
3 de maio de 2025
Juventude quilombola em foco: protagonismo, cultura e educação marcam encontro do Projeto SETA no Quilombo do Cafundó
Visita aconteceu no terceiro dia do encontro “Experiência de Aprendizagem sobre Equidade Racial 2030”, promovido pela Fundação Kellogg em parceria com o Projeto SETA.
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), representada por Givânia Silva e Cleane Silva, marcou presença no Quilombo do Cafundó, em Salto de Pirapora (SP), durante o terceiro dia do encontro “Experiência de Aprendizagem sobre Equidade Racial 2030”, promovido pela Fundação Kellogg em parceria com o Projeto SETA – Sistema de Educação Para Uma Transformação Antirracista.
O território é um dos mais antigos do estado, tem uma trajetória marcada por resistência e ancestralidade e mantém tradições como língua própria.
Ao longo da visita, os participantes puderam conhecer de perto a história do quilombo. A programação incluiu uma oficina de confecção das tradicionais bonecas Abayomi — produzidas com retalhos de tecido e carregadas de simbolismo como expressão de resistência e herança afro-brasileira — e foi encerrada com uma roda de jongo, dança de origem africana mantida na comunidade.
Para Cleane Silva, Coordenadora Nacional da CONAQ, a visita à comunidade reafirma o papel dos quilombos na preservação da memória coletiva e da identidade cultural negra no Brasil.
“Tive o privilégio de testemunhar a importância fundamental dos processos orgânicos de transmissão das memórias coletivas dos quilombos, que reafirmam com vigor a relevância da cultura quilombola na sociedade brasileira. O Quilombo Cafundó é um exemplo radiante disso, onde a língua Cupópia ou Falange, rica em vocábulos africanos do tronco linguístico banto, é preservada e repassada às novas gerações através das cantigas de jongo”, disse.
Cleane também ressaltou o protagonismo das juventudes quilombolas, que mantêm vivas práticas ancestrais como o uso de ervas medicinais, a agricultura tradicional e a própria confecção das Abayomis.
“ A matriarca Ifigênia Maria das Dores permanece viva no imaginário e no fazer da comunidade. É inspirador ver como a juventude quilombola, orgulhosa de sua herança, domina os saberes tradicionais. Isso não apenas reafirma o papel fundamental da cultura quilombola na sociedade brasileira, mas também destacar a importância vital que essas culturas têm para as comunidades. Vivas ao Quilombo Cafundó, símbolo de resistência e orgulho da cultura quilombola!”.
Givânia Silva, cofundadora da CONAQ e coordenadora do Coletivo de Educação, informou que a visita ao quilombo foi uma experiência emocionante.
“Foi muito gratificante poder ir ao quilombo de Cafundó. Este quilombo tem uma história de resistência incrível. É uma comunidade de resistência e que tem uma história incrível com mulheres”.
Ao relembrar a memória da matriarca Vó Efigênia e da liderança Tia Cida — uma das mulheres que esteve presente nos debates iniciais da formação da CONAQ —, Givânia reforça o papel histórico das mulheres quilombolas na luta por território e dignidade. “Como eu costumo dizer: quilombo é uma invenção negra e feminina.”
Givânia também compartilhou a emoção de saber que a regularização fundiária do território aconteceu no momento em que ela fazia parte do governo do presidente Lula. Para Givânia, esse momento representa uma reparação histórica fruto da mobilização da CONAQ em articulação com políticas públicas comprometidas com os direitos quilombolas.
“Fiquei muito emocionada. Saber que todo aquele sofrimento que a comunidade teve com a perda do seu território pôde ser revertido pelas ações da CONAQ e do governo do presidente Lula, me tocou profundamente.”
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A liderança quilombola destacou a força da juventude comprometida com o futuro do território. “Ver a juventude comprometida, querendo estudar pra voltar pro quilombo, ser professor pra poder contar a história do quilombo. Por várias vezes me emocionei porque sentia parte de mim naquilo que eu ouvia contar. Foi um presente essa visita ao Cafundó”.
Experiência de Aprendizagem sobre Equidade Racial 2030
A visita foi parte da programação do encontro “Experiência de Aprendizagem sobre Equidade Racial 2030”, promovido pela Fundação Kellogg (@kelloggfoundation), em parceria com o Projeto SETA – uma aliança entre movimentos sociais e organizações negras, quilombolas, indígenas e feministas ligadas ao tema da educação.
Além da CONAQ, compõem a iniciativa a ActionAid, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Geledés, Makira-E’ta e UNEafro Brasil, organizações reconhecidas e comprometidas na atuação no campo da educação antirracista.A atuação do Projeto SETA consiste no trabalho participativo por meio da realização de pesquisas, incidência política, formações e campanhas de mobilização em prol da equidade racial na educação.
Texto por Letícia Queiroz, publicado às 14:08:44
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