LGBTQIA+ Quilombola
Por: Mayara Abreu
Hoje, 28, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ a comemoração dá lugar a luta e resistência a toda forma de opressão, preconceito e tentativa de silenciamento. Apesar dos avanços, como a alteração do nome e gênero no registro civil, o casamento homo afetivo e a criminalização da homofobia, ainda há muito o que se conquistar.
De acordo com a pesquisa do Grupo Gay da Bahia (GGB), de janeiro a junho de 2022, 135 mortes de pessoas LGBTQIA+ foram registradas no Brasil, uma queda de 20% se comparado com o mesmo período de 2021. Ainda assim, o Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ pelo quarto ano consecutivo em todo o mundo.
A falta de políticas públicas voltadas a essa população é um dos principais fatores que alimentam a homofobia e as desigualdades em relação a direitos essenciais.
POPULAÇÃO LGBTQIA+ QUILOMBOLA
“Meu maior desafio enquanto gay, negro e quilombola é que meu corpo é diariamente atravessado pelas inúmeras chagas que o sistema opressor apresenta, seja no acesso à saúde, segurança, educação e oportunidades”, desabafou Leonaldo Brandão, quilombola ribeirinho e amazônida.
A homossexualidade dentro dos territórios quilombolas, ainda é um tabu que precisa ser colocado em pauta. Existem centenas de vidas sendo vítimas da opressão acarretadas da falta de informação, crenças e tradições.
“ Sonho com o dia em que eu e todos os quilombolas LGBTQIA+ sejam respeitados nos quilombos e em todos os espaços. Queremos apenas viver e ser quem somos”, pontuou.
Os corpos negros e quilombolas lgbts resistem, mas até que ponto isso é bom? A reafirmação diária por reconhecimento dos que estão e dos ancestrais que morreram lutando pela perpetuação de direitos, por vezes machucam. Especialmente em um país que tem um LGBTfóbico e racista como presidente.
“Ser uma jovem liderança, travesti, negra, quilombola e artista, é resistir todos os dias, criando diariamente formas de enfrentamento e manutenção da vida”. Essa é a fala de Djankaw Kilombola, do quilombo Invernada Paiol de Telha, Paraná.
Djankaw, é Filha de candomblé, artista performática transdisciplinar e ativista de direitos quilombolas e ambientais. Segundo ela, apesar dos enfrentamentos e riscos que a população LGBTQIA+ ainda enfrenta, há motivos para continuar lutando por uma sociedade livre de racismo e preconceito.
“Mesmo com forças sistêmicas de violência e morte, nós LGBTs quilombolas temos construído projetos dentro e fora de nossos territórios. Resgatando práticas e valores civilizatórios ancestrais, que possam adiar o fim do mundo. Só assim permaneceremos vivas”, concluiu.
Políticas públicas prejudicadas
Apesar da necessidade de políticas públicas voltadas para a comunidade LGBTQIA+, na última segunda-feira, 27, o presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), suspendeu a liminar da Justiça Federal do Acre, a qual determinava que fosse incluída questões sobre Orientação Sexual e Identidade de Gênero no Censo Demográfico (maior pesquisa sobre a população brasileira, realizada a cada 10 anos) deste ano. Foi o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) quem recorreu da decisão.
De acordo com a determinação de José Amilcar Machado, o órgão demonstrou “impossibilidade de implementação” das respectivas exigências.
A decisão significa que a falta de dados no Censo 2022 sobre os LGBTQIA+ impacta diretamente no desenvolvimento e criação de políticas públicas para essa população, impedindo acesso a direitos básicos.
“Nossa identidade é ancestral e por mais que tentem invisibilizar nossa existência, no meio da floresta vai sempre ecoar um grito de resistência de que nós não vamos sucumbir”, concluiu Leonaldo.