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12 de fevereiro de 2025
Rompimento de barragem de garimpo ilegal em Porto Grande (AP) ameaça vidas de quilombolas da região
Desastre ambiental no estado contaminou principais rios e seus afluentes; danos ainda estão sendo mensurados
Na última terça (11), o rompimento de uma barragem de um garimpo ilegal em Porto Grande, no Amapá, gerou um grave desastre ambiental. O incidente resultou na liberação de uma grande quantidade de rejeitos tóxicos e lama que chegaram ao Igarapé Água Preta, que deságua no Rio Cupixi, um dos principais da região e demais afluentes, colocando em risco a saúde da população e a biodiversidade local.
De acordo com informações preliminares, a estrutura operava sem qualquer licenciamento ambiental e já havia sido alvo de denúncias anteriores. Até o momento não há informações de feridos, mas diversas comunidades foram orientadas a suspender o consumo de água dos rios Amapari e Araguari. Além disso, a prefeitura decretou estado de calamidade e acionou o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.
Ainda de acordo com a prefeitura do município, uma enxurrada de rejeitos teria começado no distrito de Cupixi e se estendido por mais de 100 km. O incidente também provocou o desabastecimento de água na região, ocupada por quilombolas e ribeirinhos.
No entanto, até o momento as autoridades citaram as comunidades quilombolas que vivem na região e já haviam alertado também para situação do Rio Cassiporé, cujo as condições encontram-se semelhantes. “A água está quase da mesma cor. E a gente não vê uma ação do estado, da União, do município para trabalhar essa questão aí da poluição. É um negócio grave essa poluição ambiental do rio. Muito grave mesmo. Fora isso, tem o Mercúrio também, né? Outra situação muito grave”, afirmou um quilombola da região.
O senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) compartilhou imagens do local e afirmou que está acompanhando a situação ao lado de autoridades do governo do estado, com o prefeito da cidade, Elielson Moraes (MDB-AP), e com lideranças do município. “As providências necessárias para o socorro das comunidades ribeirinhas estão sendo tomadas e amanhã teremos o parecer da Concessionária de Saneamento do Amapá (CSA) sobre a qualidade da água”, afirmou em post no X, mas sem citar os quilombos que podem estar sentindo as consequências.
“No momento, as comunidades que foram afetadas foram somente ribeirinhos e comunidades tradicionais. Mas o rio se encontra com outros que afetarão algumas comunidades quilombolas. E a contaminação só é questão de tempo e vai afetar diretamente mais de 15 comunidades quilombolas. Só que elas já estão sentindo o impacto já, algumas comunidades disseram que já notaram a diferença na questão dos cardumes de peixe e abastecimento de água que nessas comunidades não tem certo saneamento, por ser distante da capital, mas eles estão sentindo a mudança na cadeia produtiva”, relatou José Andrey, Coordenador executivo (AP) e do Coletivo de Juventude da Conaq.
O governo estadual e o Ministério Público Federal anunciaram que irão intensificar investigações para identificar e responsabilizar os operadores do garimpo clandestino. Paralelamente, medidas emergenciais estão sendo adotadas para conter a disseminação dos rejeitos e minimizar os impactos ambientais.
“A Defesa Civil Estadual e a Secretaria de Meio Ambiente de Estado já estão no local, verificando se a água está contaminada e será feito um levantamento para saber de fato o número de pessoas atingidas”, Adezio Lemos, coordenador nacional da Conaq, Amapá.
O caso reacende o debate sobre os impactos socioambientais da mineração ilegal na Amazônia em pleno ano de COP 30 e a urgência de políticas públicas mais rigorosas para combater a degradação ambiental causada por essas atividades, principalmente nas regiões onde existem comunidades quilombolas que estão invisíveis perante as autoridades.
A situação preocupa e alerta para os danos de longo prazo provocados pelo despejo de rejeitos tóxicos na natureza, um exemplo é os dados de um estudo prévio da região: “Contaminação por metais pesados em peixes e água da bacia do rio Cassiporé, Estado do Amapá, Brasil”. Ou seja, a água contaminada pode comprometer ecossistemas inteiros, além de impactar a economia local, que depende diretamente da pesca e de outras atividades ligadas aos recursos naturais.
Fontes: Adezio Lemos, José Andrey, Iraci Silva e Nubia Cristina
Texto por Thaís Rodrigues CONAQ/Uma Gota No Oceano, publicado às 18:17:33
Categoria: Meio Ambiente