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Quilombolas do Baixo Amazonas debatem sobre os impactos da crise climática e mineração em seus territórios
10 de agosto de 2024

Quilombolas do Baixo Amazonas debatem sobre os impactos da crise climática e mineração em seus territórios

Realizado pela comissão pró-índio, o evento “Crise climática, transição energética e mineração” ocorreu nos dias 21 e 22 de agosto, em Santarém.

“Apesar de as comunidades já viverem as consequências da crise climática, a gente ainda não tinha parado para conversar sobre isso e olhar essas questões dentro da nossa realidade”. A fala de Silvano Silva Santos, conselheiro da Malungu – Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará, demonstra a importância das comunidades quilombolas se apropriarem do debate sobre mudanças climáticas. “Já vivemos o efeito das secas e esse evento deixou muito claro como se dá essa crise”, avaliou Silvano, que é morador do Quilombo Bacabal, em Oriximiná, no Pará.

Com o objetivo de informar e engajar quilombolas de Óbidos e Oriximiná, sobre essa temática, a Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP) realizou a formação “Crise climática, transição energética e mineração”, em parceria com a Malungu Regional Baixo Amazonas. O evento ocorreu nos dias 21 e 22 de agosto, em Santarém.

“Esse evento é uma continuidade das conversas sobre mudanças climáticas que temos realizado com nossos parceiros e parceiras quilombolas. No começo do ano, falamos muito sobre a seca e agora trazemos a questão da transição energética, um tema que será muito discutido na COP em Belém”, explicou Lúcia M. M. de Andrade, coordenadora executiva da CPI-SP.

O professor e pesquisador Luiz Jardim Wanderley ministrou os dois dias da formação, que contou com a participação de 35 quilombolas além do público que acompanhou pelo canal Youtube da CPI-SP.

Um dos pontos debatidos foi a necessidade de entender quem são os verdadeiros responsáveis pela crise climática. “A gente observa que as comunidades se culpam pela crise climática que acontece hoje. O pessoal fica até preocupado com o uso das suas rabetas, dos seus barcos e não tinha essa visão do problema ambiental como um todo, como um planeta. O professor apresentou para a gente quem são os grandes causadores. Foram muitas informações para a gente trabalhar dentro das nossas comunidades, nas nossas organizações, se planejar e pensar estratégias”, relatou Silvano.

O papel da mineração na transição energética e os desafios que isso traz para as comunidades tradicionais foi outro tema de destaque do evento. “No contexto da transição energética, o setor da mineração que estava lá cheio de problemas agora passa a se vender como a solução para a crise climática”, explicou Luiz Jardim Wanderley. No entanto, o aumento da mineração para atender a transição energética é problemática, uma vez que a atividade causa impactos socioambientais significativos e mesmo desastres ecológicos, como os que ocorreram em Brumadinho e Mariana.

É inegável que todos irão sentir os efeitos das mudanças climáticas, porém algumas populações serão mais impactadas. No caso de povos e comunidades tradicionais, a crise climática afeta diretamente os modos de vida, alterando a sua forma de se organizar, a cultura, a alimentação, entre outros impactos. “A gente está sentindo na pele a questão da seca que prejudicou muito nossos territórios, a gente sentiu o impacto na agricultura e na saúde também. Mas a gente não tinha parado para pensar sobre os grandes responsáveis por mexer assim com o clima, com o meio ambiente, como as grandes empresas, muitas vezes de outros países”, comentou Cleuciele Batista dos Santos, da coordenação da associação da Terra Quilombola Cabeceiras, no município de Óbidos.

A busca por justiça ambiental foi destacada como essencial para garantir que as políticas de combate às mudanças climáticas protejam os mais vulneráveis e promovam igualdade de condições, abordando questões como desigualdade de gênero e raça.

“É muito bom quando a gente consegue ter essas conversas, se reunir. Agora é voltar para os nossos territórios e debater com nossas comunidades, levar o que a gente aprendeu”, finaliza Cleuciele.