24 jan

No Dia Internacional da Educação, CONAQ reforça importância do ensino de qualidade e fim das desigualdades enfrentadas por estudantes quilombolas

Imagem de capa: Professor Luiz Ketu é professor em escola dentro de comunidade quilombola

 

Por Letícia Queiroz

Educação antirracista, antimachista, que assegure a diversidade, inclusiva e que cumpra efetivamente as diretrizes para a Educação Escolar Quilombola. Esses são alguns dos pontos abordados por educadores quilombolas neste 24 de janeiro, Dia Internacional da Educação. A data serve para reforçar a importância do ensino de qualidade e refletir sobre as desigualdades enfrentadas por estudantes, principalmente em comunidades tradicionais, como quilombos, aldeias, periféricos e nas zonas rurais.

Conforme Givânia Silva, educadora quilombola e coordenadora da Coordenação Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), apesar de todos os esforços e dos 20 anos da implementação da  Lei 10.639 – que tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira – ainda há muitas barreiras que atrapalham o ensino para grande parcela da população.

“Esse Dia Internacional da Educação deve nos trazer dois apontamentos: celebrar as nossas conquistas, reafirmando que é numa sociedade democrática que nós podemos avançar na educação, e ao mesmo tempo reconhecer o grande desafio que temos pela frente. Que seja um ponto de continuidade das nossas reflexões sobre educação, racismo, desigualdade e democracia”, disse Givânia.

Professor quilombola defende educação antirracista

O professor quilombola Luiz Ketu dá aulas de inglês e projeto de vida em uma escola pública localizada no quilombo André Lopes, em Eldorado – São Paulo. A unidade atende estudantes de sete quilombos do município. O educador também defende o ensino antirracista.

“O ato de dar aulas para crianças e adolescentes quilombolas é um ato revolucionário, importante, visando uma educação antirracista, que visa quebrar os preconceitos existentes na sociedade e também a valorização dessa criança, desse jovem dentro desse território sagrado que é nosso território ancestral”, explicou Luiz.

 

O professor diz que são muitos os desafios para educadores, alunos e alunas quilombolas. Conforme Luiz, na região as legislações sobre a educação escolar quilombola não estão em vigor e nas escolas há problemas estruturais.

“Junto com a educação o poder público deve ter um olhar para a questão das estradas, do transporte público, de infraestrutura das escolas para que os/as estudantes tenham pleno acesso enquanto cidadão e cidadã.”

É que as escolas quilombolas são as que menos oferecem estrutura adequada aos estudantes, como bibliotecas, laboratórios de informática, áreas de lazer e acesso à internet de qualidade.

Ana Clara é aluna da Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas

Ana Clara Alves Gonçalves tem 15 anos, é quilombola e mora em uma comunidade em Feira de Santana, na Bahia. A adolescente entende bem os desafios citados por educadores que atuam dentro dos quilombos. “O ensino na minha escola é razoável, mas acho que tinha que ser mais voltado para a nossa realidade, porque a escola está situada em um quilombo. Uma escola ideal para mim é uma escola que aplique o ensino para a realidade que nós estamos vivendo hoje”, disse Ana Clara.

A jovem conta enfrenta situações que podem reduzir o nível de aprendizado. “A merenda é de baixa qualidade e sempre repete as mesmas coisas. E internet é complicada. Nós alunos não temos acesso, e isso não é de agora. Isso deveria melhorar, porque é muito importante ter internet na escola”, disse Ana Clara.

Pensando em alunas como Ana Clara a CONAQ, com apoio do Fundo Malala, criou a Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombolas. Desde novembro de 2022 Ana Clara e outras meninas e meninos de todo o país participam de encontros virtuais com lideranças e educadores e educadoras quilombolas. O objetivo é fazer com que estudantes quilombolas lutem por uma educação de qualidade e por outros direitos.

“Com a Escola Nacional estou tendo a oportunidade de conhecer a realidade de quilombos em diversos estados”, contou Ana Clara.

Saiba mais sobre a Escola Nacional de Formação de Meninas Quilombola

Para contribuir com a Educação Escolar Quilombola a CONAQ também realizou, no ano passado, o Curso de Formação de Professores e Professoras Quilombolas. O projeto totalmente online foi pensado na necessidade de assegurar oportunidades de formação avançada e continuada para professoras e professores da educação quilombola.

O curso foi apoiado pelo Edital Equidade Racial na Educação do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). As aulas semanais aconteceram às sextas-feiras, sempre com presenças marcantes de ativistas, pesquisadoras e professoras que proporcionam momentos de troca de conhecimento, aprendizado e interação de pessoas de todo o país. Foram 15 módulos com diversos temas, como: educação escolar quilombola; racismo estrutural religioso; educação jurídica; educação e orçamento; educação antirracista; histórias, memórias e luta quilombola; entre outros.

Confira aqui essa e outras ações de educação da CONAQ realizadas em 2022

Givânia Silva é professora e coordenadora da CONAQ – Foto: Fundo Malala

Mesmo com os avanços, ações e projetos direcionados, é importante que a educação seja levada a sério pelos governos federais, estaduais e municipais para proporcionar aprendizado de qualidade e sem apagamento de histórias e sujeitos.

“Que esse dia seja de reflexão sobre qual a é educação que nós temos e qual a educação que nós queremos. Eu quero continuar lutando por uma educação antirracista, por uma educação que não ignore as pessoas, que não apague a história, que não apague a memória. Que seja capaz de compreender a beleza que é o Brasil, mas também os desafios que ainda permanecem e que precisam de cada um de nós. As desigualdades só serão diminuídas se cada um de nós fizer alguma coisa para que isso aconteça”, finalizou Givânia.

 

 

 

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