01 nov

Territórios quilombolas são vítimas de Agrotóxicos nas Águas do Pantanal

 

A pesquisa realizada de maio a junho de 2021 identificou a contaminação das águas de rios, poços artesianos, tanque de piscicultura, água da chuva e reservatórios que abastecem as comunidades quilombolas Jejum e Chumbo em Poconé – MT.

Por Maryellen Crisóstomo – com informações da FASE/MT

Lideranças quilombolas do Pantanal têm denunciando os impactos do uso de agrotóxicos nas grandes lavouras da Região. Fator que prejudica os modos de vidas nos territórios.

Lideranças reunidas com a Vigilância Sanitária em Março/2021 para denuncia a poeira tóxica de agrotóxicos. Foto: Arquivo FASE

A Ong FASE divulgou no último dia 22/10/2021 os resultados da pesquisa realizada em Mato Grosso que apontam a presença de oito agrotóxicos nas águas que abastecem comunidades quilombolas no município de Poconé na Planície Pantaneira. 

Dos oitos agrotóxicos identificados, 05 deles se encontram banidos em países da União Europeia, Canadá e Austrália, por apresentarem risco à saúde da população e do meio ambiente. 

Fran Paula ressalta que a contaminação é consequência da expansão agrícola no Pantanal matogrossense. “O resultados das análises de água que coletamos demonstra como o aumento da utilização de agrotóxicos nesta região pantaneira tem exposto comunidades quilombolas e tradicionais. Isso pode estar associado ao avanço da fronteira agrícola da soja no bioma. As comunidades se encontram ilhadas em meio a fazendas de soja e pastagem, e sofrem com a exposição ao veneno”, pontua. 

Já foi informado a situação aos órgãos públicos responsáveis pela fiscalização do uso de agrotóxicos na região, tivemos no início do ano mais de 15 pessoas contaminadas durante a colheita de soja por uma poeira tóxica neste mesmo território, o que observamos é um não cumprimento da lei, se planta soja e pulveriza veneno praticamente em cima das casas e fontes de águas e isso é ilegal e se configura ainda como um processo de violação de diretos humanos, considerando a água ser um bem comum e essencial a vida.

Se tratando do Pantanal que possui águas bem superficiais, esse veneno vai sendo carregado por quilômetros e impactando todo o bioma e várias comunidades. 

Entre os agrotóxicos identificados nas amostras de águas estavam: Atrazina, Picloram, 2,4D, Fipronil, Clorimurom-etílico, Tebuconazol, Clomazone e imidacloprido. 

Para a Professora Dra Marcia Montanari do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador (NEAST) da Universidade Federal de Mato Grosso, organização parceira da pesquisa, a presença de agrotóxicos nas águas pode representar um risco à saúde.

“Podendo se manifestar através das intoxicações agudas que são os sintomas que aparecem entre 24 e 48 horas após o contato com os agrotóxicos (irritação na pele e nos olhos, coceiras, náuseas, vômitos,tontura e dores de cabeça) e os sinais e sintomas crônicos. Estudos já apontam que a exposição lenta e gradual a agrotóxicos, em contato com as células humanas, vão alterar a capacidade de replicação do  DNA, causando mutação genética e ocasionando a formação de tumores e câncer.  Além disso, afetam o sistema endócrino e podem causar diversas doenças como diabete, hipertireoidismo, doenças renais, dentre outras doenças relacionadas ao sistema hormonal. E também podem afetar o sistema reprodutivo, causando má formação fetal e contribuindo para o aborto. Entre os agrotóxicos identificados citamos o Imidacloprido que afeta o sistema neurológico podendo provocar desorientação e se agravar para ansiedade e depressão entre outros”, ressalta a pesquisadora. 

Moradores registram a aparição de peixes mortos em Março de 2021. Foto Arquivo FASE

O relatório técnico com resultados das análises foi encaminhado ao Fórum de Combate aos impactos dos agrotóxicos em Mato Grosso que é coordenado pelo MPT e ao Ministério Público Federal – MPF, bem como informado ao poder público do município de Poconé para medidas cabíveis para a proteção do meio ambiente e saúde das populações quilombolas. 

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