16 jun

Aos 75 anos, quilombola vai à sala de aula e ensina estudantes sobre resistência negra, territorialidade e combate ao racismo

Foto de Capa: Márcia Cristina Américo

Na aula, Tia Elvira abordou o modo de vida e organização social das famílias quilombolas e a luta constante por territórios. A idosa, que compõe músicas que retratam a luta de comunidades quilombolas, encantou estudantes e professores.

Por Letícia Queiroz

A liderança quilombola Elvira Morato, conhecida como tia Elvira, do território São Pedro, na região do Vale do Ribeira em Eldorado (SP), participou no último dia 3 de junho um aulão para estudantes do Ensino Fundamental da Escola EMEIF do Quilombo São Pedro. O encontro foi realizado para enriquecer conhecimentos de crianças sobre pautas como territorialidade, resistência negra e combate ao racismo ambiental.

Considerando o diálogo interdisciplinar entre os componentes curriculares História, Geografia, Ciências e Arte, durante a aula especial a liderança abordou os assuntos com cantorias e dando exemplos da própria vivência no quilombo.

“Ela nos proporcionou o conhecimento histórico e geográfico sobre a formação da comunidade e quilombos vizinhos, a partir da escravização e resistência negra africana”, disse a professora Cristina Américo, professora e membra do Coletivo Nacional de Educação da CONAQ.

Foto: Jeniffer Rocha da Silva

No relato de experiência a liderança falou da importância da organização social local e nacional e citou a Coordenação de Articulação de Comunidades Quilombolas e Rurais (CONAQ) e outras instituições ao dar exemplo de associações e movimentos sociais que atuam contra as opressões às comunidades quilombolas e lutam contra o racismo ambiental.

Apesar da implementação das Leis 10.639/2003, 11.645/2008 e Resolução CNE/CEB Nº 08/2012 – Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Escolar Quilombola (DCNEEQ), professoras e professores de todo o país lutam para garantir que assuntos da história e cultura afro-brasileira  sejam inseridos ao currículo escolar de crianças e jovens quilombolas.

“Não dá para falar de educação de qualidade sem falar de educação antirracista. E não podemos tratar de educação antirracista sem considerar o contexto da educação escolar quilombola. Nossa prática enquanto docentes está atrelada a perspectiva da pedagogia revolucionária e de resistência, uma pedagogia profundamente anticolonial, antirracista e que se inscreva em atos contra hegemônicos, um modo fundamental de resistir a todas as estratégias de colonização racista”, disse a professora Cristina Américo.

Confira o relato completo da professora Cristina Américo (aqui)

Foto: Márcia Cristina Américo

Quem é Elvira Morato

Aos 75 anos, além de líder comunitária, Elvira Morato é lavradora, poetisa, compositora, militante do MAB (Movimento Atingidos por Barragens) e MOAB (Movimento dos Ameaçados por Barragens). Ela também é liderança da Igreja Católica de São Pedro e faz parte do grupo Roça do Vale do Ribeira e do Coletivo Mulheres Quilombolas na Luta.

A idosa foi a primeira professora leiga da escola do Quilombo São Pedro, ainda na década de 60. Elvira é fundadora da Associação Quilombo São Pedro (1980), primeira instituição criada em comunidades quilombolas da região, visando a reivindicação e garantia do território coletivo.

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