coletivo Jurídico
Articulação, Diálogo e Resistência: A Trajetória do Coletivo Jurídico Joãozinho de Mangal
O Coletivo Jurídico Joãozinho do Mangal foi criado em meio às lutas quilombolas pela declaração de constitucionalidade do Decreto Federal nº 4.887/2003. Nos mais de 14 anos de batalhas da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas Quilombos (CONAQ) no Supremo Tribunal Federal (STF) pela constitucionalidade do Decreto nº 4887 de 20 de novembro de 2003.

Ao longo desses anos de intensa articulação política e jurídica, a CONAQ se uniu com organizações sociais para formar um grupo comprometido com métodos populares de trabalho das lutas jurídicas antirracistas. Reconhecendo que as demandas das comunidades quilombolas ultrapassaram o âmbito da ADI 3.239, e que seria importante articular a ação jurídica quilombola em âmbito nacional, a CONAQ decidiu, em 2016, constituir o Coletivo Jurídico. Este coletivo, apoiado por diversas organizações, redes e indivíduos parceiros, tem como objetivo fortalecer as lutas jurídicas quilombolas.
Desde a criação do Coletivo Jurídico, tem sido promovido encontros anuais, buscando-se desenvolver estratégias jurídicas e políticas que enfrentem e combatam as desigualdades e injustiças sistemáticas que paira sobre os povos quilombolas, fortalecendo a luta pela equidade e pelos direitos das comunidades quilombolas no Brasil.
O primeiro encontro ocorreu em setembro de 2016, articulado pela CONAQ, em decorrência das atividades voltadas para o julgamento da ADI nº 3.239 realizadas pela entidade.
No ano de 2018, o Coletivo foi nomeado para homenagear Joãozinho de Mangal, militante quilombola que dedicou sua vida à luta por justiça e liberdade nos quilombos, e que tragicamente faleceu em um acidente de carro enquanto cursava o último ano de Direito. João representava um projeto do movimento quilombola, formação e qualificação de profissionais quilombolas para impulsionar a resistência. O Coletivo Jurídico é composto por parceiros e parceiras de diversas organizações da sociedade civil, incluindo estudantes e bacharéis quilombolas em Direito, advogadas e advogados quilombolas e não-quilombolas, que atuam na assessoria jurídica popular sob a orientação política da CONAQ.
Em 2018, o segundo encontro ocorreu entre os dias 15 e 17 de abril, em Brasília/DF, na sede da CONAQ. O encontro foi marcado por discussões quanto à incidência jurídica do movimento quilombola no plano nacional e internacional, quanto às omissões do estado brasileiro, especialmente nas demandas de regularização dos territórios quilombolas e de violência nos conflitos fundiários.
Em 2019, entre os dias 18 a 20 de março, ocorreu o terceiro encontro do Coletivo Jurídico da CONAQ “Joãozinho do Mangal” que ocorreu no Instituto Boaventura em Brasília/DF. Diversos assuntos foram mencionado durante os dias do encontro, a discussão abrangeu importantes encaminhamentos relacionados a grandes projetos e questões agrárias, incluindo a articulação com o congresso e a frente ambientalista, além da necessidade de fortalecer a atuação na CIDH e sistematizar narrativas jurídicas que abordem violações de direitos humanos nos territórios quilombolas.
Além disso, foram discutidos temas relevantes como a situação das comunidades afetadas por usinas nucleares e a BR 135, destacando a importância de uma abordagem conjunta com órgãos como o CNDH e o MPF. Também se enfatizou a formação e capacitação, com o desenvolvimento de uma cartilha de direitos e cursos sobre violência e racismo. Por fim, a CONAQ propõe uma mobilização mais intensa para enfrentar ataques a comunidades quilombolas, coletando evidências e elaborando cartas de posicionamento para fortalecer sua luta e advocacy.
Em 2021, foi realizado, nos dias 31 de agosto, 01 e 14 de setembro, o encontro nacional virtual para membros participantes do coletivo, com o objetivo de debater o racismo nas instituições jurídicas. No primeiro dia, o evento aconteceu de forma aberta e foi transmitido pelos canais da Conaq, tendo como objetivo um debate público sobre racismo a partir do olhar do direito poderá ser acompanhado pelos internautas pelo canal do YouTube da CONAQ.
