Notícias

26 de maio de 2025

Sessão Solene na Câmara dos Deputados celebra os 29 anos da CONAQ com homenagens e reflexões sobre a luta quilombola

Parlamentares, lideranças quilombolas e aliados se reuniram em Brasília para marcar quase três décadas de resistência, conquistas e desafios enfrentados pelo movimento

O Plenário Ulysses Guimarães, na Câmara dos Deputados, foi palco de uma emocionante Sessão Solene em homenagem aos 29 anos da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). A cerimônia realizada , proposta pela deputada federal Jackeline Rocha (PT/ES), reafirmou o protagonismo da população quilombola na construção de uma sociedade mais justa e plural, e destacou os desafios ainda enfrentados por essas comunidades em todo o território brasileiro.

Com o plenário repleto de lideranças quilombolas, parlamentares e representantes do governo federal, a sessão foi marcada por discursos potentes e emocionados, que uniram memória, denúncia, resistência e ancestralidade. Entre os presentes na mesa de honra estavam nomes históricos da luta quilombola, como Jhonny Martins, Edna Paixão, Sandra Braga, Maria do Carmo e José Silvano, além da deputada Erika Kokay (PT/DF) e do secretário do SQPT do Ministério da Igualdade Racial, Ronaldo dos Santos.

“A CONAQ é um instrumento de luta coletiva”

A deputada Jackeline Rocha abriu a sessão exaltando a força das mulheres negras e indígenas na construção da democracia brasileira, ainda marcada, segundo ela, por exclusões estruturais. “Não vivemos uma verdadeira democracia racial”, afirmou. Rocha destacou a importância da CONAQ como uma entidade que representa muito mais do que a articulação política: “Ela encara a existência, a ancestralidade e a força viva do povo quilombola. É instrumento de luta contra o racismo, pela terra, pelo direito de existir com dignidade.”

Ela também rememorou os territórios quilombolas do Espírito Santo e destacou o trabalho da CONAQ na formação política, incidência institucional e reafirmação da voz negra no campo.

“Foi em 1995 que conseguimos o primeiro título de terra”

O coordenador executivo da CONAQ, José Silvano, trouxe uma retrospectiva histórica da luta quilombola, relembrando a primeira titulação de território quilombola no Brasil, em 1995, na comunidade de Boa Vista, em Oriximiná (PA). Ele convidou todos para a celebração dos 30 anos dessa conquista em 2025 e afirmou: “A titulação foi o início da nossa luta institucional. Desde então, avançamos muito, mas ainda há um caminho longo a percorrer.”

“Mulheres quilombolas são protagonistas”

A professora da Universidade Federal do Pará e representante do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Vilma Coelho, homenageou especialmente as mulheres quilombolas. “Quando a mulher quilombola tomba, o quilombo se levanta com ela”, afirmou, emocionando o público presente. Vilma destacou o papel da CONAQ como referência nacional na afirmação da cidadania e na resistência coletiva frente às violações históricas.

“A CONAQ está presente em todas as conquistas”

Veterano na CONAQ desde os 18 anos, Jhonny Martins reforçou o papel indispensável da organização na formulação de políticas públicas no Brasil. “Desde cotas até políticas ambientais e direitos das mulheres, a CONAQ sempre esteve na linha de frente”, declarou. Ele ressaltou a importância de ocupar espaços como o Congresso Nacional para garantir que as vozes quilombolas sejam ouvidas onde as decisões são tomadas.

“Não é só comemoração, é cobrança por titulação”

Liderança do movimento, Sandra Braga lembrou que a celebração dos 29 anos é também um momento de cobrança. “Precisamos de orçamento e ações efetivas para garantir a titulação dos nossos territórios. O tempo da espera já passou.” Ela fez um apelo direto ao Congresso, pedindo urgência na regulamentação dos direitos quilombolas, sobretudo o direito à terra, ainda negligenciado por muitos governos.

“29 anos de uma menina que luta”

Vice-presidenta da organização Negra Anastácia e membro da CONAQ, Edna Paixão iniciou sua fala pedindo licença aos ancestrais e saudando os mais velhos. Chamou a CONAQ de “uma menina de 29 anos”, que já carrega em seus ombros uma luta ancestral. Ela encerrou sua fala com uma entoada simbólica que ecoou pelo plenário:
“Quem falou que eu ando só, nessa terra, nesse chão e nesse som que eu canto só…” — um cântico de resistência e união.

“O movimento nasce da resistência ancestral”

A deputada federal Erika Kokay (PT/DF) traçou um paralelo entre o surgimento da CONAQ e os 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares. “Ela nasce para sustentar direitos, para gritar liberdade e para romper com os períodos traumáticos da nossa história”, disse. Kokay destacou que a CONAQ é “raiz, caule e folha da árvore da ancestralidade”.

“A CONAQ tem muitos pais e mães”

Encerrando as falas da mesa, o secretário do SQPT do MIR, Ronaldo dos Santos, homenageou os fundadores da CONAQ e lembrou que a organização nasceu da necessidade de dar forma à resistência negra rural. “Foi uma das tarefas mais relevantes da virada do século. Pessoas de todo o país construíram esse movimento com sangue, suor e dignidade.”

29 anos de história, luta e construção de futuro

A sessão foi encerrada com aplausos e cantos entoados pelas lideranças presentes, deixando claro que os 29 anos da CONAQ não são apenas motivo de celebração, mas de renovação do compromisso com a justiça social, a demarcação dos territórios e a defesa dos direitos das comunidades quilombolas. A presença da CONAQ no Congresso Nacional é, acima de tudo, um ato de afirmação: os quilombos vivem, resistem e se reinventam com voz, com luta e com ancestralidade.

Viva a CONAQ! Viva os quilombos!