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Acampamento Terra Livre
9 de abril de 2025

CONAQ no ATL: Caminhos cruzados na luta por territórios e justiça climática

A união entre quilombolas e indígenas em defesa das comunidades mostrou mais uma vez a sua força

O Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização indígena do Brasil está reunindo em Brasília milhares de representantes de diversos povos para reivindicar direitos e promover a articulação política das comunidades originárias na edição 2025.

Os eventos iniciaram no dia 7 e vão até 11 de abril, marcando duas décadas de existência e consolidando-se como um espaço fundamental de resistência e diálogo. E, embora seja tradicionalmente focado nos povos indígenas, a participação de comunidades quilombolas tem se intensificado nos últimos anos, reconhecendo a importância da união entre os povos tradicionais na luta por direitos territoriais e sociais.

A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) tem desempenhado um papel crucial nesse processo, fortalecendo a presença quilombola no evento.

Na última terça (8), a CONAQ esteve representada por Taís Leal durante a agenda:: Conexão Povos da Floresta: Como a conexão consciente à internet pode ser uma aliada ao fortalecimento comunitário e coletivo.

Essa iniciativa visa conectar, por meio de internet banda larga, mais de cinco mil comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas nos territórios protegidos da Amazônia Legal, promovendo inclusão digital e fortalecendo a comunicação entre essas populações. Até o momento são 1500 comunidades conectadas.

Nesta quarta (9), Biko Rodrigues, coordenador nacional e articulador político da CONAQ, acompanhou a Roda de Conversa: Financiamento e Soluções dos Povos Indígenas da Amazônia – Colhendo Frutos. Na ocasião, o evento apresentou vozes e saberes ancestrais em torno do financiamento indígena na Amazônia. Estiveram presentes grandes lideranças do Fundo Podaali, Fundo Timbira, Fundo Indígena do Rio Negro e Fundo Rutî.

Biko Rodrigues, Coordenador Nacional da CONAQ e Mário Nicácio, liderança indígena Wapichana e membro do Fundo Podaali
Biko Rodrigues, Coordenador Nacional da CONAQ e Mário Nicácio, liderança indígena Wapichana e membro do Fundo Podaali – Foto: Thaís Rodrigues

Além disso, prestigiou também o lançamento do Prêmio Ciências Indígenas: “Soluções Ancestrais pelo Clima, pela Amazônia e por Todas as Vidas”, uma iniciativa do Fundo Podaali que valoriza os saberes científicos dos povos originários.

“O ATL é um momento muito importante da luta dos povos indígenas, mas que também é uma luta também nossa, de todos os brasileiros e de todo mundo. Estamos aqui apoiando esta iniciativa de luta e resistência, entendendo que este momento fortalece ambas as pautas”, começou relatando e, em seguida, completou:
“Os povos indígenas e as comunidades quilombolas são primos, são parceiros e organizações coirmãs. A luta nossa pela defesa do nosso território, da preservação da nossa cultura. E nós somos a fronteira que impede o agronegócio de acabar com todas as redes. Lutar pelo direito à demarcação das terras indígenas é também lutar pelo direito a ter água saudável, ter alimentação de qualidade na mesa e ter floresta em pé. Lutar pela demarcação dos territórios quilombolas significa a mesma coisa Então é por isso que nós estamos aqui hoje a dizer ao mundo que a resposta somos nós”.

Coordenadora de comunicação APIB e da CONAQ: Yago Kaingang, Tukumã Pataxó, Sam Sateré-Mawé e Nathalia Purificação – Foto: Thaís Rodrigues

Mário Nicácio, indígena Wapichana que atua no Fundo Podaali, Fundo Indígena da Amazônia Brasileira segue firme acompanhando o evento e, reforçou as palavras de união do articulador da CONAQ.

“O Acampamento Terra Livre, apesar de ser um movimento organizado e conduzido pelo movimento indígena nacional através APIB, mas também tem uma grande contribuição de outros povos tradicionais, que são quilombolas, quilombolas de luta por território, por direito, e principalmente pela vida de todos. E o Acampamento Terra Livre é isso, é essa união, esse fecho de vara, e principalmente essa luta contínua que vamos dar daqui pra frente”, reforçou.

Ainda no mesmo dia ocorreu a roda de conversa da Radio Nacional dos Povos. A atividade faz parte da grade do Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (MESPT/UnB), que pela primeira vez conta com comunicadores indígenas e quilombolas da APIB e da CONAQ como docentes: Yago Kaingang, Tukumã Pataxó, Sam Sateré-Mawé e Nathalia Purificação, coordenadora de comunicação do movimento.

Foto: Thaís Rodrigues

A presença ativa dos quilombolas e de lideranças no Acampamento Terra Livre evidencia a importância da solidariedade entre os povos tradicionais na busca por justiça social e ambiental. Essa união não apenas fortalece as reivindicações por demarcação e proteção dos territórios, mas também amplia o alcance das vozes das comunidades nos espaços de decisão política nacional.