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3 de fevereiro de 2025
Religiões de matriz africana: o papel dos quilombolas no resgate da doutrina que ainda sofre intolerância
Práticas ainda sofrem preconceito em um país que se diz laico
Se existe um povo que zela e são verdadeiros guardiões da cultura afro-brasileira são os quilombolas. Desde o período colonial, os quilombos se tornaram espaços de resistência e preservação das tradições africanas, e um dos aspectos mais marcantes desse legado são as religiões da Terra-Mãe.
Atualmente, comunidades espalhadas pelos quatro cantos do Brasil têm desempenhado um papel essencial no resgate e fortalecimento dessas práticas espirituais, promovendo a valorização e o reconhecimento de sua importância histórica e cultural. Contudo, tendo em mente o dia de Iemanjá, celebrado em 2 de fevereiro para ampliarmos a perspectiva e entender mais dessa ligação ancestral é preciso estar ciente da história envolvendo a religião ao longo dos anos. Confira!
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Celebração do dia de Iemanjá (02/02) em Salvador, Bahia. Crédito: Francys Eliza
Resistência religiosa
Durante os 388 anos de escravidão no Brasil, as práticas religiosas africanas foram perseguidas e reprimidas pelos colonizadores, que tentavam impor o cristianismo. No entanto, nos quilombos, essas tradições foram mantidas vivas, muitas vezes em segredo, através da oralidade e de rituais adaptados.
O sincretismo religioso foi um dos mecanismos de sobrevivência, permitindo que elementos das religiões de matriz africana fossem mesclados com práticas cristãs para escapar da repressão.
O papel dos quilombos na preservação das religiões afro-brasileiras
No entanto, com o passar dos séculos, os quilombolas não apenas mantiveram, mas também resgataram práticas religiosas que haviam se perdido. Terreiros de Candomblé e Umbanda foram restabelecidos em diversas comunidades, resgatando os cultos aos Orixás e Inquices. Vale enfatizar que esses espaços não são apenas centros religiosos, mas também locais de educação e transmissão de saberes ancestrais.
Manutenção cultural através de rituais e festas
Alguns dos elementos centrais do resgate espiritual promovido pelos quilombolas são através dos festejos e celebrações religiosas. Entre eles podemos destacar a Congada, o Batuque e o Bumba Meu Boi como expressões da fé e da cultura afro-brasileira, reunindo dança, música e devoção em celebrações vibrantes. Além disso, os rituais de iniciação e os cultos comunitários são essenciais para fortalecer os laços entre os participantes e garantir a continuidade dessas tradições.
Desafios e luta contra preconceito
Apesar de estarmos em pleno século XXl e com o mundo globalizado onde as pessoas têm acesso a informação na palma da mão, ainda há quem escancare a sua intolerância com as religiões de matriz africana sempre associando-as a algo ruim. Ainda mais no Brasil onde o país é considerado laico, ou seja, que não adota oficialmente nenhuma religião e que deve tratar de forma igual todas as fés e compreensões filosóficas da vida.
No entanto, os quilombolas seguem resistindo, promovendo o reconhecimento e a proteção desses saberes. Atualmente há uma quantidade expressiva de projetos culturais e educativos que têm sido fundamentais para disseminar o conhecimento sobre essas práticas, combatendo a discriminação e incentivando o respeito à diversidade religiosa.
Então, conseguiu perceber como o resgate das religiões de matriz africana pelos quilombolas é um testemunho da sua força e resiliência? Ao manterem vivas suas tradições espirituais, eles não apenas preservam a memória de seus ancestrais, mas também fortalecem sua identidade e contribuem para a diversidade cultural do Brasil. Por isso, que façam valer de fato a valorização, respeito e a garantia da proteção dos líderes que mantêm essas práticas essenciais e garantem a continuidade desse rico patrimônio imaterial.
Texto por Thaís Rodrigues CONAQ/Uma Gota No Oceano, publicado às 21:32:26
Categoria: Ancestralidade Quilombola