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24 de janeiro de 2025

A luta e desafios da mulher quilombola pela justiça climática e socioambiental

Entenda os obstáculos impostos as ativistas que possuem conhecimento para o desenvolvimento sustentável em todo mundo

Com o crescimento acelerado das grandes potências ao redor do mundo, muito se fala da necessidade da criação e prática de políticas em prol do desenvolvimento sustentável inclusivo e responsável. E isto inclui não apenas aqueles que compoẽm o G20, mas também em países cujo os povos vulneráveis são frequentemente os mais afetadas pelos impactos das mudanças climáticas.

Tendo isso em mente é preciso ressaltar mais do que nunca o papel das mulheres quilombolas neste cenário. Isso porque elas são um elo determinante entre a preservação ambiental, a sustentabilidade e a defesa de direitos humanos em suas comunidades. Sem esquecer que por diversas gerações as mesmas têm desempenhado papeis centrais na gestão dos territórios onde vivem, lidando com os problemas climáticos e resistindo às pressões de exploração e degradação ambiental.

Aqui no Brasil, mesmo previsto em lei o direito aos seus territórios, a grande maioria das comunidades quilombolas são continuamente afetadas com invasões e racismo ambiental. No entanto, as lideranças que em boa parte são mulheres têm lidado com a situação de diversas formas. De acordo com Kátia Penha, Coordenadora nacional e diretora de projetos da CONAQ, elas vêm se mostrando resilientes, corajosas e determinadas para garantir a preservação de suas tradições e modos de vida através de:

  • Mobilização comunitária fortalecendo a cooperação e união entre os membros do quilombo e auxiliando na busca de apoio externo para enfrentar as violações de direitos;
  • Diálogo e negociação. Dois pontos fundamentais para estabelecer diálogo com os invasores e ou autoridades responsáveis com intuito de solucionar pacificamente conflitos territoriais;
  • Denúncia e visibilidade: Trazendo à público as violações sofridas, através das redes sociais, mídia local ou internacional, ou de parcerias com organizações da sociedade civil e instituições de defesa dos direitos humanos;
  • Ações legais: Recorrer às vias judiciais para defender os territórios, acionando órgãos competentes e buscando amparo na legislação vigente que protege as comunidades quilombolas;
  • Fortalecimento da identidade cultural: Realização de ações que valorizam e edificam os conhecimentos e práticas ancestrais do quilombo como forma de resistência ao racismo ambiental e como instrumento de empoderamento coletivo.

Em seus territórios, as mulheres quilombolas não apenas mantêm práticas tradicionais de manejo dos recursos naturais, mas também enfrentam desafios crescentes devido à intensificação de fenômenos climáticos extremos, como secas, inundações e deslizamentos de terra. Esses eventos não só ameaçam a segurança alimentar e hídrica de suas comunidades, mas também impactam diretamente sua saúde e bem-estar.

Créditos: Giba Marques

Contudo, estando na raiz de problemas tão graves que podem prejudicar de forma irreversível suas comunidades, eis a pergunta de um milhão: porque algumas líderes e ativistas não recebem lugar de fala e foco midiático em comparação a nomes já conhecidos?

Ainda segundo Kátia, muitas vezes as mesmas seguem desconhecidas nas redes sociais e em outros meios de comunicação devido a uma série de fatores estruturais e sistêmicos que perpetuam a invisibilidade e a marginalização das vozes negras, especialmente das mulheres no debate público sobre questões ambientais e climáticas. Alguns dos motivos que contribuem para essa falta de visibilidade são:

  • Racismo estrutural: Presente na sociedade afeta diretamente a forma como as vozes e perspectivas das ativistas negras são recebidas e valorizadas. Muitas vezes, as narrativas e demandas trazidas por elas são desconsideradas ou minimizadas em comparação com as de militantes brancas.
  • Sexismo e interseccionalidade: As mulheres de cor encaram diariamente não so o racismo, mas também formas de discriminação interseccional que tornam mais difícil seu reconhecimento em espaços de liderança e visibilidade.
  • Apropriação de pautas: Em diversos casos, as vozes das ativistas negras são apropriadas por organizações ou indivíduos não-negros, o que tende a contribuir para a invisibilização das mesmas que estão na linha de frente das lutas ambientais e climáticas.
  • Falta de recursos e apoio: Em inúmeras ocasiões as ativistas negras têm que ultrapassar barreiras para ter acesso a recursos, financiamento e apoio institucional que amplifique suas vozes e causas nas redes sociais e na mídia em geral.

“Para mudar esse cenário e garantir maior visibilidade e reconhecimento para nos ativistas negras nas pautas climáticas, é fundamental que haja um esforço coletivo para combater o racismo estrutural, valorizar a interseccionalidade das lutas, promover a representatividade nas mídias e apoiar ativamente as lideranças Quilombolas nos espaços de tomada de decisão e influência”, ressaltou a coordenadora.

Em meio aos inúmeros desastres climáticos que acontecem ao redor do planeta e tendem a prejudicar populações marginalizadas é chocante presenciar a sabedoria ancestral de mulheres quilombolas que podem oferecer soluções inovadoras que mitigam e adaptam aos efeitos das mudanças climáticas.

Seu conhecimento sobre o manejo da terra, o cultivo de variedades agrícolas resistentes e a conservação de recursos hídricos são recursos valiosos para enfrentar os desafios ambientais contemporâneos sem comprometer o equilíbrio ambiental. Sem esquecer de valorização dos conhecimentos, ideologias e resiliência para que haja um futuro mais justo e sustentável para todos.