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26 de março de 2025

CONAQ lança Comitê Quilombola da Marcha das Mulheres Negras 2025

Evento foi realizado durante do movimento e tem como foco “reparação e o bem viver”

“Quando a mulher quilombola tomba o quilombo se levanta com ela”. Na última terça, 25, a CONAQ realizou o lançamento do seu Comitê direcionado à segunda edição Marcha das Mulheres Negras 2025, “Por reparação e bem viver” que vai completar uma década neste ano.

O evento que teve como sede o Sítio Terra do Sol, localizado no Setor Habitacional Arniqueiras, em Brasília, Distrito Federal, foi realizado no âmbito do Planejamento do Coletivo de Mulheres do movimento que ficará reunido entre os dias 24 e 28 de março.

O período da manhã começou animado com todas realizando uma mística antes do início das atividades previstas no cronograma. Já no início dos trabalhos, a mesa de abertura contou com a presença de Cida Gonçalves, ministra das Mulheres, Macaé Evaristo do Ministério dos Direitos
Humanos e Cidadania, Sandra Braga Coordenadora Executiva da CONAQ, Paula Balduíno representando o Ministério da Igualdade Racial e Vinólia Andrade, coordenadora do Grupo de Mulheres Negras Mãe Andressa (MA), organização que responde pela coordenação executiva da AMNB.

“Para a gente é muito importante ter aqui com a gente duas ministras, duas mulheres sensíveis à causa quilombola. E, terem elas nesse dia de planejamento é de suma importância para atender nossas reivindicações e anseios nesses ministérios tão estratégicos para nós nesse governo que ajudamos a eleger e fortalecer”, enfatizou Sandra Braga.

Saúde de qualidade, segurança e acesso pleno a todos os direitos garantidos por lei foram alguns dos temas debatidos pelas representantes de cada organização. As autoridades do Governo Federal, por exemplo, reiteraram o seu apoio à CONAQ e, consequentemente, as demandas do Coletivo de Mulheres.

Ministras Macaé Evaristo e Cida Gonçalves
Ministras Macaé Evaristo e Cida Gonçalves (Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania e Ministério das Mulheres, respectivamente). Crédito: Mylena Pereira/Comunicação CONAQ.

Durante sua fala a chefe da pasta direcionada aos direitos humanos fez questão de citar um trecho do livro “Mulheres Quilombolas – Territórios de Existências Negras Femininas” de Selma Dealdina Mbaye, Articulado Política da CONAQ para enfatizar todo o movimento de luta das quilombolas.

“Nós mulheres quilombolas temos o papel de extrema importância nas lutas de resistência pela manutenção e regularização dos nossos territórios. No quilombo ou na cidade temos sido as guardiãs das tradições da cultura afro brasileira. do sagrado, do cuidado, das filhas e filhos, das e dos griôs, da roça, das sementes, da preservação de recursos naturais fundamentais para garantia dos direitos”, pontuou.

Já a ministra das Mulheres ressaltou a importância que as mesmas possuem na sociedade ao longo dos anos através dos seus saberes e diálogos e afirmou: “Que a gente possa fechar 2025, dizendo essas mulheres, as mulheres brasileiras, as mulheres quilombolas, as mulheres negras elas não vão aceitar que volte a ditadura, não vamos aceitar que volte aquilo tivemos anteriormente há seis anos. Nós não vamos aceitar menos do que nós merecemos, do que nós queremos e nós queremos muito, não queremos pouco”.

  • Além disso, é preciso enfatizar que durante a ocasião as lideranças aproveitaram para apresentar 16 pontos principais que respondem a pergunta, porque as quilombolas marcham?
  • 1 – Pela regularização fundiária e titulação dos nossos territórios quilombolas, garantindo o pleno bem viver das mulheres;
  • 2 – Por reparação histórica por parte do estado brasileiro pelas dores geradas pela escravização das mulheres quilombolas;
  • 3 – Pela concretização dos direitos constitucionalmente garantidos, como acesso à água, luz, saneamento e condições de permanência no território;
  • 4 – Pela desburocratização do acesso ao CAF Quilombola para garantia do acesso às políticas públicas do MDA e Incra;
  • 5 – Pela ampliação e democratização do acesso ao CAR Quilombola, garantido pelo estado brasileiro nos níveis federal, estadual e municipal;
  • 6 – Pela ampliação, cumprimento e fortalecimento do Plano Nacional de Saúde Quilombola;
  • 7 – Pelo reconhecimento e valorização dos saberes ancestrais;
  • 8 – Pela soberania alimentar e a garantia da participação quilombola nos conselhos de direitos humanos a nível federal, estadual e municipal;
  • 9 – Pela garantia da justiça climática e o combate ao racismo ambiental;
  • 10 – Pela proteção da vida e dos direitos das quilombolas defensoras de direitos humanos;
  • 11 – Pelo combate à violência psicológica, física, patrimonial, territorial contra as mulheres quilombolas;
  • 12 – Pela ampliação e democratização do acesso das mulheres quilombolas às políticas públicas;
  • 13 – Pela garantia do orçamento público para as políticas de geração de renda destinadas às atividades das mulheres quilombolas;
  • 14 – Pela ampliação e garantia do acesso às políticas públicas de saúde pela construção de postos e unidades de saúde em nossos territórios;
  • 15 – Pela qualificação das mulheres e fortalecimento da educação escolar quilombola, além da construção de escolas nos territórios;
  • 16 – Pela garantia de um espaço efetivo às mulheres quilombolas enquanto protetoras de suas próprias narrativas na Marcha das Mulheres Negras em 2025.

Acha que acabou por aí? Está enganado! As últimas mesas do evento ocorreram no período da tarde dessa vez com participação de parceiros como o Instituto Socioambiental (ISA), Fundo BAOBÁ, Oxfam Brasil, Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC), Comissão Econômica e Social Europeia (CESE) e membros das embaixadas da Espanha, Reino Unido e França.

Crédito: Mylena Pereira/Comunicação CONAQ.

Por fim, é preciso pontuar que a organização do evento não esqueceu daquelas que já ancestralizaram. Inclusive, Selma Dealdina Mbaye foi certeira ao proferir as seguintes palavras: “As pessoas ameaçadas não podem ser o problema da situação. Por Dona Bernadete, por Chica e por tantas pessoas que tombaram na luta pela terra”.

O lançamento contou com a presença de aproximadamente 60 pessoas com foco em organizar e traçar o calendário de luta das mulheres quilombolas para o período de 2025 a 2027, com ênfase na mobilização e preparação para a segunda Marcha das Mulheres Negras. Este evento será realizado em Brasília no dia 25 de novembro e tem como foco mobilizar e reunir um milhão de mulheres negras e quilombolas de todo o Brasil.

O Comitê Quilombola da Marcha das Mulheres Negras é uma ação que visa garantir visibilidade às demandas específicas das mulheres quilombolas e reforçar a importância de sua participação ativa nas questões de reparação histórica, direitos territoriais e sociais. Contudo, é preciso lembrar sempre que: Toda mulher preta é um Quilombo.