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6 de fevereiro de 2025

Maculelê: dança que une a preservação da ancestralidade e a forma de protesto quilombola

Saiba mais sobre essa prática que segue presente nos quilombos rurais e urbanos do Brasil

Os povos originários possuem em sua cultura diversas formas de expressão que funcionam também como um símbolo de resistência, identidade e ancestralidade. Esse é o caso do maculelê. Esse é um dos ritmos onde os quilombolas mantêm vivas as histórias de seus ancestrais, transmitindo saberes e valores às novas gerações.
Confira a seguir a história dessa expressão que reforça o sentimento de pertencimento e reafirma a luta pelo reconhecimento de direitos, tornando-se um ato de resistência contra a marginalização das comunidades rurais e urbanas.

História e possíveis origens

O maculelê é uma dança folclórica que simula uma luta tribal de uma arte marcial que se baseia na cultura afro-indígena-brasileira, está ligada às fazendas de cana-de-açúcar na época do Brasil Colônia.
Embora tenha origem incerta há diversas lendas, que naturalmente, vieram por tradição oral característica às culturas afro-brasileira e indígena e, inevitavelmente sofreram alterações ao longo dos anos.
Uma delas conta-se que Maculelê era um negro fugido que possuia uma doença de pele. Ele teria sido acolhido por uma tribo indígena e recebido cuidado dos mesmos, mas apesar dessa proximidade ele não podia realizar todas as atividades com o grupo, por não ser um índio.
Contudo, em uma ocasião, enquanto estava sozinho na aldeia quando a tribo saiu para realizar a atividade de caça, uma tribo rival apareceu para dominar o local. No entanto, Maculelê teria utilizado dois bastões e lutou sozinho contra o grupo rival vencendo a disputa de forma heroica. A partir daí, passou a ser considerado um heroi na tribo.

Avançando no tempo, em 1944, Popó do Maculelê teria sido um dos responsáveis pela divulgação da dança, formando um grupo com parentes e amigos da cidade de Santo Amaro (Bahia), chamado Conjunto de Maculelê de Santo Amaro da Purificação. Além desta, existem também outras comunidades, como a comunidade quilombola Monte Alegre, no município de Cachoeiro de Itapemirim (Espírito Santo), onde o maculelê ainda é passado entre gerações, com o objetivo de não perder a cultura tradicional.
Essa manifestação cultural afro-brasileira combina elementos de dança, música e luta, O ritmo foi preservado e difundido pelas comunidades quilombolas ao longo dos séculos, tornando-se um importante patrimônio cultural que expressa a força e a história do povo negro no Brasil.
Em algumas versões da história, ele teria sido praticado como uma maneira de treinamento para a defesa, disfarçada de dança.

A prática envolve:

  • Música e Percussão: O ritmo é conduzido pelos atabaques e pelo canto, que contam histórias e evocam os ancestrais.
  • Dança e Expressão Corporal: Os movimentos são vigorosos e ritmos, demonstrando energia e vitalidade.
  • Bastões: Os participantes utilizam bastões de madeira para marcar o ritmo e simular golpes, representando a luta dos escravizados.
  • Em um grau maior de dificuldade e ousadia, pode-se dançar com facões em lugar de bastões, o que causa um efeito visual provocado pelas faíscas que saem a cada golpe. Esta dança mais tarde se mesclou a outras manifestações culturais brasileiras, como a capoeira e o frevo.

Os passos possuem saltos, agachamentos, cruzadas de pernas, etc.. As batidas não cobrem apenas os intervalos do canto, elas dão ritmo para a execução de vários movimentos corporais dos dançarinos.
Dos golpes e investidas dos feitores e/ou capatazes, os escravizados se defendiam com cruzadas de pernas e fortes porretadas que atingiam principalmente a cabeça ou as pernas dos feitores de acordo com o abaixar e levantar. Além dessas defesas, eles pulavam de um lado para o outro, dificultando o assédio do feitor.
Para as lutas travadas durante o dia, eles treinavam durante a noite nos terreiros das senzalas com paus em chamas que retiravam das fogueiras, o que oferecia mais perigo ao agressor. Atualmente é uma prática bastante admirada e está incluída em eventos culturais, por exemplo.

Maculelê como Instrumento de resistência e educação

Este ritmo não é apenas uma expressão artística, mas também um instrumento pedagógico e de resistência. Muitas comunidades utilizam a prática para educar sobre a história dos quilombos, o valor da ancestralidade e a importância da luta pelos direitos dos povos negros no Brasil. Dessa forma, o Maculelê se torna um mecanismo de empoderamento social e preservação cultural não apenas nos quilombos rurais, mas também nos urbanos.

“O maculelê pode ser uma dança, pode ser uma luta, mas a gente usa ele também como um grande protesto para dizer: olha, nós estamos aqui, o quilombo tá aqui. Está faltando infraestrutura nisso e naquilo. Racismo a gente não quer por aqui e que os colégios melhore essa estrutura para falar da questão quilombola, da educação quilombola que nós fazemos, E a gente falando com a gente da gente”, Luiz Rogério Machado, “Jamaika”, líder do Quilombo dos Machado de Porto Alegre em entrevista a Série Força das Raízes da GloboNews com apoio da Conaq e da ONG Uma Gota no Oceano.

Maculelê: dança que une a preservação da ancestralidade e a forma de protesto quilombola

Incrível como a cultura quilombola possui tantas vertentes e riquezas que mantém a ancestralidade e força viva ao longo dos anos, não é mesmo? A prática do Maculelê, por exemplo, reforça o vínculo com as tradições africanas e promove a valorização da história e cultura quilombola no Brasil.

Pois isso, não vamos deixar de preservar e incentivar o ritmo que mantém viva a memória dos ancestrais e fortalece a identidade cultural das futuras gerações. Assim, a cada passo, cada batida do tambor e cada movimento serão expressadas não apenas alegria e celebração, mas também a força do nosso povo que resiste, vive e reivindica seu espaço na sociedade.