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Encontro internacional “Vozes Afrodescendentes” reforça demandas climáticas rumo à COP 30
7 de abril de 2025

Encontro internacional “Vozes Afrodescendentes” reforça demandas climáticas rumo à COP 30

Evento evidenciou as principais demandas e prioridades dos povos tradicionais de 16 países

Durante quatro dias, de 1º a 4 de abril, Brasília recebeu lideranças afrodescendentes de nove países da América Latina e Caribe no encontro internacional “Vozes Afrodescendentes a Caminho da COP 30”.

A iniciativa foi promovida pela Coalizão Internacional de Territórios Afrodescendentes e reuniu representantes de comunidades tradicionais, organizações da sociedade civil e autoridades públicas em um esforço coletivo por visibilidade, justiça climática e inclusão política.

O evento foi um marco no processo de construção de propostas que visam assegurar a participação efetiva dos povos afrodescendentes nas negociações climáticas da COP 30, que será realizada no Brasil, e nas decisões da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

Presença de nove países e anúncio histórico do governo brasileiro

Com a presença de delegações de nove países (Brasil, Chile, Costa Rica, Colômbia, Equador, Honduras, Peru, República Dominicana, Uruguai, Venezuela e Caribe) o encontro evidenciou a diversidade, resistência e contribuição dos territórios afrodescendentes na preservação ambiental e na luta contra as mudanças climáticas.

Vozes Afrodescendentes

Durante os quatro dias de diálogos e atividades ocorreram místicas de abertura e também no encerramento, um ponto que reforça não apenas a cultura mais a ancestralidade dos povos ali presentes.

Um dos momentos mais significativos foi a participação do Secretário Nacional de Políticas para Quilombolas e Povos Tradicionais de Matriz Africana do Ministério da Igualdade Racial, Ronaldo dos Santos, que, na ocasião, fez questão de enaltecer o evento.

Diálogos, articulações e construção coletiva

A CONAQ tem se mobilizado e feito diversas incidências para garantir com que a participação dos afrodescendentes ganhe visibilidade durante a Conferência de Partes. Tendo isso em mente, Bel Cabral, coordenadora executiva do movimento relatou algumas das atuações direcionadas ao evento.

Vozes Afrodescendentes

“Nossas ações visam assegurar que as vozes e os direitos dos quilombolas sejam considerados nas discussões sobre mudanças climáticas e justiça socioambiental. E, para isso, nós temos algumas das principais ações e uma delas é a criação do Comitê Quilombola da Marcha das Mulheres Negras 2025. Nós fizemos o lançamento desse comitê no dia 25 do mês passado. E ele tem o objetivo de fortalecer a luta pelos direitos territoriais e combater a violência contra as mulheres”.

Além de lideranças da CONAQ, o encontro contou ainda com a presença de parceiros estratégicos que atuam em defesa dos direitos territoriais e da justiça climática, como organizações como Tenure Facility, Rights and Resources Initiative (RRI), Uma Gota no Oceano, Instituto Socioambiental (ISA) e também a participação de outros movimentos sociais como APIB, COIAB e a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu) e representantes do Ministério de Igualdade Racial (MIR).

  • No período do evento houveram debates enriquecedores entre os participantes que abordaram temas cruciais como:
  • A invisibilidade dos povos afrodescendentes nas políticas climáticas internacionais;
  • A inclusão dos afrodescendentes na UNFCCC;
  • A urgência de justiça climática com equidade racial e étnica;
  • O impacto do mercado de carbono nas comunidades;
  • O financiamento climático que não chega na base;
  • A valorização dos conhecimentos tradicionais afrodescendentes;
  • O papel das mulheres e jovens na proteção dos territórios;
  • A luta contra o racismo ambiental e a defesa da vida em territórios ancestrais;
  • A importância da viabilidade dos afrodescendentes da Amazônia.

José Luís Rengifo do Processo de Comunidades Negras (PCN), resumiu bem como foi essa jornada na capital federal e as demais demandas da Coalizão. “Este evento para nós se tornou um cenário muito importante para poder construir e socializar todo o conjunto de propostas que temos para abordar as questões da COP 30 que será realizada aqui no Brasil. Nós como temos exigido a participação que acreditamos e temos certeza como população afrodescendente ou quilombola aqui no Brasil merecemos e ganhamos um produto de cuidado dos recursos naturais ao longo do tempo”, começou relatando e, em seguida, concluiu:
“Estamos falando de vários temas, um é a inclusão de pessoas negras no acordo sobre alterações climáticas; o segundo o reconhecimento dos povos afrodescendentes e/ou quilombolas que encontramos na Amazônia, mas que quase nunca é comentado e por último, como contar com um cenário ou esquema de financiamento climático que nos permitirá ser capazes de ter ferramentas suficientes para continuar gerenciando os problemas que tem haver com território e o cuidado dos recursos naturais”
O encontro contou com a participação de dois importantes membros da APIB e COIAB, Kleber Karipuna coordenador executivo e Alana Manchineri, gerente de comunicação, respectivamente. A presença de ambos reforçou como os povos indígenas e afrodescendentes estão caminhando juntos.

“Esse evento é mais um passo importante para a articulação das vozes indígenas e afrodescendentes em prol da proteção do meio ambiente e dos direitos das comunidades tradicionais”, publicou em suas redes a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.

“Estou muito feliz de estar aqui. A gente que sangra, que tem sangrado durante muito tempo é quem sabe falar um pouco sobre a parte do que nos aflige”, afirmou Alana da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira.

Declaração de Brasília: um chamado por justiça e reparação

Ao fim do encontro, foi elaborada e aprovada coletivamente a Declaração de Brasília, documento político que expressa as principais reivindicações da Coalizão Internacional de Territórios Afrodescendentes. Entre os pontos centrais da declaração estão:

  • O reconhecimento do papel dos povos afrodescendentes na conservação da biodiversidade;
  • A demanda por participação plena e qualificada na COP30;
  • A exigência de reparações históricas por meio de justiça climática;
  • A necessidade de garantir direitos territoriais, segurança alimentar, acesso à educação, saúde e proteção dos saberes ancestrais;
  • A importância de evidenciar o papel das mulheres afrodescendentes.

Rumo à COP 30 com protagonismo afrodescendente

O evento em Brasília reforça o papel dos povos afrodescendentes como protagonistas na luta climática global. As vozes antes silenciadas agora ecoam com força nos corredores da diplomacia climática.

Com a conferência se aproximando, cresce a expectativa para que os compromissos assumidos no encontro se traduzam em políticas concretas, com recursos, escuta ativa e respeito às especificidades dos territórios e comunidades negras.

A Coalizão Internacional de Territórios Afrodescendentes segue mobilizada para garantir que a agenda climática global seja também uma agenda de justiça racial, étnica e ambiental. Brasília foi o ponto de partida para um caminho que leva não apenas à Belém, mas também à reparação, ao reconhecimento e à dignidade.