Estiveram presentes, a procuradora Dora Lúcia Bertúlio, o advogado e doutor em Direito Hédio Silva, a médica e diretora executiva da Anistia Internacional – Brasil Jurema Werneck, o cineasta Jeferson De e o ator César Mello de Araújo.
No segundo e no terceiro dias foram realizadas reuniões fechadas de trabalho do Coletivo. Dentre diversas temáticas, foram debatidos o cenário das lutas quilombolas nos temas: terra e território, ameaças por empreendimentos, direito à consulta, resistência frente à Covid-19, Cadastro Ambiental Rural, Gestão territorial e ambiental, criminalização e educação quilombola.
Em 2022, ocorreu o quarto encontro presencial do Coletivo jurídico da CONAQ “Joãozinho de Mangal”, em Brasília. O encontro aconteceu nos dias 11 e 12 de agosto, reunindo advogadas e advogados populares quilombolas, não quilombolas e organizações que atuam junto à pauta quilombola de vários Estados. já no primeiro dia, a discussão sobre a transversalidade das demandas quilombolas a partir dos eixos da regularização fundiária, segurança alimentar, CAR Quilombola e empreendimentos, Consulta Livre, Prévia e Informada, questões jurídicas e políticas. No segundo dia a discussão teve como foco os temas da saúde, educação escolar quilombola e questões estruturais do coletivo.
Em 2023, foi realizado o quinto encontro presencial que ocorreu em Brasília, nos dias 7 e 8 de novembro de 2023 e teve como objetivo discutir a conjuntura política e os desafios enfrentados pelas comunidades quilombolas.
No primeiro dia, as atividades começaram com a recepção e uma mística de abertura, seguidas de uma mesa de discussão sobre políticas públicas e direitos quilombolas, onde representantes da CONAQ abordaram temas como saúde, educação, regularização fundiária e criminalização de defensores de direitos humanos. Após o almoço, ocorreu uma roda de conversa sobre a atuação jurídica da CONAQ e de organizações parceiras, destacando desafios, estratégias e novas parcerias, especialmente em relação a temas ligados ao Joãozinho.
O segundo dia começou com a retomada dos encaminhamentos da reunião anterior, enfatizando a necessidade de sistematizar compromissos e a organicidade do grupo. Na parte da tarde, foi proposto construir uma ação conjunta entre as organizações e a CONAQ sobre temas prioritários, seguido de uma avaliação do encontro.
As discussões incluíram tópicos como ADPF 742, a caducidade de decretos de desapropriação, regulamentação do direito de consulta e incidência internacional, com coordenação e relatorias atribuídas a diferentes membros do coletivo. O evento culminou com uma reunião com o IPHAN sobre tombamento constitucional dos quilombos, buscando fortalecer a luta pelos direitos quilombolas e estabelecer parcerias estratégicas para o próximo ano.
Na 1ª edição da publicação Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, o Coletivo Jurídico Joãozinho de Mangal teve a oportunidade de redigir o capítulo intitulado “O Coletivo de Assessoria Jurídica Popular Joãozinho do Mangal: Enfrentando os Desafios da Luta pelos Territórios Quilombolas”.
Na 2ª edição da publicação Racismo e Violência contra Quilombos no Brasil, publicado em 2023 pela CONAQ e Terra de Direitos, o Coletivo Jurídico Joãozinho de Mangal teve a honra de redigir o capítulo intitulado “Antirracismo e Política Quilombola: A Luta do Coletivo de Assessoria Jurídica Joãozinho de Mangal”.
Esses textos narram parte da luta antirracista e da defesa dos direitos das comunidades quilombolas, destacando as experiências, desafios e conquistas ao longo de nossa trajetória. Com um enfoque nas articulações jurídicas e políticas, o coletivo busca evidenciar como o antirracismo é fundamental para a construção de uma política quilombola mais justa e eficaz.
Nesses quase oito anos de existência e resistência do nosso coletivo tem realizado diversas ações político-jurídica, atuando enquanto um espaço plural, fundamentado em um regime colaborativo e horizontal, que visa viabilizar diálogos e trocas de experiências entre todos que desejam dedicar seu tempo e conhecimento à luta pelos direitos das comunidades quilombolas.