção de um país soberano e popular. Aprendemos
muito com esse “entra e sai” de gente convicta e persistente, que nas batalhas cotidianas
mostram o quanto estamos do lado certo da história, provando que é possível derrotar o
poder da força bruta, de bota, de toga ou do que for. Gente como como a Caravana do
Povo do Semiárido, que saiu de Caetés, foi até Curitiba e depois passou por aqui, para
nos abraçar.
Recebemos a visita de pastores e líderes de todas as religiões e crenças de nosso
povo. Participamos das vigílias e atos inter-religiosos em frente aos tribunais e casas de
ministros do STF. Estes atos nos enchiam de energia, para seguir a luta.
Fomos acolhidos com carinho e coragem pelos irmãos jesuítas no CCB (Centro
Cultural de Brasília). A vocês todo nosso carinho e gratidão.
Também recebemos a honrosa visita do Prêmio Nobel da Paz, conquistado por
uma vida inteira de luta pelos direitos humanos, que veio da Argentina para nos visitar,
nosso querido Adolfo Perez Esquivel.
E como não citar Leonardo Boff, e sua voz reflexiva e sábia, que nos deu muita
esperança de que o Brasil tem jeito e que um dia o povo assumirá o poder.
Recebemos ainda a visita dos candidatos Fernando Haddad e Manuela D’ávila,
além de diversos parlamentares que fizeram questão de nos ouvir e se solidarizar.
Fundamental destacar também nosso reconhecimento à solidariedade recebida por
parte da comunidade artística, seja pelo envio de vídeos que circularam nos nossos meios
de comunicação popular e também pela calorosa visita de Osmar Prado, Chico César,
Tuca, Luís Fernando Lobo, Zé Mulato e Cassiano, entre outros.
Vibramos com entusiasmo ao ver as mobilizações de solidariedade à greve de
fome se multiplicarem nos estados, nas capitais e em várias cidades do interior, nos atos
inter-religiosos e vigílias em frente aos tribunais deste país. A cada nova mobilização,
víamos a importância de manter uma chama de resistência sempre acesa, para incendiar
o desejo das transformações sociais que tanto necessitamos.
Nunca devemos desanimar. Quem trabalha na organização do povo, não tem o
direito de ser pessimista.
Da nossa parte, podem contar sempre conosco, em todas as trincheiras, e se
preciso for, saibam todos e todas que ainda podemos voltar a fazer greve de fome, e agora
com mais experiência, certamente ficaremos ainda mais dias.
Um forte e fraterno abraço a cada militante e lutador, lutadora de nosso povo
brasileiro, que atuam nos mais diferentes espaços sociais, das igrejas, escolas, moradias,
fábricas, campo, nas praças e nas ruas.

Brasília, 25 de agosto de 2018.
Jaime Amorim, Zonália Santos, Rafaela Alves, Frei Sergio Görgen, Luiz Gonzaga
Silva – Gegê, Vilmar Pacífico e Leonardo Nunes Soares.

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