
12 de junho de 2025
Escola de Rádio e Clima encerra formação com 2h no ar e mais de 450 conexões simultâneas
Evento celebrou o protagonismo juvenil na comunicação climática com programa especial ao vivo e ampla participação online.
A disciplina Escola de Rádio e Clima, ofertada no âmbito do Mestrado em Sustentabilidade Junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT) da Universidade de Brasília, encerrou em maio de 2025 seu primeiro ciclo formativo com uma transmissão ao vivo diretamente da UnB. Durante duas horas, estudantes colocaram no ar os programas criados ao longo da disciplina, apresentando reflexões sobre comunicação popular, justiça climática e defesa dos territórios por meio do rádio.
“Bom dia meu território Apucaraninha, bom dia povos do sul, da mata atlântica, do cerrado, da caatinga, do pantanal, do pampa, da Amazônia”, abriu o jornalista indígena Yago Kaingang, coordenador de comunicação da APIB, que conduziu a transmissão ao lado do sonoplasta Cristian Wariú. “É com muita alegria que estamos no ar novamente, ao vivo, naquela que será a nossa rádio — a Rádio Nacional dos Povos.”
A programação foi o ponto alto do primeiro módulo da disciplina, que combinou 10 aulas sobre produção radiofônica, locução, formatos narrativos, roteirização, comunicação pública, justiça climática e estratégias de mobilização.
As primeiras aulas da Escola de Rádio e Clima, trouxeram um panorama histórico das conferências do clima — da ECO-92 à futura COP30 — e discutiu a estrutura da COP em Belém, com foco nas zonas de participação da sociedade civil. Com Mariana Belmont, jornalista e assessora de clima e racismo ambiental de Geledés, e Paloma Costa, jovem ativista e conselheira climática, a aula debateu justiça climática, o papel das juventudes e os desafios de representatividade nos espaços de negociação climática. Já Mara Régia, referência em comunicação ambiental com foco em gênero, e Maryellen Crisóstomo, jornalista quilombola compartilharam experiências sobre o poder da mobilização comunitária por meio do rádio.

Um dos momentos marcantes foi a visita ao Acampamento Terra Livre (ATL), onde os estudantes participaram de uma aula aberta com Mayra Wapichana, da Funai, Nathalia Purificação (coordenadora de comunicação da CONAQ), Yago Kaingang, Sâmela Sateré Mawé e Tukumã Pataxó coordenadores de comunicação da Apib). A atividade discutiu os desafios e caminhos da comunicação institucional protagonizada por indígenas e quilombolas.

Nathalia Purificação (coordenadora de comunicação da CONAQ)

Tukumã Pataxó (Comunicação APIB)

Durante a transmissão final do primeiro módulo, foram apresentados quatro programas desenvolvidos ao longo do curso: “Okekié?”, que partiu de uma pergunta ancestral para ativar escutas profundas; “Um Outro Tom”, que reuniu vozes e timbres que desafiam silêncios históricos; “Quem Foi Seu Mestre?”, uma homenagem às pessoas que ensinam a caminhar; e “Caneta de Sangue”, que refletiu sobre a palavra como instrumento de resistência e cura.
No segundo módulo, realizado em maio, a turma aprofundou o papel da comunicação como ferramenta política no enfrentamento à crise climática. A programação incluiu debates com Ykarunī Nawa (Abrinjor), Arilson Ventura (CONAQ) e Pamela Queiroz (Rádio Unaé e Caatingueira Podcast), análise crítica dos episódios do podcast e uma visita guiada aos estúdios da EBC, com participação no Programa Nacional Jovem.
O destaque dessa etapa foi a aula ministrada por Dinamam Tuxá, coordenador executivo da APIB. Egresso do próprio MESPT e recém doutor pela UnB, Dinamam retornou como professor convidado para compartilhar uma análise estratégica sobre a crise climática, os ataques aos territórios e as estratégias de incidência dos povos indígenas rumo à COP30, que será realizada em Belém (PA) em 2025.
“O Mespt é um sistema inovador. Essa inovação foi muito crucial pra mim, porque eu já estava no movimento indígena, na defesa dos povos, e queria continuar estudando. O Mestrado flexibilizou minha agenda de trabalho com a do conhecimento.
Aqui pude desenvolver mais o conhecimento dentro da política ambiental, coisas que eu não tinha visão. Esse conhecimento, somado à minha atuação, fortaleceu ainda mais meu trabalho no movimento indígena, no Brasil e nas pautas internacionais. O que acontece aqui é uma inovação e eu queria contar isso pra vocês”
Desde 2011, o MESPT já formou 113 mestras e mestres, sendo 88 oriundos de povos e comunidades tradicionais — 27 povos indígenas, 17 territórios quilombolas e 8 segmentos de comunidades tradicionais, como quebradeiras de coco, pescadoras artesanais, ribeirinhos e povos de matriz africana. Essa trajetória formativa dá lastro e legitimidade à iniciativa da Rádio Nacional dos Povos, que nasce conectada a esse ecossistema de saberes e lutas. A disciplina, ao reunir vozes de diferentes biomas, territórios e cosmovisões, inaugura uma nova fase em que o rádio se afirma como ferramenta de mobilização, memória e ação frente às crises climáticas, sempre a partir do chão e da escuta das comunidades.

Yago Kaingang (Comunicação APIB)
“Estamos aprendendo como colocar no ar uma transmissão por web rádio”, explicou Yago durante o programa. “E nesse caminho, criamos juntos nossas estratégias de luta.”
Coordenada pelas professoras Naiara Bertoli, Letícia Leite e Mônica Nogueira, a disciplina integrou o compromisso do MESPT com metodologias de ensino-aprendizagem que valorizam a escuta, os territórios, a criação coletiva e o fortalecimento das redes de comunicação indígena e quilombola.
A disciplina contou com a participação de 24 estudantes do MESPT, com perfis diversos e representatividade de diferentes regiões e povos do Brasil. A turma reuniu comunicadores indígenas e quilombolas, pesquisadores, lideranças comunitárias, educadores e ativistas ambientais, ampliando o diálogo entre os saberes acadêmicos e os conhecimentos produzidos nos territórios. A aula ao vivo alcançou 450 ouvintes simultâneos, número expressivo para uma transmissão experimental feita inteiramente pela turma, reafirmando o potencial das rádios digitais como espaços de mobilização, escuta e circulação de vozes silenciadas.
Texto por Comunicação CONAQ, publicado às 20:21:28
Categoria: Destaques