07 mar

A divisão do feminismo

Dentro do movimento, novas vozes aparecem para questionar o modelo elitista, de classe média branca e urbana, e mostram a diversidade na emancipação feminina

Crédito: Reprodução

>> Jeanny Lima O transfeminismo é a introdução de mulheres trans no movimento feminista. Essa corrente defende a individualidade de cada uma que não deve ser diretamente associada ao sexo biológico (Crédito: Reprodução)

Mariana Ferrari

NEGRO>> Mulheres do movimento negro entendem que só é possível se autointitular feminista se a luta estiver associada ao antirracismo e a democracia social. Uma luta não exclui a outra, ambas são indissociáveis (Crédito:Claudio Gatti)

O feminismo tradicional não representa a luta de todas as mulheres e está repleto de problemas que atrapalham o seu desenvolvimento. Historicamente, o movimento feminista tem oprimido grupos minoritários ao transformar em voz única, uma luta que, na verdade, é plural. Ao não serem contempladas nas reivindicações que surgem principalmente de uma classe média branca, urbana e elitizada, mulheres negras, indígenas, quilombolas e LGBTs apresentam outras narrativas que estão expondo divergências importantes no debate feminista no Brasil. Há diversas formas de ser mulher no mundo e as diferenças sociais e de experiências são mais determinantes do que parecem. “São mulheres pensando em um novo projeto de sociedade, em que não haja hierarquia e que não seja moldado por opressões”, resume a filósofa Djamila Ribeiro, autora de clássicos no tempo como “Quem tem medo do feminismo negro?” e “Lugar de fala”.

Na questão de identidade e reconhecimento, a população feminina em áreas rurais ou nas florestas pouco ou nada se identifica com a palavra feminismo

Quando as mulheres olham para a luta feminista pensando em suas próprias vivências, surge uma lacuna entre o individual e o coletivo que impede o avanço do movimento. Ao se abrir a discussão coletiva, as mulheres das chamadas bases de opressão defendem a empatia como o principal caminho de união feminina. São trazidas para o debate realidades até então tornadas invisíveis por uma narrativa única e hegemônica. Importante destacar que não se trata de uma competição entre as mais ou menos oprimidas: o que se defende é o fortalecimento da luta a partir de um olhar direcionado para as socialmente mais fragilizadas. “A gente que é mulher e negra não tem como escolher qual opressão é mais importante. A gente pensa nas opressões de maneira indissociável”, completa Djamila.

“O feminismo branco passa longe das nossas demandas” Givânia da Silva, integrante do movimento quilombola

QUILOMBOLA >> Antes da autonomia vem a luta pela terra. Essa é a principal defesa das mulheres de comunidades negras descendentes de africanos escravizados no Brasil. As questões urbanas não atingem as rurais. Essas mulheres nunca puderam ser o sexo frágil (Crédito:Divulgação)

Há um episódio que narra muito bem a desigualdade social e racial na luta contra o sexismo. Durante um encontro de mulheres feministas brancas, Leila Gonzalez, uma das maiores pensadoras do tema no Brasil, levantou a importância em se debater a falta de saneamento básico entre as classes pobres. O grupo escutou o pedido com desinteresse e Leila explicou que pensar no acesso às necessidades básicas era fundamental porque dizia respeito à sexualidade. “Para uma mulher negra alcançar o que é a exclusão da mulher branca ela tem de dar um salto de qualidade na sua condição social”, diz Rosane Borges, pesquisadora de relações raciais e de gênero no Centro Multidisciplinar de Pesquisas em Criações Colaborativas e Linguagens Digitais (Colabor), da Universidade de São Paulo.

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