
26 de março de 2025
Escola Quilombola do RS se destaca em olimpíada nacional que promove estudos, reflexões e debates de questões étnico-raciais no Brasil
Escola Quilombola do RS brilha em olimpíada nacional, promovendo cultura afro-brasileira e indígena.
A Escola Estadual Quilombola de Ensino Médio Santa Teresinha, em Maniqué (RS), foi destaque nacional na Olimpíada Brasileira de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena (OBERERI) com as pesquisas e jornada dos estudantes da equipe “Vozes Ancestrais”. A unidade foi 1º lugar no estado do Rio Grande do Sul, competindo com 22 equipes, e o 17º na categoria Ensino Fundamental entre 400 grupos que participaram da competição em todo o Brasil.
O resultado mostra que a educação escolar quilombola é essencial para a preservação da cultura e identidade, reafirmação de direitos e que tem o poder de resgatar memórias, enfrentar injustiças e de construir pontes entre diferentes culturas e gerações. A vitoriosa jornada dos estudantes remete aos ensinamentos do mestre Nego Bispo, que nos convida a “enterrar o colonialismo” e a valorizar os saberes ancestrais como ferramentas de resistência e transformação social.

A equipe garantiu uma bolsa de Iniciação Científica Júnior, permitindo que um de seus representantes aprofunde seus estudos e contribua para a valorização da história e cultura afro-brasileira e indígena.
Mas o que é a OBERERI? A Olimpíada Brasileira de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena é uma iniciativa da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN) e funciona como uma espécie de competição acadêmica que busca promover a reflexão, o debate e a conscientização sobre as questões étnico-raciais no Brasil. Com base nas Leis 10.639/03 e 11.645/08, a olimpíada visa fortalecer a implementação das diretrizes curriculares, incentivar o interesse de estudantes pela história da diáspora africana e dos povos originários, e desmistificar mitos relacionados às cotas étnico-raciais.
A conquista da Escola Estadual Quilombola de Ensino Médio Santa Terezinha é um marco histórico para a comunidade escolar e mostra o potencial transformador da educação e da força da cultura quilombola.
Professoras e professores da escola em destaque afirmam que os/as estudantes envolvidos/as estão prontos e prontas para multiplicar o conhecimento dentro da comunidade escolar, para enfrentar os novos desafios que surgirem e trilhar um caminho de sucesso, honrando o legado dos ancestrais e construindo um futuro de esperança e igualdade.
“Acompanhei com imensa alegria e orgulho a trajetória da equipe Vozes Ancestrais na I Olimpíada Brasileira de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, despertou nos alunos um brilho especial, uma sede de conhecimento e um desejo de compartilhar suas descobertas com o mundo. A ansiedade pela divulgação dos resultados, a alegria da conquista e a motivação para os próximos desafios são reflexos do impacto positivo que a olimpíada teve em suas vidas”, disse o professor Emerson Magni.
O resultado representa um processo de aprendizado coletivo, de troca de saberes e de fortalecimento da identidade quilombola. A cada etapa da olimpíada, os estudantes mergulharam na pesquisa, na investigação e na reflexão sobre a história e a cultura afro-brasileira e indígena, desvendando os fios que conectam o passado ao presente e atentos para a necessidade da construção de um futuro mais justo e igualitário.
A professora Judith Giménez López, mentora pedagógica e pesquisadora da educação escolar quilombola na EEQEM Santa Teresinha, afirma que “a OBERERI coloca os estudantes no centro das discussões e das reflexões das relações étnico-raciais, as olimpíadas através do incentivo à pesquisa, promove que os estudantes aprendam coletivamente e contribuam para uma sociedade com menos preconceitos, ao mesmo tempo que trabalham as leis 10.639/03 e 11645/08. Este resultado que a equipe Vozes Ancestrais conquistou é o resultado dos que acreditam na potência da educação quilombola. Parabéns a toda equipe”.
Os jovens envolvidos na pesquisa são: Ana Clara Nunes, Gustavo Loureiro Brandi, Larissa Gonçalves de Souza, Larissa Machado Lima, Maria Eduarda de Borba Lessa, Maria Isabelly D’Agostini da Silva, Nathaly Nunes Antonio, Nicolas da Rosa Lessa, Nicolas Rafael karloh e Pedro Lucas Ribeiro da Rosa.
Adilson Pereira dos Santos, presidente da ABPN – entidade que idealizou a OBERERI – saudou a comunidade escolar premiada. “Nos enche de alegria ter uma escola quilombola da Unidade da Federal cuja composição étinico-racial apresenta uma das menores taxas de pessoas da população negra neste lugar de destaque. O Rio Grande do Sul tem tradição na luta antirracista. Iniciativas como a do Grupo Palmares com Oliveira Silveira, entre outras, merecem e necessitam ser continuadas. O protagonismo da da Escola Santa Teresinha neste contexto nos traz alento, traz a mensagem de que a luta histórica contra o racismo e em favor da igualdade racial, travadas pelas gaúchas e pelos gaúchos, seguirá firme. Meus sinceros cumprimentos a essa juventude quilombola aguerrida de Maquiné, e a cada uma das professoras, professores, gestoras e gestores e familiares”, disse.
O Coletivo Nacional de Educação da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) parabeniza estudantes, professoras e professores envolvidos/as, entendendo que a educação quilombola é fundamental para garantir a continuidade das tradições, a valorização da identidade cultural e o fortalecimento da luta pelos direitos das comunidades quilombolas, respeitando e integrando saberes tradicionais e ancestrais. O envolvimento de jovens com a temática torna os territórios mais autônomos, fortalecendo suas capacidades de resistência e luta por justiça social e territorial.
Texto por Letícia Queiroz, publicado às 09:48:45
Categoria: Educação Quilombola